SpaceX lança satélite-espião e gera imagens incríveis, em tempo real, do pouso do foguete!

Salvador Nogueira

Após interromper a contagem regressiva a 52 segundos da decolagem no domingo (30), por conta de uma leitura anômala num dos sensores do foguete Falcon 9, a empresa SpaceX promoveu nesta segunda-feira, às 8h15 (de Brasília), seu primeiro lançamento para o Departamento de Defesa dos EUA, quebrando o monopólio da empresa ULA (United Launch Alliance, uma joint-venture da Boeing e da Lockheed Martin).

A decolagem foi feita da plataforma 39A, no Centro Espacial Kennedy, da Nasa — histórico sítio de onde partiram as missões lunares Apollo e muitos dos voos dos ônibus espaciais.

A missão, designada apenas como NROL-76, pertence ao Escritório de Reconhecimento Nacional (National Reconnaissance Office), e tanto a função como o design do satélite, assim como sua órbita, são secretos. Por conta disso, a SpaceX não pôde sequer instalar câmeras no segundo estágio do foguete, nem transmitir o voo até a inserção orbital.

Foi contudo a melhor oportunidade para acompanhar o retorno à Terra do primeiro estágio do foguete, que aconteceu na zona de pouso 1 da SpaceX, em Cabo Canaveral. Ao contrário de outros lançamentos da empresa, essa recuperação não se deu numa balsa no oceano, o que permitiu acompanhar, de diversos ângulos e sem interrupções, toda a trajetória do foguete de volta ao solo.

Imagens transmitidas ao vivo do pouso do primeiro estágio, a 1 km do chão (Crédito: SpaceX)

A decisão de lançar nesta segunda-feira foi apertada, segundo Elon Musk, dono e projetista-chefe da SpaceX. “Decisão difícil, pois as mudanças de vento de alta altitude estavam a 98,6% do limite teórico de carga [do foguete]”, escreveu no Twitter. “Lançamento e pouso do satélite-espião do NRO foi bem.”

Com o novo sucesso, sobe para 10 o número de primeiros estágios recuperados pela SpaceX — um deles duas vezes, depois de realizar dois lançamentos distintos, separados por cerca de um ano. A ideia da empresa é que o reuso reduza fortemente o custo dos lançamentos espaciais. Um voo do Falcon 9 em modo “descartável” custa hoje US$ 62 milhões. Mas a empresa já oferece um desconto de cerca de 40% a quem queira fazer um lançamento em modo “recuperável”  (com retorno do primeiro estágio) e com um primeiro estágio usado (ou “testado em voo”, no jargão da companhia).

Segundo Musk, a versão final do primeiro estágio do Falcon 9, com pequenas atualizações, poderá fazer até 10 voos seguidos sem manutenção, só com reabastecimento, e até 100 voos ou mais com pequenas trocas de peças. O plano de longo prazo é reduzir a um centésimo o custo do voo espacial — tarefa necessária, ainda de acordo com Musk, para que a humanidade possa um dia estabelecer uma colônia em Marte.

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Comentários

  1. O que mais me impressionou depois do lançamento foi a falta de comentários anti-americanos aqui…

  2. Li, tem pouco tempo, que os gastos com combustível nas missões da Space X são só 0,3% do total. Diante disso, qual seria a desvantagem de um programa com “Big Dumb Boosters” (que não precisam ser necessariamente grandes nem desleixados)?

    Por exemplo, Paolo Nespoli, que voou na missão Soyuz TMA-20, disse que um elemento importante da vedação do orbitador da Soyuz era feita na base da cola! Ok, bem longe de propor pegar leve na segurança para voos tripulados, mas às vezes o padrão 15-sigma da NASA parece funcionar mais como intimidação que inspiração para agências novatas.

  3. Boa noite, Salvador! Espetacular mesmo, começou a virar rotina… Só espero que, quando o preço chegar a um centésimo do valor atual, os torcedores fanáticos de times de futebol (ou outro esporte) não vão inventar vaquinhas para lançar trambolhos com escudos dos times no espaço… kkkk, mas com a loucura que é característica da humanidade, é capaz de ocorrer! A sério, sabe qual a porcentagem do combustível do primeiro estágio que fica reservado para o controle da descida e pouso? Abraços e força firme com o blog MS!

    1. Carlos, eu torço para isso, na verdade! Ainda quero poder ver as primeiras partidas do campeonato lunar (ou marciano) de futebol! 🙂
      Sobre a porcentagem de combustível, é uma boa pergunta. Depende do perfil de voo, claro, cada carga útil ou órbita determina o quanto sobra e onde dá para pousar, se no centro de lançamento ou na balsa. Mas, claro, é preciso menos para descer do que para subir! Abraço!

      1. Só espero que não vão equipar os trambolhos com raios laser, kkk, um caçando ao outro… kkkk. Ou um ricaço lançando uma com a foto da amada pedindo em casamento… expansão de negócios! Elon Musk poderá ficar mais riquíssimo ainda… Em 1967, o Jornal de Tarde publicou contos de FC, em comemoração à missão Apolo 11. Em um deles, contava a história de uma partida de futebol na Lua entre o time azul, liderado pelos EUA, e o vermelho, pela antiga URSS. Terminou 0x0, mesmo porque era impossível controlar a bola eficientemente e por falta de treino, qualquer chute, sem a atmosfera para ajudar a frear e com a gravidade baixa, as bolas iam looongeee… e demoravam a voltar! Sobre a porcentagem do combustível, , estava a par dos fatores que citou, mas estava curioso para saber o valor… Agora, com os pousos liberados no prórpio Cabo Canaveral, eles terão que tomar cuidado com o que sobrar, pois, se acaso descambar e explodir, Musk terá que consertar a plataforma… bom, creio que isso não será problema para ele, kkk. Abração.

        1. Eles sabem bem se têm combustível para um retorno à plataforma. Aposto que não arriscam e vão com a balsa sempre que estiver em condição limítrofe. Até agora, a taxa de sucesso da SpaceX, a despeito das duas falhas do Falcon 9, é impressionante, para uma empresa com tão pouca experiência.

      1. Subiu muito, desceu e… não sobe mais! 😛

        Brincadeira… mas, se isso virar mania, haja poluição do espaço aéreo!

  4. Cara, o que foi essa decolagem/pouso ontem? Não dá para descrever o quão impressionante foi aquele momento. Eu fico imaginando quanto tempo de pesquisa para se realizar um pouso na vertical. O duro agora vai ser a espera pelo teste do _Falcon Heavy_ no final do ano.

  5. O que dirão os doidos da “terra plana”, após ver essas imagens !?!? rsrsrsrs…

    1. Dirão que é mentira, que a NASA mente, que somos manipulados, etc, etc. Pra eles, nada muda. Continuam sendo burros, ignorantes e imbecis, como sempre foram.

      1. E já apareceram aí uns dois ou três nos comentários para “abrilhantar” seu argumento. rs

  6. Salvador. Parabéns pelo site, aguardo sempre ansioso as suas publicações. Notei que após a separação do segundo estágio ele continua a subir ainda por bastante tempo antes de iniciar a descida. Só quando a velocidade volta a aumentar é que ele está descendo. Parabéns pelo excelente trabalho .

    1. Sim, é verdade. Outras pessoas apontaram que eu descrevi, logo após o disparo de retorno, que ele estava em queda livre, embora subindo. Mas é isso mesmo, “queda livre” é um estado que se define quando um corpo está apenas sob a ação da força gravitacional. Você pode estar subindo em queda livre! 🙂

      1. Realmente Salvador, é impressionante a velocidade que estes foguetes atingem. O segundo estágio se separa por volta da altitude de 74 km, e o primeiro estágio ainda sobe “em queda livre” até a altitude de 166 km antes da gravidade conseguir puxa-lo para baixo. Ele sobe mais em queda livre do que a altitude de separação do segundo estágio.

  7. É o Elon Musk “Sem Limites”.
    Muito em breve (2019), deverá ser inaugurado o primeiro hyperloop, o trem bala de verdade (1200 – 1500km/h).

  8. Informado de um feito desse, só um míope mental tentará negar a capacidade tecnológica que permitiu a façanha.

  9. Simplesmente incrível…espetacular !!!!!
    Parabéns pela transmissäo.
    Abraços e boa semana.
    Saudaçöes

  10. Realmente incrível. E mostra o progresso da tecnologia. Eles agora têm a confiança de pousar em terra, o que deve se tornar rotina, reduzindo ainda mais os custos do foguete.

    1. Pois é. Tá virando lugar comum. E, ao mesmo tempo, ver qualquer lançamento de concorrente em que o foguete vai pro lixo depois do voo. 😛

  11. Superlindo, maravilhoso, mas…..não seria mais prática e econômica a utilização de paraquedas, como faz a agencia espacial russa?

    1. A agência espacial russa não recupera foguetes, com ou sem para-quedas. A única coisa que ela recupera são as pequenas cápsulas — que vão no topo do foguete — levando os astronautas. A Nasa recuperava os propulsores auxiliares do ônibus espacial com para-quedas. Eles caíam no mar, mas o trabalho para resgatá-los lá e consertar os danos causados pelo impacto era tão grande que não compensava. Eles eram literalmente reconstruídos.

      Com uma descida propulsada como esta, não só você tem enorme controle sobre onde vai cair — o que reduz brutalmente os custos de resgate — como você causa muito menos danos pelo impacto com o solo ou o mar, facilitando o turnaround. Até hoje, só duas empresas conseguiram lançar e recuperar seus foguetes: a Blue Origin, que tem o pequenino New Shepard, suborbital, e a SpaceX, com o grandão Falcon 9. Desnecessário dizer que elas estão na frente de todo mundo, sobretudo a SpaceX, que faz lançamentos orbitais, onde o mercado é de bilhões de dólares. Mas a revolução que elas começaram não vai parar. A ULA, que acaba de perder o monopólio sobre lançamentos do DoD americano, promete que seu próximo foguete, o Vulcan, terá motores recuperáveis. E a Arianespace, francesa, também discute incluir alguma medida de reutilização em seu próximo lançador, o Ariane 6. Enfim, o mundo está mudando e, a essa altura, a redução do custo de acesso ao espaço é uma inevitabilidade, dada a trajetória da inovação.

      Tendo dito tudo isso, com suas cápsulas para astronautas, a SpaceX deve de início usar para-quedas, como os russos, mais por uma questão de segurança — para-quedas falham menos que foguetes. Mas a ideia é, futuramente, também descer as cápsulas com propulsão para reutilização, deixando os para-quedas apenas como um sistema de backup em caso de emergência.

      1. Isso sem falar na credibilidade que isso empresou à mais nova menina dos olhos do Musk, a Tesla houses. Se essas telhas fotoelétricas forem isso tudo que estão prometendo, esperem uma revolução cá em baixo, também (isto é, se não não embarreirarem a tecnologia com impostos e leis, claro)

      2. Desculpe a crítica (com objetivo construtivo), Salvador, mas nem todos sabemos o que seria ULA e DoD…

        Busquei no Google e achei:
        ULA = United Launch Alliance (Da Boeing e da Lockheed), entre outros muitos significados em português e em inglês.
        DoD = Department of Defense (do governo americano)

        Abraços! 🙂

        1. É isso aí. You got it. Desculpe aí pelas siglas jogadas… mas são comentários! Perdoe. 😛

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