No Universo, tem para todo mundo
A coisa mais bonita que o estudo dos planetas fora do Sistema Solar está mostrando é a incrível criatividade da natureza. Existem incontáveis arquiteturas possíveis para um sistema planetário, e algumas delas são tão radicalmente diferentes que ousamos imaginar que a nossa família solar possa ser algo como uma raridade.
Nada, contudo, poderia estar mais longe da verdade. Com efeito, astrônomos têm estudado um sistema planetário vizinho que lembra muito o nosso próprio — só que em sua juventude.
Estamos falando de Epsilon Eridani, uma estrela só um cadinho menor que o Sol (80% da massa do Sol, tipo K) a 10,5 anos-luz daqui. Sua idade é estimada em algo ao redor de 500 milhões de anos, contra 4,6 bilhões do Sol.
Ela abriga um dos exoplanetas mais antigos conhecidos. Epsilon Eridani b (também chamado de AEgir pela União Astronômica Internacional) foi descoberto em 2000 e lembra muito o nosso bom e velho Júpiter. AEgir completa uma volta em torno da estrela a cada 7 anos, aproximadamente. (Júpiter, por aqui, leva 12 anos para contornar o Sol.)
O que torna esse sistema ainda mais reminiscente do nosso, entretanto, é a detecção de um cinturão de asteroides similar ao nosso, circunscrito pela órbita do planeta gigante. A descoberta foi confirmada em um novo estudo, publicado no “Astronomical Journal”.
O trabalho, realizado por astrônomos americanos e alemães, lançou mão do SOFIA, o Observatório Estratosférico para Astronomia de Infravermelho, uma parceria da Nasa com a agência espacial alemã, DLR. Trata-se de um avião Boeing 747SP modificado para carregar um telescópio com abertura de 2,5 metros — similar à do Hubble. A 15 mil metros de altitude, ele não chega a se livrar de toda a interferência que a atmosfera terrestre causa às observações, mas já deixa para trás um bom bocado.
Com ele, os astrônomos puderam determinar que a configuração mais provável para o sistema é que ele tenha três cinturões de pequenos objetos — um interno à órbita de AEgir, outro a uma distância que, no nosso Sistema Solar, seria na faixa de Urano, e um terceiro, mais afastado, feito mais de gelo do que de rocha (a exemplo do nosso cinturão de Kuiper).
Moral da história: eis aí uma arquitetura que lembra muito a do nosso sistema! Nada impede, por exemplo, que existam planetas rochosos, quiçá habitáveis, na região mais interna.
E o mais interessante é que o estudo parece reforçar uma ligação entre a presença de planetas gigantes gasosos como Júpiter e cinturões de detritos próximos. (Muitos modelos de formação planetária inspirados pelo Sistema Solar sugeriam que tanto o tamanho diminuto de Marte quanto a ausência de um planeta onde existe o cinturão de asteroides seriam reflexo da poderosa influência gravitacional joviana na região.)
Talvez cada Júpiter clássico lá fora acabe tendo seu cinturão de asteroides associado. Mas ainda é cedo para cravar. Com efeito, se isso estiver correto, os astrônomos lançam uma predição. Como Epsilon Eridani parece ter dois cinturões de asteroides, eles propõem a existência de um planeta gigante mais externo — até hoje não descoberto — que explique o fenômeno. E também imaginam que deva haver um equivalente do nosso Netuno para delimitar a fronteira do cinturão de Kuiper por lá.
“Nós não o detectamos ainda, mas eu ficaria surpreso se eles não estiverem lá”, disse em nota Massimo Marengo, da Universidade Estadual do Iowa, um dos participantes do estudo. “Vê-los provavelmente exigirá o uso de instrumentação de próxima geração, talvez o Telescópio Espacial James Webb, de 6,5 metros, que deve ser lançado em outubro de 2018.”
O estudo de Epsilon Eridani ajuda a quebrar um pouco o viés de observação gerado pelas técnicas de descoberta de planetas. Elas em geral favorecem a detecção de mundos com órbitas curtas e alta massa, o que nos levou a descobrir muitos sistemas diferentes do nosso — com órbitas compactas e por vezes com os famosos Hot Jupiters, planetas gigantes que orbitam muito próximos a suas estrelas.
A despeito disso ,o fato de encontrarmos um sistema infante a meros 10,5 anos-luz de distância que tem características muito similares às da família solar são evidência convincente de que o contexto de formação da Terra no Universo não seguiu nenhuma rota bizarra ou peculiar. Em meio à maravilhosa variedade do Universo, tem para todo mundo.
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Uma coisa que me impressionou, ao ver a foto do avião no site da Folha e de novo aqui, é o quão cara e sofisticada a Astronomia está se tornando… O Hubble custou bilhões de dólares e está lá há anos, à disposição. No caso desse avião, o custo é de mais de cem milhões de dólares fora as modificações, o equipamento… e fico imaginando o custo de um voo de observação.
É dinheiro muito bem investido, que provoca o surgimento de novas tecnologias para solucionar as dificuldades que surgem para fazer esses equipamentos, tecnologia esta que, logo em seguida, fica à disposição da humanidade.
E o mais interessante é que a Astronomia é algo ao alcance de todos, basta ter olhos para olhar o céu à noite. Ou um pequeno binóculo, e, de degrau em degrau, chegaremos ao James Webb. Fascinante!
E o legal é ver como isso reverte em qualidade de vida na Terra. Tem gente que faz aquela falsa distinção entre dinheiro para isso/dinheiro para aquilo, mas dinheiro em pesquisa e desenvolvimento acaba sempre gerando spinoffs positivos, não importa a área de pesquisa básica. Quem diria que terminaríamos com WWW fazendo aceleradores de partículas, e terminaríamos com o laser estudando as propriedades quânticas da luz em laboratório?
Salvador, estes ‘achados’ (ou achismos?) são baseados em observações indiretas, como oscilação gravitacional e obstrução da luz das estrelas, correto? Tu acredita que com equipamentos muito mais potentes e sofisticados, como o James Webb que será lançado em breve,no futuro será possível termos mais observações diretas destes sistemas planetários exóticos?
Antonio. São indiretos, mas não são achismos. Até porque uma técnica corrobora a outra para confirmar, e os cientistas distinguem muito claramente “planetas” (confirmados) de “candidatos a planeta” (sub judice). Tendo dito isso, já temos câmeras em telescópios atuais, como a Sphere e a GPI, que observam diretamente planetas (só que eles precisam ser jovens, grandes e afastados da estrela, o que é ótimo, por preenche de outra maneira o viés que temos para encontrar apenas planetas em órbitas curtas). O James Webb avançará no estudo desses planetas, em alguns casos permitindo a detecção direta, e futuros telescópios devem fazer ainda mais. Um futuro telescópio espacial em pauta na Nasa, que deve fazer parte dos planos da agência para a década de 2030, permitiria ver diretamente a luz de um planeta como a Terra numa órbita como a da Terra ao redor de uma estrela como o Sol.
Boa noite Salvador!
Por favor, informe se existe site ou sites dos observatórios que permitam acessos para ver online e real time o que os pesquisadores estão buscando?
Muito obrigado e um grande abraço.
Que eu saiba não. E é natural que seja assim, uma vez que astrônomos não querem ceder a pesquisadores rivais suas observações, antes que eles mesmos possam vê-las.
O que existe é um site chamado Slooh.com, que é uma comunidade de astrônomos amadores que opera alguns telescópios e aí você pode, se for membro (mediante um dindim mensal), acompanhar o feed dos telescópios.
Abraço!
Por que não encontramos um planeta exatamente igual a Terra até agora. ? Acho estranho porque estamos já com mais de 4000 planetas mapeados e nada. Por enquanto , pelo calculo das probabilidades, 0/4000 é igual a zero.Já podemos assumir que o planeta exatamente gêmeo dificilmente será encontrado?
Piccareta Espertini
Na verdade, já chegamos tão perto quanto possível com nossa tecnologia. O Kepler estava limitado a planetas com 1,4 raios terrestres em órbitas iguais à da Terra ao redor de estrelas similares ao Sol. E foi exatamente isso que achamos: o Kepler-452b tem 1,5 raio terrestre (o que faz dele, provavelmente, rochoso como a Terra), completa uma volta a cada 385 dias (versus a nossa, 365 dias) e orbita uma estrela tipo G, com 1,03 massa solar. Lembre-se, contudo, que o Kepler só podia detectar planetas pelo método do trânsito, que exige um alinhamento quase perfeito entre o sistema e nosso ponto de observação aqui na Terra. Para cada sistema que o Kepler detectou, há cerca de 20 iguais que ele não pegou só por conta dessa inclinação desfavorável. Ou seja, só pelo Kepler-452b podemos estimar 20 “Terras nas condições da Terra”, só entre as estrelas próximas e num cantinho de céu entre as constelações de Cisne e Lira.
Contudo, a amostra do Kepler é ainda mais generosa, porque nos fornece dados estatísticos que permitem extrair os vieses de observação. Ele pode, por exemplo, observar estrelas com o diâmetro da Terra ou até menores em órbitas mais curtas, ou em torno de estrelas menores que o Sol. Ao descontar esses vieses, podemos calcular quantos sistemas tipo Sol devem ter planetas tipo Terra em órbitas tipo Terra, e o cálculo é assustadoramente positivo: com uma faixa de “zona habitável” mais generosa, 1 em cada 5 estrelas, e numa faixa mais rigorosa, 1 em cada 20 estrelas. As estrelas similares ao Sol (a famosa faixa KGF, que engloba as um pouco menores e um pouco maiores) respondem por cerca de 25% das estrelas da Via Láctea. Isso implica no mínimo 25 bilhões de estrelas, das quais mais de 1 bilhão devem ter virtuais gêmeos terrestres.
Então, o raciocínio é o inverso do seu. Com todos os vieses de observação, descobrimos cerca de 4.000 exoplanetas, dos quais alguns já chegam muito, muito perto de ser gêmeos terrestres. E fazendo o cálculo estatístico e descontando todos os vieses, podemos afirmar com toda certeza que há muitos, muitos mesmo, gêmeos terrestres (em termos de massa, volume, distância ao sol, órbita e nível de radiação).
Assustador. Como você mesmo comentou Salvador.
A possibilidade da vida estar esparramada – intensamente – pelo Universo é algo arrepiante. Chego a pensar que dificilmente encontraremos sistemas planetários sem qualquer tipo de vida. Ou seja: há tanta vida por aí a fora que, igual aqui na Terra, não conseguiremos dar um passo sem tropeçar em alguma.
Se encontrarmos vida em Europa ou Encélado, ou mesmo em Marte, é certo que vai ter vida em tudo quanto é canto. Vida complexa e inteligente são outros 500. Mas claro que a chance aumenta com o número de instâncias de vida.
Interessante esta probabilidade 0/4000 se levar em consideração a teoria da evolução de Darwin ao pé da letra é claro, pois no Universo observável parece-me que não tem nenhum planeta que se encaixaria como sendo o “homo sapiens” ou o ponto de transição entre inabitável e habitável com vida se desenvolvendo, pois assim como a teoria afirma que na Terra ouve esta evolução, tbm teria que haver este mesmo principio em maior escala no Universo é claro, porem onde está???????? Talvez a inexistência de outro planeta caminhando para ser o que somos hj prove justamente que algumas afirmações sobre o processo evolutivo não estão corretas. Pois o processo evolutivo na Terra teria que estar sujeito e em harmonia e em escala a Lei do processo evolutivo no Universo.
Só para começar a segunda feira!!!!!
O que eu quero dizer é que só pode existir evolução onde tem criação, nunca o contrário, evolução não cria, apenas é um estado de transformação ou aprimoramento da espécie, porém sem o ato da criação nunca existiria evolução. Vc pode ver evolução sem vida, como sugere os planetas ou estrelas que nascem e outras morrem porem nada de vida. O ciclo do Universo vemos esta expansão e transformação porem nada de vida como a conhecemos. É como a água em seus 3 estados: solido, liquido e gasoso, se não houver um ato de criação, claro me refiro ao Criador, criando os peixes e toda a vegetação isto é que chamamos de início ou start nunca haverá nada além de apenas água em 3 estados, não importa em qual planeta e nem em qual galáxia sem o ato criador será apenas agua sem vida. A ciência deve demorar para entender que qualquer processo evolutivo é um desdobramento de um ato criador, vão achar ainda muito planeta rochoso, gasoso, água congelada, mas sempre sem a vida como conhecemos porquê? Porque Vida como a conhecemos é consequência e resultado de um Criador e nunca de um processo evolutivo. Talvez a probabilidade só vá aumentando em escala 0/4000, 0/5000, 0/6000, 0/7000, 0/8000…. 0/vida só onde tem criação!!!!!!
Não faz sentido o que você diz. Claro que a vida precisa de uma origem, e essa origem tem natureza físico-química, e não evolutiva. Ainda assim, não há evidência de que qualquer um dos passos entre as reações físico-químicas e as primeiras moléculas de RNA capazes de evolução darwiniana exija uma intervenção sobrenatural. Muito pelo contrário. Embora ainda não conheçamos exatamente cada um desses passos, vários deles já foram recriados em laboratório a partir de química prebiótica, o que dá grande confiança de que a origem da vida não passe de uma sequência de reações químicas num ambiente apropriado.
E, pasme você, é exatamente isso que eu esperaria de um Universo que tivesse um Deus por trás. Seria patético se Deus, em sua infinita sabedoria, precisasse ficar remexendo com toscas moléculas orgânicas em cada planeta em que quisesse que houvesse vida, como uma criança brincando de Lego. Um Deus sábio criaria o Universo de tal modo que não precisasse mais interferir para que ele manifestasse todas as suas propriedades extraordinárias, do mesmo modo que um relojoeiro se orgulha de criar um mecanismo que, uma vez ligado, nunca precisa de ajustes para marcar a hora certa.
Como eu disse — e repito — há toneladas de planetas como a Terra. Não sabemos se evoluíram como o nosso, pois nos faltam informações sobre eles. Mas num horizonte de 20 anos saberemos. Até lá, eu aconselho cautela ao afirmar qualquer coisa. A não ser que você seja um fanático religioso, caso em que você pode afirmar os maiores absurdos (do tipo “Deus primeiro criou o dia e a noite, e depois criou o Sol”) e se esconder atrás do dogma para justificá-los, rechaçando qualquer abordagem racional.
Salvador, Gostei da matéria, principalmente na parte da razão ressonante 12 para 1 entre Júpiter e a Terra, em relação ao tempo de translação.
Como você estava fazendo uma analogia relativa proporcional, para mim existe estes discos ressonantes pré-configurados no espaço circundante ao astro, que tem relação com o tamanho proporcional em razão da duo-hexo-base=12.
Dai, astros harmonizados com esta razão proporcional do espaço geométrico espacial, como volume e também com o tipo de elemento principal do astro, que determina tua frequência ressonante, não só com os em harmonia uníssono, mas também os dissonantes e consonantes, que estabeleceriam um buraco de minhoca; de onde se compartilharia dos mesmos elementos básicos predominantes, como caso da terra urano ou Netuno,isso com base ressonante uníssono estando estabelecida por Júpiter e o sol .
Esta tese também faz analogia,no que diz respeito com a posição geo espacial insinuada por teóricos pós jônicos, em relação a camada eletrônica dos elementos.
Existe a evolução de infindadas tecnologias como disse, sobre o reconhecimento desta base.
A aceitação e evolução desta teoria, levaria a facilitar pré supostas condições geo-espaciais, com probabilidade de se encontrar planetas, como também com características oxidas predominantes como a terra, ou esteja; miraríamos para aquele ponto geo espacial(obtido da matemática quântica computacional duo-hexo-base=12), e só esperaríamos ele passar.
Eu já havia pensado nisso, como também já havia configurado no google earth, todas estrelas mais próximas do sol, para tentar ver de uma delas tenham relação com nosso sistema solar, fenômenos naturais mencionados em nossa antropologia, como a vida na terra e a visita de extraterrestres, Eridani esta uma boa candidata mas acho que não a principal. vlw
salvador, queria saber se esta matéria procede? caso sim!
se no wiki ou algum site confiável, você ou alguém viu algo sobre esta teoria?
Faltou o link? não da para mostrar, quero saber se existe estas sincronias e assincronias , na rotação do sol, e tua superfície?
https://acrediteounao.com/o-sol-tem-rotacao/
Há outros estudos em que se observa estes discos com planetas próximos?
Sim, essa é uma área efervescente agora, graças a novos equipamentos, como o Alma, que é ótimo para enxergar através da poeira que existe em sistemas novos.
Bom dia, Salvador!
É possível existir algum sistema somente com planetas rochosos? Pode haver outro só com planetas gasosos?
Abraços!
O Trappist-1 parece ter só planetas rochosos, como aliás parece ser típico para planetas em anãs vermelhas (faz todo sentido, uma vez que a estrela pequena indica que havia pouco gás na nuvem que a formou, o que também deixa menos gás para os núcleos rochosos reúnam grandes invólucros de gás e se tornem gigantes gasosos). Já planetas que têm Hot Jupiters provavelmente não têm planetas rochosos, pois a migração do gigante para dentro deve tê-los ejetado ou destruído. Tem de tudo lá fora! 🙂
Bem parecido o sistema, a posição dos planetas meio que bate com a do solar, mesmo a dos hipotéticos. Entretanto chama atenção o tamanho dos cinturões externos ao eridani b (desproporcionalmente maiores que o do s.solar); pra uma estrela central menor que o Sol…
Tenha em mente que o sistema é bem mais novo. Asteroides, com o tempo, vão colidindo com planetas, são ejetados do sistema, batem com seu sol, e diminuem em número.
Boa Noite Salva !
Tudo Bem ?
Paradoxalmente se a descoberta de sistemas planetários similares ao nosso vai tendo muito sucesso ,a busca por um sinal ( de rádio, lasers,esferas de Dyson etc) de alguma civilização extraterrestre só apresentou frustração até agora ( Lá se vão 40 anos de grande Wow !) . O paradoxo de Fermi vai se tornando uma verdadeira quimera e as tentativas de entende-lo também apesar de mais e mais exo planetas identificados a cada ano. Quais as mais recentes tentativas de explicar este aflitiva contradição ?
saudações !
Paulo, existem tantas e tão incontáveis possíveis explicações para o paradoxo de Fermi, desde “não há ninguém lá fora” até “eles não usam rádio ou laser para se comunicar”, passando por “eles não querem nos contatar”, que acho infrutífero especular sobre ele. É um exercício da nossa ignorância, tão somente.
Mas acredito que pelo menos, o paradoxo mostra que civilizações muito mais avançadas que a nossa não são abundantes. Ou somos tão insignificantes que não despertamos interesse. Não usarem rádio ou laser não as impediria de tentar contato conosco, caso fosse o objetivo. Acho mesmo que o paradoxo mostra sim que o desenvolvimento em direção a uma tecnologia espacial que permita a comunicação ou viagem interestelar não é tão óbvio a ponto de só depender da aquisição de conhecimento. Pode ser que existam barreiras físicas intransponíveis, mesmo para as mais avançadas civilizações atuais. Elas estão lá, sabem de nossa existência, mas simplesmente não têm como se comunicar. Ou a forma de comunicação possível ainda não é de nosso conhecimento.
Os avanços da física quântica e das teorias do buraco de minhoca ou entrelaçamento quântico podem ser a chave para esta comunicação. Estamos engatinhando nestas áreas mas as teorias começam a aparecer. Então, podemos estar próximos de acessar a internet galática.
Discordo que o paradoxo mostre que civilizações muito mais avançadas não são abundantes. Baseado em quê você afirma isso? Há incontáveis explicações para não os termos encontrado. O paradoxo de Fermi não é um paradoxo, na verdade. Seria um paradoxo se não tivesse explicações. Tem incontáveis.
O fato de não encontrarmos nenhum rastro de civilizações avançadas, mesmo através dos métodos indiretos que começam a ser utilizados (traços de infra vermelho, denunciando desequilíbrio energético, por exemplo) me parece apontar para a não proliferação destas civilizações. Não seria difícil aceitar que existam por ai civilizações, por exemplo, 1 milhão de anos mais evoluídas que a nossa. Acho também que o caminho do desenvolvimento não seria tão diferente do nosso. Assim, estas civilizações fossem abundantes, acredito que já saberíamos.
Orra, mas traços de infravermelho só são úteis em esferas de Dyson. Não conseguiríamos, no momento, detectar nem luzes noturnas num exoplaneta… (embora essa seja uma boa ideia para buscarmos com telescópios futuros que não depende tanto de eles quererem falar com a gente).
Salvador entendo que se tivesse surgido apenas uma única civilização suficiente avançada a 1 milhão ou dez milhões de anos atrás, a essa altura, mesmo que limitados a velocidade da luz, já teriam tempo pra se espalhar pela galáxia toda e no mínimo já teriam um “monolito” em cada um dos bilhões de sistemas solares. Se imaginarmos diversas civilizações no ultimo bilhão de anos, suas ruínas estariam espalhados por todos os cantos dessa galáxia e talvez teriam até chegado as gláxias mais próximas. Portanto, não deverá ser muito difícil encontar resquícios delas com nossos instrumentos nos próximos anos ou décadas ou não?
Sim, já estariam. Mas lembre-se, o Sistema Solar tornou-se habitado logo após se tornar habitável, o que pode tê-los motivado a manter distância. Mais: nada sabemos sobre “monolitos” alienígenas. Por tudo que conhecemos, eles podem muito bem ser nanoscópicos e indetectáveis. Ou pode haver um repousando a uma distância “segura”, sobre uma das luas do Planeta 9. Ou em algum dos incontáveis asteroides do cinturão. Reveja “2001”. Não foi trivial acharem o monolito na Lua. Na verdade, ele é que decidiu se revelar, com sua assinatura magnética ativada subitamente. Não fosse isso, ninguém o teria escavado.
Salvador,
Eu não acho que uma “ética” alienígena seria motivo suficiente para afastar civilizações da tentativa de tentar um contato conosco. A tecnologia do infravermelho foi apenas um exemplo e concordo que seria eficiente apenas para civilizações com uma necessidade energética do nível da energia emitida por sua estrela. Outros sinais como as ondas de rádio ou laser também nunca foram detectadas, excetuando-se os sinais não explicados como o WOW. O que acho também que a vida aqui na Terra levou cerca de 1/3 da existência do Universo para chegar ao nível que chegou e este tempo não é desprezível em relação à idade do próprio Universo. Então, uma flutuação de mais ou menos alguns milhões de anos na evolução destas civilizações é aceitável mas o tempo necessário é bastante alto para se chegar aos primeiros resultados inteligentes. Quero dizer com isso que, sim, devem existir civilizações muito mais avançadas, mas existe a possibilidade real de fazermos parte de um grupo pioneiro inicial. Insisto que é um erro nosso achar que o conhecimento a ser explorado é infinito e é uma questão de tempo para manipularmos espaço – tempo ou outra característica do universo de forma a habilitarmos viagens e comunicação intergalática. Se estes recursos tecnológicos estivessem presentes numa supercivilização relativamente próxima já teriam tentado entrar em contato conosco, até mesmo pela curiosidade científica.
O problema é que a vida levou um terço da vida do Universo para chegar ao estágio atual aqui, mas teve chance de começar muito antes em outros lugares. Será realmente intrigante se não existir vida inteligente lá fora. Acho que é preciso fazer a distinção entre existir vida inteligente e existir uma probabilidade concreta de um contato. É bem possível que civilizações não tenham o impulso de se espalhar pela galáxia inteira, ou que desistam de fazer um contato após algumas centenas de anos (nós já estamos nos cansando, e nem fizemos um século de tentativas), ou que fiquem, temerosos como nós, só escutando, mas nunca enviando sinais… como eu disse, há N explicações possíveis para o silêncio, e apenas uma delas é “não existe mais ninguém”. Tendo dito isso, acho mesmo improvável que cheguemos a travar contato com uma civilização extraterrestre. Ainda tem aquela variável terrível, opressora: o tempo médio de vida de uma civilização comunicativa. Foi o que estragou minha brincadeira com a equação de Drake: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2014/12/11/minha-solucao-da-equacao-de-drake/
Tenho uma dúvida que talvez enriqueça o debate
A detecção de ondas eletromagnéticas pode ter uma variável importante. A distância.
Creio que com o aumento da distância, mesmo no vácuo, o sinal se dissipe, sendo necessários instrumentos cada vez mais sensíveis para sua detecção. Talvez as fontes estejam tão distantes que nossos instrumentos não tenham sensibilidade suficiente para detectá-los.
Procede isso Salvador?
Existe alguma estimativa de, usando equipamentos terráqueos, tanto para emitir como para detectar, a distância máxima que conseguiríamos receber um sinal?
Parabéns pelo blog!
Paulão, o que você diz procede. Contudo, sabemos que radiotelescópio da classe Arecibo podem detectar (e enviar) sinais que cruzem vastas distâncias — no mínimo dezenas de milhares de anos-luz. Se os ETs usarem um radiotelescópio como os melhores que temos, poderíamos ouvi-los. Mas… eles teriam de apontar o sinal para nós (o que, a grandes distâncias, também não é nada trivial, uma vez que você tem de disparar o sinal para a direção onde estaremos quando ele chegar, e não onde estamos quando o sinal partiu).
Paulão,
Ondas eletromagnéticas, à medida que se distanciam da fonte emissora, tendem a se tornar ondas planas (transversal eletro magnéticas – TEM). Estas ondas são não dissipativas e, a princípio poderiam percorrer enormes distâncias sem perder potência. O laser é um tipo de onda TEM e por isso consegue percorrer grandes distâncias sem perder a colimação. Mas, lógico, as ondas perdem potência à medida que são absorvidas por obstáculos no caminho (poeira, moléculas mais pesadas, etc). Mas não acho que seria difícil chegar até nós um sinal de rádio (emitido propositalmente em nossa direção) vindo de uma civilização, digamos, uns 200 anos luz daqui. Esta civilização poderia inclusive estar em estágio de desenvolvimento semelhante ao nosso. O grande problema é que não chega nada. Nem proposital, nem acidental.
Eu acho que deveríamos ter em mente a evolução das espécies, que devem ser mais ou menos iguais entre as criaturas que vivem no Universo. Olhando por esse lado somos levados a imaginar que das duas uma: Ou as civilizações se auto destroem antes de dominarem a tecnologia para viagens no espaço profundo, ou a evolução natural das espécies – biológica e tecnológica – as coloca em um patamar onde essas mesmas viagens se tornam desnecessárias, devido a atingirem um patamar onde muito provavelmente suas inteligências não necessitam de corpos materiais para se locomoverem entre as galáxias, luas, estrelas e planetas. Alguns milhões, ou mesmo apenas um milhão de anos depois que a civilização atinge o estágio onde nossa raça está atualmente é muito tempo para evoluir e se dissipar entre as estrelas.
Alguns especialistas julgam que dentro de aproximadamente 100 anos eliminaremos todas as doenças do ser humano e aumentaremos a expectativa de vida para 150, 180, 250 anos, e em breve… talvez daqui a uns trezentos anos já teremos eliminado a morte e passaremos a viver eternamente. (É importante ressaltar que não estamos falando aqui de alguma teoria de ficção científica, e sim de prognósticos legítimos que levam em conta os avanços tecnológicos que nos envolvem no momento atual).
Especulando a partir desse ponto, 300 anos, podemos concluir que nossos corpos físicos, melhorados principalmente com os avanços da inteligência artificial cognitiva, serão capazes de proezas inimagináveis dentro dos próximos mil anos. Naqueles tempos seremos capazes de compactar nossas experiências individuais em sistemas de armazenamento que não necessitam de mais que algumas partículas para tanto. Toda a vida de um ser humano, se é que naquele estágio ainda nos chamaremos de seres humanos, compactada em partículas que podem ser entrelaçadas e viajarem instantaneamente para qualquer lugar do Universo. Assim sendo, daqui a alguns poucos mil anos – e não milhões de anos – poderemos nos deslocar para qualquer lugar que nossa vontade possa querer nos levar.
Concluindo: Se atingiremos aqueles estágios no futuro, nada impede que outras civilizações já o tenham feito e viajam pelos planetas, luas e estrelas sem necessitarem de corpos físicos para suas viagens. PARA SUAS VIAGENS! NÃO PARA SUAS EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS. Para suas experiências sensoriais assumem a forma física que evoluiu no planeta visitado. Ou seja… é muito provável que tais criaturas estejam vivendo entre nós nesse exato momento sem que nos apercebamos disso. Mesmo porque, se encontrarmos alguém nos dizendo que é viajante espacial vindo de um local distante do Universo, muito provavelmente não daremos a mínima atenção para o indivíduo, e o colocaremos num hospício. Portanto, se você é um deles faça como eu: NÃO CONTE PRÁ NINGUÉM.
Marcos,
Concordo com suas observações. Só discordo num ponto. Não dá para afirmar que a curva de desenvolvimento seja esta e que estejamos tão próximos (300 anos) desta nova realidade. Não dá nem para afirmar que o futuro é este. Acho que uma barreira importante e que não será superada nem em 300 anos é a possibilidade de transferir a “Alma” de um corpo biológico para uma máquina. Chamo Alma o conjunto de experiências e consciência presentes em cada um de nós. A Alma não é a consequência da inteligência. Não dá para afirmar que se continuarmos a simular o cérebro cada vez com mais perfeição, chegaremos a uma estrutura que se tornará consciente.
Mas concordo que da mesma forma que a formiga toca seu dia a dia sem ter consciência de que a estamos observado, nós mesmos podemos não ter consciência de que somos observados por algum tipo de ser ultra avançado. Porém, acho que o Universo é extremamente comportado e repetitivo. As estruturas presentes no Universo não são tão diversas assim (pelo menos as conhecidas) e os eventos universais se repetem de forma muito semelhante, aqui ou em qualquer ponto do Universo. Então, concordo que as formas de vida, em sua maioria, podem ser bem semelhantes a nós. Basta saber se o futuro é mesmo este que hoje a ficção indica.
Concordo plenamente. O futuro é tão incerto quanto os movimentos atuais. Ou seja: Não podemos saber tudo que acontece nesse momento no Universo, portanto qualquer previsão – mesmo se fosse possível – se torna mera especulação sem nenhum grau de previsibilidade. Os movimentos aqui no planeta indicam um caminho, mas isso não significa que um ponto fora da curva não possa mudar tudo.
No entanto, se o Universo for mesmo infinito e eterno, então tudo – até a teoria mais maluca – se torna possível. Abraços Paulo.
Interessante seria se alguém fizesse uma simulação para saber de onde veio esta estrela, em qual nebulosa ela deveria estar há 500 milhões de anos atrás.
A essa altura o aglomerado já se dissipou. Muito difícil de encontrar as irmãs dela.
Ou pelo menos de qual região da Via Láctea ela veio. Mas sei que para fazer regressões de trajetórias de estrelas, mesmo só umas centenas, dá bastante trabalho que no final se mostra bem impreciso devido as perturbações que estas trajetórias sofreram ao longo do tempo e também pelas incertezas no movimento observado no tempo atual que vão piorando quando mais se volta no tempo. Mas seria bem interessante se colocassem todas as observações num supercomputador para fazer uma simulação destas e ir refinando os cálculos e adicionando mais observações com o tempo.
Salvador, pelo que vejo a uma enorme espectavita com relação ao James Webb, ou seja, ele é a promessa de um verdadeiro salto no estudo planetário e principalmente no estudo de planetas similares a Terra. Entendo que temos que esperar até 2018, pois o projeto deva estar em vias de testes ou coisa do tipo, mas minhas perguntas são: Quanto tempo está sendo gasto para construir o James Webb? Se num cenário catastrófico ele exploda na hora do lançamento (improvável, mas pode acontecer) quanto tempo levariamos para fazer um “novo James Webb”? Uma explosão dessa poderia afetar quantos projetos ao redor do mundo?
(Sim, após ter falado isso bate três vezes na madeira…rsrs)
Obrigado pela resposta e parabéns pelo blog!!
há uma enome expectativa** desculpe corretor…
Existe de fato uma expectativa enorme sobre o JWST, mas porque ele é a bola da vez. Os telescópios de próxima geração de solo ainda levarão mais algum tempo, e o WFIRST, da Nasa, terá características diferentes e também deve demorar mais. Se perdermos o JWST, será uma grande frustração, e desconfio que não teremos um outro JW se der zebra nesse.
como são criativos nunca imaginaria que seria possível utilizar um telescópio a bordo de um avião, deve ser bem complicado manter o foco no alvo estudado
Acredito que só é possível pela evolução dos softwares de aquisição de imagem que permitem trabalhar as imagens brutas e obter resultados finais equivalentes à soma das informações presentes nas originais. Já se faz isto em terra para melhorar a resolução de telescópios.
Quem quiser acompanhar os “voos da SOFIA”, sugiro seguir o perfil do Instagram:
https://www.instagram.com/sofiatelescope/
😉