Cassini faz as melhores imagens já obtidas da região polar Norte de Saturno
Na madrugada desta terça-feira (2), a espaçonave Cassini realiza seu segundo mergulho no estreito vão entre os anéis de Saturno e o próprio planeta, e os cientistas certamente devem estar ansiosos pelas novas observações. Na primeira passagem, no último dia 26, a sonda produziu as imagens mais espetaculares do misterioso polo Norte saturnino.
A equipe da Nasa certamente está bem ocupada com o ritmo frenético do “Grand Finale”, a derradeira etapa da missão, que termina em 15 de setembro, após 22 sobrevoos próximos de Saturno. Tanto que, depois de divulgar um trio de imagens “cruas” do primeiro deles, sem processamento algum, passaram dias sem colocar nada de novo no ar.
O Mensageiro Sideral começou a ficar angustiado com isso e decidiu fazer justiça — ou melhor, processamento de imagens — com as próprias mãos. E a essa altura, no começo do texto, você já teve um gostinho do resultado.
COMO A CASSINI TIRA FOTOS
Uma das críticas que alguns desavisados fizeram na semana passada sobre as imagens divulgadas pela Nasa é que elas não eram coloridas. O que eles não sabiam é que toda câmera digital, inclusive aquela do seu celular, só faz imagens em preto e branco. É isso mesmo. Só preto e branco. O truque que não deixa você perceber isso é que ela tira três fotos em preto e branco simultâneas: uma coleta as partículas de luz que têm comprimentos de onda próximos aos da cor vermelha, a segunda, das que se aproximam do verde, e a terceira, que estão próximas do azul.
E aí, num passe de mágica, ela combina as três imagens PB em uma única imagem colorida, aproximadamente nos mesmos tons que enxergamos, a partir das cores básicas vermelho, verde e azul (padrão conhecido pela sigla RGB, red-green-blue).
A Cassini funciona do mesmo jeito. Sua câmera de bordo, chamada ISS (Imaging Science Subsystem), tem duas configurações, de ângulo amplo e de ângulo estreito, e gera basicamente imagens PB a partir de uma série de filtros sensíveis a diferentes comprimentos de onda. Só que, enquanto a câmera do seu celular está satisfeita com três filtros, vermelho, verde e azul, os cientistas da Nasa queriam um pouco mais. Exatamente 26 a mais. São, ao todo, 29 filtros, com os mais variados objetivos científicos: alguns permitem enxergar através da névoa quase impenetrável da lua Titã, outros permitem enxergar ultravioleta (que nossos olhos não veem), outros infravermelho (idem), e a configuração mais simples é a “sem filtro nenhum”, ou seja, aí vai rolar um imagem PB mesmo, produzida por todas as partículas de luz que entrarem na câmera.
Certo, para brincar de processar as imagens “cruas” da sonda (que a Nasa publica integralmente assim que são recebidas da espaçonave aqui, para o desgosto dos teóricos da conspiração), eu precisava descobrir quais eram os filtros correspondentes aos clássicos RGB das nossas câmeras. Eu queria saber da Cassini que fotos eu poderia obter com o meu celular se estivesse viajando com ela. Após alguma pesquisa, descobri que eles figuram nas informações das imagens brutas com os códigos BL1 (para azul), GRN (verde) e RED (vermelho).
Em seguida, corri atrás de aprender como integrar as três imagens numa só, colorida, com um editor de imagens. Achei sem demora este excelente tutorial escrito por Emily Lakdawalla, da Planetary Society. E aí, uau.
O POLO NORTE DE SATURNO
É um espetáculo tão fascinante quanto bizarro — o planeta dos anéis tem bem sobre seu eixo de rotação uma corrente de ventos e nuvens que forma um imenso hexágono. Descoberto pela missão Voyager, em 1981, esse padrão nunca havia sido observado antes em planeta algum. Desde então, o fenômeno chegou a ser reproduzido em laboratório com experimentos de fluidos, o que ajuda a entender como pode ser verdade uma coisa dessas.
O hexágono de Saturno, contudo, é dinâmico, e o que a Cassini nos ofereceu ao longo dos últimos anos foi uma oportunidade de monitorá-lo de forma quase contínua nos últimos anos. Até 2009, tudo que a sonda podia fazer era colocar aqueles filtros obscuros para trabalhar e obter imagens de infravermelho do polo Norte, uma vez que era inverno por lá e o hexágono estava escondido o tempo todo do Sol — como nos polos da Terra, que passam por seis meses de escuridão e seis meses de luminosidade. Só que lá em Saturno o ano (o período de translação do planeta) dura 29 anos terrestres. Uma longa espera.
A Cassini aguardou, resistiu, prosperou e foi premiada. Desde 2009, vem monitorando o hexágono e já notou um efeito interessante: entre 2012 e 2016, ele foi gradualmente mudando de cor, saindo de um tom mais azulado, para um mais pálido, quase no mesmo tom bege que domina a maior parte do planeta. Os cientistas especulam que a transformação possa ter a ver com reações fotoquímicas. Conforme a luz do Sol começou a bater por lá, a composição da atmosfera sofreu alterações que levaram à mudança de cor. Mas ainda é preciso estudar mais a questão, e nesse sentido o “Grand Finale” veio a bem a calhar: em órbitas que fazem sobrevoos rasantes do planeta, a sonda conseguiu obter as imagens mais próximas já feitas do hexágono e do vórtice azul que reside em seu centro.
Na boa, são de tirar o fôlego. E tenha em mente que a Cassini é uma espaçonave que decolou em 1997, ou seja, isso é tecnologia de ponta da Nasa dos anos 1990. Nada mau.
E O QUE TEM DE RUIM?
Claro, não podíamos encerrar sem antes dar alguma coisa para os reclamões reclamarem, não é? Sempre tem alguma coisa. E, no caso, a má notícia é que as imagens colhidas pela Cassini em seu momento de máxima, máxima aproximação — a cerca de 3.000 km do topo das nuvens — serão PB raiz mesmo, e não esse PB nutella que podemos transformar em uma imagem colorida por processamento.
Entenda o problema: quando a sonda cola em Saturno, está viajando a inimagináveis 124 mil km/h. É cerca de cinco vezes mais rápido que um satélite em órbita da Terra, e 130 vezes mais rápido que um avião de passageiros. Aí tem dois desafios: o primeiro é que a perspectiva muda muito depressa para a espaçonave. Entre a câmera bater a primeira e a segunda foto, com filtros diferentes, a sonda já está sobre um pedaço diferente do planeta. E tem o segundo — e fatal — desafio: o tempo de exposição da câmera, ou seja, o quanto você a deixa aberta para receber as partículas de luz, precisa ser muito curto. Se não for assim, a imagem sairá um borrão puro. E, se o tempo for curto, vai entrar pouca luz na câmera. E se você começar a colocar filtros, escolhendo quais fótons você quer e quais não quer, é capaz de ficar sem nenhum.
Por tudo isso, as observações feitas em aproximação máxima serão colhidas no modo “sem filtro”, deixando todo e qualquer fóton que queira aparecer na foto entrar na câmera. E aí é PB mesmo, sem choro nem vela.
Se você, como eu, acha que esse é um pequeno preço a se pagar por uma missão como a Cassini, fique ligado. Os próximos meses devem trazer muito mais. Na primeira passagem do Grand Finale, a Nasa constatou que a quantidade de partículas dos anéis na região por onde transitou a sonda é bem mais baixa do que o esperado — eles chamaram a região de “o grande vazio”. E essa é uma ótima notícia. Significa que, para o sobrevoo desta terça-feira (2), a Cassini não precisará viajar usando a antena como escudo, o que permitirá maior flexibilidade para observações.
E assim vamos seguindo, enquanto nos encaminhamos para a agridoce conclusão da missão, em 15 de setembro.
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Salvador tá triste hoje, tricolor perdeu ontem….
Ahn? SPFC joga só dia 11, não?
também não sei do que ele está falando… http://www.saopaulofc.net/equipe/temporada/agenda-de-jogos/
Estou falando do verdadeiro tricolor. Perdeu ontem pela Libertadores. Salvador não reconhece, mas é gremista enrustido.
Meu negócio é ir de foguete, não a pé. 😛
Putz, só agora eu entendi a piada…. 😛
O mais emocionante para nós corinthiano, é que o time alvinegro será campeão paulista amanhã!
Salvador, assunto off-topic, mas fiquei intrigada:
https://petiscos.jp/quatroolho/sofia-epsilon-eridani-igual-sistema-solar/
Vai ter post?
Opa, Anne. Pois é, vi essa história e pensei seriamente em fazer post. Talvez renda a coluna de segunda. Hoje e amanhã estou atolado com o satélite geoestacionário brasileiro, que será lançado às 17h31 de quinta. Vou transmitir ao vivo por aqui! 🙂
Caraca! Vou sair do trabalho às 18h25 hoje. Mais uma vez vou ver só o replay. Espero que o lançamento ocorra sem problemas.
Em tempos de conectividade, vc precisa assistir ao vivo! rs.
ótima explicação para os chatos que insistem em reclamar das “imagens em preto e branco da NASA”.
a rigor uma imagem bem representada dos fótons captados deveria ser uma imagem “3D” em escala de cinza, com as coordenadas X e Y mais, para cada coordenada, um vetor com a intensidade de energia captada em cada faixa do espectro.
notem que, apesar das imagens até ficarem “mais bonitas”, quando ajustadas para nosso sistema visual elas têm na verdade pouco valor científico: nossas retinas captam apenas 3 faixas específicas do espectro luminoso, e nossos cérebros tentam localizar a faixa exata captada combinando as intensidades destas três faixas específicas, como informação de cor. normalmente (e quase sempre!) ele erra e feio ao fazer isto! especialmente quando interpreta cores que simplesmente não existem no espectro! (roxos, púrpuras e combinações completamente arbitrárias dos extremos visíveis, vermelho e azul)
por exemplo, existem dois “amarelos” diferentes, e normalmente não nos damos conta disso. um deles é o amarelo das TVs e monitores, que na verdade é gerado como combinação de verde e vermelho. o outro é o amarelo emitido pelo sódio (coloque um pouco de sal na chama do fogão para verem como ele se parece!)
são “cores” completamente diferentes: uma tem uma frequência bem definida numa faixa estreita do espectro, a outra é uma combinação de duas frequências, ambas se espalhando por uma faixa bem mais longa do espectro. mas nossos olhos são simplesmente incapazes de diferenciar uma da outra…
Na verdade, há dois conceitos diferentes que parecem estar sendo misturados: um conceito objetivo de “cor”, que pode ser explicado em frequência de onda; e um conceito subjetivo, que seria mais corretamente definido como ”percepção de cor”, que é como vemos o mundo.
Não me parece adequado dizer que o cérebro ”erra”, já que a coisa-em-si não pode ser conhecida por nós, apenas a percepção que temos dela (Kant). Se algo não é cognoscível (a APARÊNCIA da cor de uma frequência ‘x’), não podemos dizer que a interpretação que o cérebro faz dela é errada.
Mas sem dúvida é uma discussão interessante.
Tem razão. Quando digo que ele “erra” ao interpretar uma cor, estou pensando em termos puramente físicos, no sentido de descobrir a distribuição precisa de energia da luz ao longo do espectro visível. Mas logicamente ele nunca precisou evoluir a ponto de perceber tais detalhes. Fazer uma amostragem do espectro completo em apenas três frequências específicas já é suficiente para conseguirmos distinguir uma fruta verde de uma madura, e nisto nossos olhos cumprem muito bem sua função. 😀
Existe uma teoria de que algumas pessoas sejam tetracromatas, ou seja, possuem células capazes de captar diretamente cores entre a frequência do vermelho e do verde (vulgo AMARELO! :-D) . Porém verificou-se que, apesar de conseguirem VER quatro cores primárias distintas, a maioria esmagadora não consegue INTERPRETÁ-LAS. Isto é, possuem o “hardware”, mas não o “software” instalado no cérebro… 😀
Sim, você viu as cores (sem trocadilho, plis) por uma óptica (de novo) física, e eu por uma óptica filosófico-psicológica.
Muito interessante essa teoria…. será que é possível desenvolver essa capacidade? E se for possível, seria possível ver além do espectro que vemos hoje?
então, quando disse que algumas pessoas têm o “hardware” mas não o “software” para captar cores usando esta frequência a mais, quis dizer que, apesar delas terem células que captam o amarelo, sua retina percebe na mesma forma que percebe o verde (a substância receptora é muito parecida, e o organismo aproveita uma estrutura já existente previamente). talvez se desenvolva em mutações posteriores, caso esta característica nova se torne interessante para a espécie. agora, aprender a decodificar a cor primária nova em novas combinações de cores, já acho mais difícil. o interessante é que, como este gene mutante capaz de captar o amarelo está presente no cromossomo X, as mulheres são as que apresentam maior probabilidade de ter esta percepção especial de cores (já que elas possuem um par deles… 😀 )
quanto a expandir o espectro visível, alguns experimentos já foram feitos com dietas ricas em caroteno na esperança de desenvolver a visão noturna (sensibilidade maior ao infravermelho próximo)
já na outra ponta do espectro, uma cirurgia antiga para eliminar a catarata senil consistia em remover completamente o cristalino. isto eliminaria um filtro natural de raios ultravioletas que possuímos, e a pessoa submetida a ela teria certa capacidade de enxergar parte deste pedaço do espectro luminoso (com danos severos à visão, obviamente…) acredita-se que o pintor Claude Monet, submetido a tal cirurgia, possuía a capacidade de enxergar a “cor” ultravioleta, algo que se via nos seus últimos quadros: http://www.megacurioso.com.br/ilustracao-e-pintura/22408-claude-monet-tinha-visao-ultravioleta.htm
sem querer me prolongar no assunto, mas já me prolongando (hehehehe), a maneira como percebemos as cores pode ser ainda mais complicada do que pensamos.
na década de 50, Edward Land (inventor da câmera polaroid) descobriu acidentalmente, enquanto pesquisava combinações de cores para uma versão colorida de suas fotos, que a simples combinação de uma imagem em tons de vermelho com uma imagem em preto e branco era suficiente para dar uma boa ilusão de cores reais. ou seja, a princípio seríamos capazes de ver em cores (com menos riqueza, lógico) se tivéssemos apenas bastonetes (responsáveis por perceber luminosidade, em preto e branco) e cones receptores de vermelho. os receptores de verde e azul serviriam assim apenas para tornar nossa percepção de cores, digamos, mais rica, mas não seriam indispensáveis para enxergarmos as cores da maior parte do espectro visível.
aqui tem uma boa explicação e exemplos do fenômeno, para quem se interessar (está em inglês!):
http://www.wendycarlos.com/colorvis/color.html#discovery
pra finalizar, eis aqui o melhor exemplo que achei do efeito. a imagem final, acreditem ou não, não é totalmente colorida (RGB), mas formada apenas de preto-branco (com tons de cinza) e vermelho. verdes, azuis e amarelo que juramos ver nela são consequência da forma que nosso sistema visual interpreta variações nas linhas próximas. quem não acreditar, basta dar um bom zoom na imagem para comprovar este fato!
http://www.wendycarlos.com/colorvis/merging.gif
E eu ainda coloco um pouco mais de lenha nessa fogueira, por ser daltônico.
A minha percepção de cor certamente é completamente diferente de uma pessoa normal, mas fugindo da questão imediata (“que cor você está vendo aqui?”), isso abre duas questões que julgo bem importantes:
— nosso mundo é percebido de forma diferente, com certeza; eu vejo menos nuances, e talvez perca a beleza de uma flor e não encontre uma fruta madura no pé. Mas isso não me faz falta, pois eu não sei como é ser “normal”. E não vivo nas cavernas, a ponto de ter que coletar para sobreviver (ou ver uma cobra no caminho). Mas já comprei roupas horrorosas —
não para mim, óbvio — e dependo muito de alguém para não ficar no “camisa branca/calça jeans”.
— tenho a impressão que desenvolvi algumas capacidades indutivas um pouco diferentes dos “normais”, dentro daquela linha absolutamente lógica de que o cérebro se adapta às condições a que ele é submetido! Vejam bem: estou dizendo diferentes, não melhores ou piores.
E finalmente: descambei para o off topic, mas obrigado pela discussão!
Senhores leitores aqui! Venho esclarecer de imediato que, as cores utilizadas em todas as tecnologias desde um monitor de computador até câmeras sofisticadas foram desenvolvidas no laboratório pelos engenheiros e físicos há muito tempo atrás e largamente utilizados como na editoração de imagens (vide link baseado no Fotoshop pelo Salvador) . Sumamente o conceito técnico é baseado num conjunto de tríades (RGB) que um componente eletrônico consegue produzir imagens através da sub-combinação de 255 cores (255 X 255 X 255 = 16.581.375 total de cores) que um monitor de tubo pode oferecer com alta definição. Os monitores de led já não oferecem tanta qualidade assim, aproxadamente 50.000 cores, e o celular muito menos.
bom, para este tipo de coisa, sempre podemos recorrer a recursos corretivos tecnológicos, né? 🙂 já ouviu falar destes óculos? teria vontade de experimentar? 😀 https://tecnoblog.net/113540/oculos-corrige-daltonismo/
MC, e de fato a teoria da evolução de darwin diz que, se a capacidade de perceber cores deixar de ser importante para nós, nossa espécie poderá, pouco a pouco, perdê-la, e talvez daqui a uns 50 ou 100 mil anos todos nós nos tornemos dicromatas (daltônicos). a natureza é econômica, não faz muito sentido para ela manter um aparato de percepção complexo se ele não é utilizado, não dá vantagem evolutiva para a espécie…
Até lá somos capazes de manipular o nosso próprio DNA moldando a nossa estrutura física, e até mesmo saberemos o destino da nossa vida após a morte através do aparelho ultra sensível!
David, esses óculos são um sonho de consumo. Mas confesso que não sei o que eu sentiria se experimentasse… e se eu descobrisse que perdi 54 anos vendo a vida descolorida??? :p
versão mais nítida, para monitores grandes: http://www.wendycarlos.com/colorvis/gridbig.gif
e a propósito, estou muito curioso para saber como um daltônico percebe este efeito Land. Seu daltonismo é o mais comum, que afeta a percepção do verde? então acho que vc consegue perceber tanto a camada em preto e brando quanto a vermelha da imagem que enviei. e então, apesar do daltonismo esta ilusão te dá a capacidade de perceber cores que não perceberia normalmente? 🙂
Que baita debate acabamos gerando, hein? 🙂
Você é da área de ciências biológicas, David? (pronuncio “davi” ou “dêividi”?).
Impossível não ficar absurdamente curioso com a informação de que Monet via cores além das que vemos! Se antes de eu saber isso ele já era meu pintor preferido, imagine agora….
MC, uma pergunta pessoal, se não te importas…. como você descobriu que é daltônico? Sei que existem testes, mas você já desconfiava?
Tudo que sei até o momento é que parece não haver daltônicos idênticos; parece que temos graus diferentes.
Pela genética, os filhos homens (meus irmãos) teriam 50% de serem daltônicos. Somos 3, deu 2 a 1 para o time daltônico. Mas sempre tive a impressão que meu irmão mais velho é “menos” daltônico que eu, pois ele parece perceber melhor alguns tons. Mesmo em testes de Ishihara eu não vejo nenhum, e ele vê alguns.
Acho que tenho deficiência dupla, pois tenho dificuldades com o vermelho e com o verde (e com verde/marron/cinza, e com azul e roxo, e com amarelo e verde claro — mas acho que são variações do mesmo tema: vide RGB). Ainda há a influência do tamanho do objeto (as estrelas, para mim são apenas pontos brilhantes; marte é da mesma cor que vênus), e do contraste da cor com outros objetos. Assim, eventualmente eu cravo VERMELHO em uma roupa em um dado momento, mas já presenciei jogos em que os times tinham uniformes um vermelho, e outro verde, em que eu simplesmente não entendi nada do jogo.
Enfim, como envolve percepção, é algo muito pessoal, portanto de difícil definição. Gosto muito de comparar com o SABOR das coisas. Adoro chocolate, mas quem me garante que o sabor que sinto é o mesmo que o seu? E se eu for também “daltônico de gosto”??? Será que é por isso que eu como quase tudo (vide a “barriguinha, hehehe)???
BTW, já respondo uma pergunta recorrente: sim, eu dirijo, e vou pela posição dos semáforos; e sim, há os invertidos e me sacaneiam!
Opa! E sobre a imagem… o link tava quebrado, mas achei o artigo.
Vejo cores, mas não sei quais são. A imagem original do artigo (em RGB) é mais colorida (sei lá se posso definir como “viva”), já a imagem trabalhada parece mais fosca, mas não me pergunte quais cores estão ali. Parece haver vermelho, azul, bege, marron e cinza (nos recipientes). Os outros objetos são apenas objetos, as cores não me ocorrem (cor de metal, cor de metal enferrujado, etc — pra quê saber a cor disso???). E mesmo o azul, na verdade, pode ser roxo, pois ambos são (sempre foram — já comprei meias roxas) iguais. Como o roxo é azul + vermelho, fica clara a minha dificuldade com o R.
Aliás, sou melhor em definir as cores pelos bytes RGB que com o visual da cor, hehehe…
Embolei tudo. Percebe a dificuldade em definir cores???
Perna, descobri de maneira bem prosaica… mãe e tia antigas, costurando. Menino brincando em volta delas. Lembrando que meu avô era daltônico (e pintor/pedreiro!). Logo, sem conhecimento de genética, minha mãe pelo menos sabia que era “de família”. E meu irmão mais velho já dava sinais de se confundir com cores.
— Menino! Pega essa linha vermelha pra mãe.
— Pega todos os botões roxos dessa caixa e separa pra tia!
Quando o menino entregava a linha marron ou os botões azuis, elas foram juntando os pontinhos…
Não, Perna. eu trabalho na área de informática, e atualmente também estou cursando graduação em Física. A parte das Biológicas é só curiosidade mesmo!! (apesar da própria física ajudar muito a entender alguns fenômenos de ciências biológicas…)
MC, concordo com esta premissa de que não temos como saber qual a percepção do outro, e isto os impossibilita de fazer comparações. mas por outro lado, também me apoio bastante no fato de que a natureza não costuma desperdiçar nada, e incluo nisto a maneira como percebemos nossas sensações, os circuitos neuronais envolvidos na percepção de imagens, cores, sons, sabores, etc… e considero os processos cerebrais (posso estar errado, mas tenho uma boa probabilidade de ter razão quanto a isto) também totalmente condicionados a processos biológicos, determinados por nossos DNAs. deficiências como o daltonismo, por exemplo, acredito estarem também condicionados a processos semelhantes aos de visão “normal”. percebam as aspas! 🙂 assim parte do processo completo estaria comprometido (a captação de cores por determinados tipos específicos de células na retina). mas desta etapa em diante, o processo de percepção seria exatamente o mesmo de uma pessoa “normal” na qual uma parte da informação foi eliminada. assim acredito conseguir imaginar sim como daltônicos percebem as imagens, e daí vem minha curiosidade em saber se o efeito Land era percebível para daltônicos. Já que eles são capazes de perceber toda a informação necessária para ela (perceber vermelho e tons de cinza), e daí em diante o processo é o mesmo. bom, mas vc deixou claro que tem deficiência para o vermelho, então provavelmente isto joga toda a ilusão por água abaixo… 🙁
Salvador, lembro de você dizendo não ser tão pessimista quanto nosso futuro. Tem certeza que não mudou de ideia? 😛
A raça humana não tem tudo pra dar errado no longo prazo?
Nah. A raça humana é ótima. Tem seus maus momentos, como todo ser humano individual, mas na média é uma vida que vale a pena ser vivida. 😉
Concordo. A Humanidade caminha pra frente. Basta olhar como era o mundo no passado, como o ser humano pensava no passado, e veremos que estamos no caminho certo.
Há apenas ~100-150 anos era aceitável uma guerra para fins de simples conquista de territórios – e foi normal e incentivado por toda a História até então. Hoje parece algo inaceitável, exceto para alguns ditadores.
Há apenas 200~500 anos era aceitável que homens escravizassem outros homens (e mulheres, e crianças) e os vendessem como mercadorias.
Ainda no século passado era comum em muitos lugares a prisão civil por dívida (uma atrocidade contra a liberdade que infelizmente ainda hoje deixa seu vestígio em nosso Ordenamento a macular nossa suposta democracia).
Tenhamos fé. Estamos aqui para nos aprimorar, devagarinho vamos conseguindo.
o problema não é a raça humana. o problema são humanos específicos, que têm o poder de decidir por todos os outros… 🙁
Pergunta: Cassini vai cair no grande final e por decisão do projeto ou por atração incondicional?
Por decisão do projeto. Para encerrar a missão sem arriscar contaminar as luas habitáveis de Saturno e ainda por cima fazendo ciência inédita, que só poderia ser feita nessas órbitas.
Salvador, surgiu uma dúvida:
As luas de Saturno possivelmente habitáveis seriam Encélado e Titä.
A Cassini transportava a sonda Huygens que aterrisou em Titä em jan/2005.
O fato da Huygens ter pousado na referida lua, já näo poderia ter contaminado?
Segundo informaçöes da JPL a bateria da sonda funcionou por pouco mais de uma hora após o pouso.
Você tem informaçöes se este pouso em Titä nos trouxe informaçöes relevantes ou fotos?
Obrigado e parabéns pelo teu trabalho maravilhoso.
Saudaçöes
Opa, o pouso trouxe muitas informações relevantes E fotos. Recomendo estes meus textos velhos:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1501200501.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1501200502.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2201200501.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0112200503.htm
Para imagens da Huygens, nada melhor que o site da ESA:
http://www.esa.int/spaceinimages/Missions/Cassini-Huygens/(class)/image?mission=Cassini-Huygens&type=I
Sobre risco de contaminação, a Huygens foi esterilizada, a Cassini não. 😉
e eu só lamento não terem feio a Huygens com rodinhas para tirar fotos de outros pontos de vista da superfície. bom, não dá para ter tudo, né? 🙂
Ops…mas caindo no planeta não irá contamina-lo???
Não. Ela queimará por completo na atmosfera, sem risco de contaminação (e ninguém está esperando vida como a conhecemos proliferando em Saturno, então a contaminação lá é irrelevante).
Mesmo que houvesse vida como a conhecemos em Saturno – quaisquer microorganismos eventualmente existentes na Cassini queimariam na densa atmosfera saturnina na entrada, não?
Sim!
se ainda não estiver devidamente esterilizada, a queima ao reentrar na atmosfera de saturno deve eliminar qualquer possibilidade de contaminação que pudesse ter restado na sonda. 🙂
Atração incondicional. Saturno é irresistível. A Cassini será arrebatada por seu charme atraente.
Muito legal a sua edição das imagens. Podemos nos imaginar sobrevoando Saturno e vendo coisas que nenhuma geração jamais viu. Cassini, “boldly going where no probe has gone before .”
🙂
Essa linha é das Voyager 🙂
Cara, parabéns e obrigado por trazer a imagem em cores! Belo trabalho.
Valeu!
Fala mensageiros! Pra quem ficou curioso com o hexágono em Saturno, tem a série “The Code”
na Netflix, onde num episódio, é explicado como formas geométricas são formadas na natureza, principalmente o hexágono *spoiler* – a natureza sempre encontra o caminho mais fácil. Parabéns pela iniciativa e obrigado por compartilhar seu aprendizado, Salvador.
Boa dica, Fernando! Abraço!
Prezado Salvador,
acho que sua explicação sobre método de fotografia está bem clara, como astronomo que é, não deveria ficar se repetindo com pessoas que não querem ouvir ou querem saber mais do que o apropriado para o assunto, afinal, estamos numa coluna de astronomia e não fotografia.
Mas gostaria de saber se é possível um pouso seguro na lua Europa ou Titã para uma melhor investigação e se a NASA tem planos para elas.
Valeu cara…
Estou lendo sempre sua coluna.
Olá, Paulo. É possível sim. A Nasa trabalha com um projeto para um pouso em Europa, para o fim da década de 2020. Trump tentou cancelar, mas o Congresso provavelmente não vai deixar. Sobre Titã, já houve um pouso — da sonda Huygens, que acompanhou a Cassini. Não há novos planos no momento. Abraço!
Bom dia, SN. Ainda te leio. Não perco uma coluna. O Carl Sagan falou já no “Pálido Ponto Azul” sobre pousar em Titã e possivelmente descobrir lá uma “lama” primordial chamada tholin que seria o ingrediente para a formação de cadeias orgâncias. Abraço.
Sim, os tholins são a joça que se forma pela fotólise de metano e etano na atmosfera de Titã, gerando a névoa alaranjada. Foram primeiro descobertos em laboratório (em experimentos realizados pelo próprio Sagan simulando a atmosfera de Titã), e confirmados pela Cassini e pela Huygens. 😉
Abraço!
Diferente da colocação do colega, eu aprecio todas as abordagens do Salvador, inclusive explicações sobre captação de imagens.
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena!” 😉
Ao comentar a matéria, antes de mais nada devemos respeitar o profissional que lida com diversos tipos de leitores, vai desde um curioso até um experiente astrofísico.
Sem falar que o próprio profissional, no caso, se considera um curioso. rs
A abordagem multidisciplinar como é este caso, sempre enriquece o leitor e acrescenta informações que por vezes sequer foram aprendidas anteriormente. O importante é manter a mente aberta para digerir quantos assuntos estiverem presentes no post. Se o colega só consegue absorver um assunto por vez, paciência. Nós que somos extremamente curiosos incentivamos o Salvador a fazer sempre posts mais explicativos possíveis. Assim nosso conhecimento vai evoluindo muito mais rápido. Vamos ficar muito bem informado bem mais antes.