Astronomia: A observação impossível de Einstein

Salvador Nogueira

Telescópio Hubble faz ‘observação impossível’ de Einstein e confirma teoria de evolução estelar.

A PEDIDO DE UM AMIGO
Em 1936, então já consagrado pela teoria da relatividade geral, Albert Einstein escreveu um curto artigo na revista “Science”, intitulado “Ação similar à de lente por uma estrela pelo desvio da luz no campo gravitacional”. Nele, o famoso físico descrevia como o alinhamento circunstancial de duas estrelas, com relação a nós, alteraria o caminho dos raios de luz do astro mais distante, produzindo um padrão de lente gravitacional ditado pelas equações da relatividade.

OBSERVAÇÃO IMPOSSÍVEL
Einstein, contudo, não tinha a menor esperança de ver tal observação realizada, principalmente por exigir um alinhamento muito preciso e, portanto, muito raro, e também por requerer incrível resolução dos telescópios. Ele conclui: “não há esperança de observar esse fenômeno diretamente”.

CORTA PARA 2013
Um grupo internacional de astrônomos, vasculhando cerca de 5.000 estrelas, encontrou uma que ia passar quase exatamente à frente de outra em março de 2014. Era uma anã branca — um cadáver estelar deixado pela morte de estrelas como o Sol após esgotar seu combustível — a meros 18 anos-luz daqui. Eles calcularam que o Telescópio Espacial Hubble, em princípio, podia observar o efeito de lente gravitacional descrito por Einstein.

TESTE DOS MODELOS
Uma das vantagens de obter sucesso na observação seria colocar à prova nossa compreensão teórica das anãs brancas. Se os modelos clássicos de evolução estelar estivessem certos, ela deveria ter 67% da massa do Sol. E a medida da lente gravitacional permitiria confrontar essa estimativa, já que a gravidade é proporcional à massa.

EINSTEIN TRIUNFA NOVAMENTE
Numa bateria de observações entre 2013 e 2015, os astrônomos conseguiram realizar a tal “observação impossível”. Apropriadamente, acabam de publicar seus resultados na “Science”, indicando a massa da estrela com incrível precisão: 67,5%, com margem de erro de 0,5%. Na mosca! Oitenta anos depois, os trabalhos de Einstein continuam a nos ajudar a desvendar os mistérios do Universo.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Comentários

  1. “Esta teoria tem-se provado indescritivelmente sólida.”

    Esse argumento é o mesmo para os relativistas e para os quânticos. Os cientistas agem como Aladim e parece não se importarem com isso. O objetivo maior da ciência é a compreensão da natureza. MQ e TR são dois gênios imiscíveis e incompreensíveis. Uma aberração esquizofrênica.
    A ciência contemporânea adotou a via do pragmatismo. O preço dessa (im)postura é ter de aceitar a Ciência como Magia ou Religião Hi-Tech.

    1. O que você acaba de dizer é um absurdo completo. Dizer isso é como falar que a termodinâmica clássica, antes da teoria quântica, era magia. Não era. Só era uma aproximação da realidade que tratava radiação como um contínuo, e por isso falhava em explicar certos resultados, como o espectro de corpo negro.

      Da mesma maneira, a relatividade geral consegue explicar todos os fenômenos gravitacionais que possam ser abordados de forma contínua. É uma teoria que resistiu, até o momento, a uma formulação quântica. Todo mundo sabe que ela terá de ser reformulada em termos quânticos para se encaixar com a mecânica quântica. Mas isso não significa que a teoria da relatividade geral não seja extremamente bem-sucedida e verdadeira para todos os fenômenos que ela descreve. Qualquer teoria quântica da gravitação terá de produzir as mesmas predições corretas da relatividade geral. Ou seja, teremos só uma versão aprimorada da relatividade geral, do mesmo modo que ela é uma versão aprimorada da teoria da gravitação de Newton.

      Para pessoas que, como você, sonham com a “abolição” da relatividade, isso é uma péssima notícia. 😉

  2. Salvador, Eu não tenho Albert Einstein como divindades da Ciência;
    Para mim, Einstein apenas produziu teorias menos formuladas para o tempo dele(básicas) incompletas, estas vem das mesmas teorias e equações que Isaac Newton já havia postulado a Séculos antes.
    De certa forma ele só converteu As formas de NEWTON /Christiaan Huygens vindas de galileu como a poster de outros, para formular formulas mais arcaicas, as inserindo dentro do conceito mecânico rudimentar(E=M.C^2).
    Estas mesmas formulas que estiveram os erros admitidos pelo próprio Einstein e que demonstravam por siGnal, de forma até erronia, questões da (luz plasma) já postuladas por Isaac newton, assim como aperfeiçoadas por outras pelos princípios Newtonianos como:
    Andre marie amper
    Johann Carl Friedrich Gauss
    Michael Faraday
    Heinrich Lenz Karl Ferdinand Braun,
    De onde James Clerk Maxwell aprimorou tuas 4 equações e que veio a evoluir para equação e que Karl Ferdinand Braun veio a elaborar o tubo de raios catódicos .
    Hoje já estamos admitindo isso como tem estado divulgado nos últimos tempos!
    exemplo:,como na matéria daquele link lá atrás(EPR=).

  3. Eu gostaria de compreender ao menos um pouquinho mais sobre esta atividade do Hubble que a gente ama como se fôsse um ser vivo…. Ele fica entre as estrelas e calcula à massa? A distância também? E como isso funciona -dizendo mais simplesmente para pessoas mais simples como eu…?
    Por favor ; obrigada.
    Martha

  4. Me ocorreu uma dúvida agora. Antes desta observação de lente gravitacional entre estrelas, já tinhamos exemplos de lentes gravitacionais provocadas por galáxias massivas. Nossa própria galáxia, por exemplo, e capaz de, com sua massa, causar um efeito expressivo de lente gravitacional?

    E agora vem minha pergunta de verdade: se a resposta anterior for SIM, e dado que estamos DENTRO da galáxia, não estaríamos de forma geral captando uma imagem distorcida do universo extragaláctico? Não precisaríamos, por exemplo, corrigir a posição das galáxias distantes observadas para compensar a distorção causada pela lente gravitacional gerada por nossa própria galáxia?

    1. Acredito que a Via Láctea poderia causar uma lente para quem vê de fora. Mas não para quem a vê de dentro, pois de dentro sua gravidade está diluída em todas as estrelas individuais.

    2. Sim, para observações de objetos “próximos”, dentro da própria galáxia, também acho que o efeito não seria perceptível. Mas talvez haja efeito para a luz que chega até nós de distâncias maiores, extragaláticas. Principalmente se esta luz vier rente ao plano da galáxia, o nde a lente seria mais “espessa” do nosso ponto de vista e a luz de galáxias distantes poderia sofrer um desvio similar à luz sendo refratada ao atravessar meios diferentes. Talvez as galáxias que vemos próximas deste plano não estejam na verdade lá onde vemos, mas foram “refratadas” pela gravidade de nossa galáxia antes de nos atigir.

      Vou pesquisar se existe algum estudo neste sentido, achei bem interessante esta possibilidade. Quem sabe isto não acabe me rendendo um TCC, né? 😉

  5. Queria parabenizar à todos por compartilhar um com os outros suas humildes opiniões a cerca de vários fenômenos que nos cercam.contudo quero dizer que de contradições e de acertos se fazem a ciência verdadeira.

    Se Einstein errou ou não, pouco importa.
    O que importa é que os fenômenos por ele observados eram estudados.e isso nos traz um caminho para continuarmos.

    Pois sem caminho não há chegada.

    Parabéns meus queridos.

  6. Salvador, entendo o que é uma lente óptica, consegue focalizar uma imagem mudando seu “tamanho”.

    Mas em termos didáticos, como funciona uma lente gravitacional? A estrela que fica no meio da outra estrela e do observador (telescópio) seria a “lente”? Ao invés de focalizar uma imagem o telescópio consegue calcular a massa da outra estrela?

    1. A estrela do meio age como lente, distorcendo a luz que vem da estrela de fundo. A lente pode amplificar a imagem do fundo ou distorcê-la, produzindo múltiplas imagens do mesmo objeto ou um anel de luz. Com base no padrão de distorção, pode-se calcular a massa do objeto-lente.

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