EUA terão eclipse total do Sol na segunda; no Brasil, fenômeno será parcial

Um furor tomará conta da internet conforme a Lua transitar à frente do Sol na tarde da próxima segunda-feira (21). Nos EUA, onde o eclipse solar será total, espera-se, além de repercussão nas redes sociais, tráfego intenso de veículos e congestionamento dos sistemas de telefonia celular. E pesquisadores brasileiros estarão por lá, para fazer ciência.

Um destaque vai para a equipe do Projeto Kuaray, conduzido em parceria pela Universidade de Brasília com o Clube de Astronomia de Brasília.

Graças a um acordo de cooperação com a Universidade Estadual de Montana, nos EUA, e uma verba da Nasa, eles vão lançar um balão à estratosfera e filmar, em 360 graus e em alta resolução, o momento do eclipse. Kuaray é Sol em tupi-guarani.

“É uma grande oportunidade estarmos em um dos 55 balões que voarão com apoio da Nasa para observar o eclipse”, diz Renato Borges, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB.

O pessoal da UnB desenvolveu a plataforma para o voo, enquanto a Universidade Estadual de Montana forneceu o balão. O lançamento será feito de Rexburg, no estado de Idaho.

A ideia é que o vídeo de realidade virtual resultante do experimento sirva mais tarde para fins educacionais.

Plataforma do Projeto Kuaray, que registrará o eclipse em 360 graus em voo de balão nos EUA. (Crédito: Projeto Kuaray)

CIÊNCIA

Também existe grande expectativa de produção de dados científicos importantes com o eclipse. Nada com a grandiosidade do que já foi feito no passado, quando a fotografia de estrelas durante um eclipse total do Sol (por sinal visto em Sobral, no Ceará) confirmou a teoria da relatividade geral de Einstein, em 1919.

Ainda assim, coisa boa. Afinal, quando a Lua bloqueia o disco solar, é possível observar a camada que fica logo acima da superfície do Sol, a chamada cromosfera.

“É uma boa ocasião para obter informações sobre ela, já que se pode ter mais diversidade de instrumentação do que os que estão no espaço”, explica Renato Dupke, astrônomo brasileiro que trabalha na Universidade de Michigan.

“Existem alguns projetos usando balão ou aviões para obter imagens de alta resolução e monitoramento temporal em escalas menores do que se consegue no espaço, estudos de polarização estão planejados fornecendo informação sobre a velocidade e temperatura do material da coroa solar.”

Dupke destaca que também serão feitas observações do planeta Mercúrio, que só figura no céu noturno sempre muito perto do horizonte, onde é mais difícil ser estudado por telescópios.

Além disso, uma parte importante dos estudos diz respeito à própria Terra — os cientistas buscam explorar os efeitos que o eclipse provoca em nosso planeta.

Na prática, na região de totalidade, é como se anoitecesse instantaneamente por cerca de 2 minutos, o que causa um resfriamento rápido da atmosfera.

“O eclipse provê uma parada rápida do fluxo de radiação em regiões pequenas, e isso permite verificar a velocidade com que a atmosfera reage e até a magnitude de raios cósmicos solares”, explica Dupke.

VIDA QUE SEGUE

Os efeitos se estendem à biosfera. Pássaros acham que anoiteceu e voltam a seus ninhos, animais noturnos se tornam ativos — enganados por um belo truque da natureza. E o bicho homem, claro, não está imune.

Você já deve ter reparado alguns dos efeitos nos humanos. Mas, a despeito da onda de bobagens que se propaga pelas redes sociais, não vai ter Nibiru (que, a propósito, não existe), não vai ter mudança de órbita de nada, nem vai ter tipo algum de catástrofe ou evento sobrenatural. É só a bela dança da Lua, em seu enlace de sempre ao redor da Terra.

Antevendo as confusões, o astrofísico americano Neil deGrasse Tyson escreveu no Twitter na última quarta: “Eclipses totais do Sol acontecem em algum lugar da Terra a cada dois anos, em média. Então, fique calmo quando as pessoas disserem que eles são raros.”

Certo, mas se é tão comum, por que a comoção neste evento em particular? Ocorre que a faixa onde o eclipse será total — ou seja, as regiões em que a Lua se alinha perfeitamente com o Sol para bloqueá-lo por inteiro, projetando uma sombra sobre a Terra — vai percorrer os EUA de costa a costa, de modo que muitas regiões habitadas poderão observá-lo. Por lá, faz 38 anos que não surge uma ocasião como esta.

Por aqui, já será o segundo eclipse visível neste ano. Em fevereiro, houve um que foi total na pequena região do Chile e da Argentina, e parcial (onde a Lua recobre apenas parte do disco solar) nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

O da próxima segunda também poderá ser visto em solo brasileiro, mas só nas regiões Norte e Nordeste, aproximadamente entre as 16h (de Brasília) e o pôr do Sol.

A quem quiser observar, um lembrete importante: não olhe diretamente para o Sol, pois podem ocorrer danos à visão. É preciso usar filtros apropriados (o mais simples e barato é um vidro de máscara de solda No. 14) ou ver o eclipse indiretamente, por meio de uma projeção.

O Mensageiro Sideral transmitirá o evento ao vivo na segunda-feira, com imagens dos EUA e do Brasil, entre as 14h e 18h.

BÔNUS: Lista de eventos públicos para observação no Brasil
(Fonte: GaeA)

– Belém/PA (Projeto Bike Astronomia)
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208211283354379&set=gm.883356268489971&type=3&theater

– Bezerros/PE (AAP)
Praça Narciso Lima
+ transmissão (https://www.facebook.com/Associa%C3%A7%C3%A3o-Astron%C3%B…/…)

– Boa Vista/RR (CAC-RR)
https://www.facebook.com/events/254958251674469/

– Cacimbinhas/AL (SAHA)
Praça do antigo Liceu

– Fortaleza/CE (Clube de Astronomia do Caic)
Caic Maria Alves Carioca

– Fortaleza/CE (Colégio Militar do Corpo de Bombeiros)
https://www.facebook.com/events/1772977219398919/

– Garanhuns/PE (Prof. Mércia Figueiredo)
Escola Municipal José Brasileiro Vila Nova

– Goiânia/GO (Gunstar Team)
https://www.facebook.com/events/238562049976533/

– Jaboatão dos Guararapes/PE (EREM Vila Rica)
https://www.facebook.com/events/464065500591175/?ref=br_rs

– João Pessoa/PB (APA + NEPA-IFPB)
Concurso fotográfico: http://www.apapb.org/cfe2017/
Observação no Hotel Globo

– Juazeiro/BA (Astromaníacos + Univasf)
https://www.facebook.com/events/109294866415815/

– Maceió/AL (CACS)
Escola Estadual Noel Nutels

– Maceió/AL (CEAAL)
Mirante Santa Terezinha

– Manaus/AM (OARU + Clube de Astronomia de Manaus)
https://www.facebook.com/events/105709103491205/

– Natal/RN (ANRA+Astronomia no Zênite + The Planetary Society)
Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte

– Natal/RN (Prof. Ricardo Pereira)
Escola Estadual General Dióscoro Vale

– Santarém/PA (IASF)
Orla da Cidade
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1334241263359341&set=a.165939313522881.33773.100003204401941&type=3&theater

– São Luis/MA (SAMA + Ilha da Ciência UFMA)
Concha Acústica da Praça Maria Aragão

– Taperoá/PB (M.U.)
https://www.facebook.com/events/487399991609577/

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Comentários

  1. Ótimo como sempre, Salvador.

    Só uma coisa: não existe nenhuma língua chamada tupi-guarani. É como dizer que “sol” é uma palavra em românico ou, pior, indo-europeu. 😉

    Kuaray é sol em tupi ou em guarani? Ou ambas? Ou em alguma outra língua da família? Tá, coisa de pedante, mas enfim. 🙂

    1. Acho importante. Provavelmente nas duas línguas (Sol deve ser bem enraizado), mas como não falo nem uma, nem outra, estou reproduzindo o que me contaram os participantes do projeto. Mas você tem razão em mencionar que é um tronco linguístico.

  2. Opa. Não vejo a hora de ler os resultados dos estudos. Agora uma pergunta que para muitos pode soar como infantil: a localização do Brasil no planeta dificulta a ocorrência destes fenômenos por aqui?

    1. Não, não dificulta. Teremos eclipses totais (anulares na verdade) cuja totalidade cruzará o território brasileiro em 2023, 2027 e 2028.

    2. de acordo com o Google eclipse total em São Paulo só em 2906 vida longa e próspera a todos

      1. Ah, mas também você quer escolher em que pedaço do Brasil a sombra vai passar… rs

    3. Olá. O Brasil foi favorecido com eclipses solares totais na década de 1990 quando a faixa de totalidade passou por território brasileiro nos seguintes eventos: 11 jul 1991, 30 jun 1992 e 3 nov 1994. Depois disso houve um eclipse total em 29 mar 2006 visível em RN e PB. As próximas oportunidades da faixa de totalidade tocar em território nacional englobam os seguintes eventos: 12 ago 2045, 2 ago 2046 e 11 mai 2059. Antes disso é possível observar a totalidade no Chile ou Argentina, locais favorecidos atualmente com os seguintes eclipses: 11 jul 2010, 2 jul 2019 e 14 dez 2020. Mais informações: http://eclipsewise.com/solar/SEatlas/SEatlas.html

    1. Não é uma boa, porque te dá a aparência de conforto, barrando a luz visível que incomoda, mas não barra o infravermelho que estraga o seu olho. Você prejudica a vista e nem sequer percebe na hora…

  3. Hoje na “Matéria de Capa”, o Aldo Quiroga estará abordando o assunto sobre Humanos e Alienígenas dentro da perspectiva da Poeira da Estrelas. Esperemos a participação comumente do Salvador.
    Abs!

      1. É um analfabeto,se fosse de outro jornal, a própria filha já teria baixa a lenha.

      2. Voltei ao post e a resposta do Mascarenhas me fez perceber que talvez o comentário tenha soado malcriado, deseducado ou coisa que o valha. Não foi a intenção, o tom era de piada porque certamente você sabe em que Estado se situa a cidade do Recife… um abraço.

  4. Salvador,brilhante amigo,td azul? escrevi um artigo no jornal te citando e te elogiando…vou aguardar tuas postagens sobre o eclipse. Vi agora a história da astrônoma portoriquenha que ficou cega por causa da diabetes…e se especializou em analisar mensagens radioastronômicas,pela sua percepção bem avançada,muito comovente…e me lembrei na hora de um personagem com estas mesmas características (incrível : tb.cego e analista radioastronômico) da obra que virou o filme–maravilhoso !— “CONTATO” do mestre CARL SAGAN . O impressionante foi e é a antevisão do genial Carl !! abraços Salvador !!

  5. Lembro de um eclipse no começo dos anos 90, estava na rua e quando aconteceu todo mundo parou pra olhar, já era dia claro e realmente ficou parecendo que o dia já ia acabar rs. Pena que o eclipse não será visto em Varginha, o pessoal do ET ia gostar de ir lá esperar alguma coisa, fim do mundo, nibiru, talvez o Giorgio pudesse vir :).

  6. Neil “Disgrace” Tyson, tão “porofessional” e confiável quanto os politicos brasileiros.

    1. Qual é seu problema com ele? Falar é fácil. Mas o que ele fez de errado para merecer a crítica?

    2. Parabéns ao grupo responsavel pelo Projeto Kuaray.
      A. Goncalves: Neil DeGrasse Tyson é um cientista muito conhecido nos USA e talvez no mundo inteiro. Explique aqui e agora porque voce esta comparando ele com politicos brasileiros corruptos. Estamos esperando.

    3. Ué… que crítica mais sem sentido. Por acaso vc faz parte desse grupo que defende a Terra plana, Nibiru e outras sandices? É que esse tipo de gente odeia a ciência por mostrar que eles estão errados, e desconfiam dos cientistas pois são os responsáveis por fazer a ciência andar. Como perguntou o Salvador, o que o Neil fez que provocou sua ira?

  7. Salvador…”offtopic…”
    gostaria de enviar-lhe material de seu interesse; se possivel, me envie endereço (eletronico) de contato. Grato

      1. Remetido por email atraves de “falecomagente@grupofolha.com.br”, atenção Mensageiro Sideral.
        Bom fim de semana & bom proveito!

  8. Outros tipos de eclipse.
    Por acaso existem outros tipos de eclipse provocados por Vênus ou ainda Mercúrio ou ainda os dois juntos? A cada quantos anos acontece? Qual é o nome científico disso? Em que percentual a luminosidade da Terra fica diminuída para cada um?

    1. Chamam-se trânsitos planetários, ocorrem raras vezes (o de Vênus é duas vezes por século, se não me engano, o de Mercúrio é um pouco mais frequente), e reduzem tão pouco a luz do Sol que são imperceptíveis, a não ser que você saiba que está acontecendo e observe. Os de Vênus podem ser vistos só com filtros, os de Mercúrio, de tão pequenos que são, só com instrumentos ópticos (e filtros adequados), claro.

  9. Vou chutar heim?

    Carcaça desenvolvida numa impressora 3D e miolo formado por uma unidade RaspBerry conectada a câmera HD e um módulo Wi-Fi com saída para antena. O conjunto está me parecendo pesado o que vai reduzir a altura alcançada pelo balão. Como a antena parece ser normal, não direcional, o objetivo é localizar o conjunto após a queda, pois o alcance da comunicação online estaria restrito a alguns Km ( uns 5Km no máximo em visada direta).

    1. Se o equipamento for leve, tudo vai balançar demais, não é? Um pouco mais pesado para dar estabilidade e os ventos não prejudicarem a observação em detrimento da altura final que pode ser alcançada.

      1. Eu acho que lá em cima todo vento é muito vento. Mas como a câmera é 360 graus, eles podem estabilizar a imagem no solo depois.

        1. Sei não. Nestes vídeos de experimentos com câmeras em balões, lá no alto, acima de 20 Km parece calmo. Inclusive a temperatura é mais amena.

          1. Mas a velocidade do vento é muito mais alta que aqui. É que o ar é mais rarefeito, e você não sente velocidade do vento num balão. Mas basta ver como o bicho cai longe de onde foi lançado para estimar a velocidade do vento.

        2. A velocidade do vento, por si só não atrapalharia em nada, a não ser levar o balão para fora da rota do eclipse. O que atrapalharia, seria a turbulência.
          Se o vento for constante, pode ser de 500km/h, que o balão nem vai saber que está ventando.
          Aliás, acima da troposfera(12 a 15km), praticamente não há turbulência.

          1. Sim, mas ele faz o balão girar. Tira a estabilidade do vídeo. Pelo menos foi assim com o lançamento dos balões da Garatéa…

    2. Paulo, errado em boa parte.

      Sim, apenas a carcaça é impressa em PLA. Mas não utiliza raspberry ou arduino, mas eletrônica desenvolvida do zero por membros da equipe, com muitos sensores específicos de pressão, temperatura, umidade, etc. As câmeras (três ao todo no payload principal) tem resolução de 4K a 5,7K.

      O sistema de rastreamento tem varias possibilidades. Pôde-se usar APRS, com alcance enorme. Tem localização por GPS e Glonass, e nesse lançamento nos EUA o rastreamento será feito por satélites Iridium.

      A altitude projetada será de mais de 90 mil pés (27km)

      1. Legal,

        Sou fã quando o trabalho é desde o início. Hoje em dia é muito comum (e fácil) utilizar soluções prontas como as que mencionei. O conector acima, aparentemente é de antena comum, o que não garantiria a comunicação online, mas uso para localização após a queda.

        Por aqui já desenvolvi solução com GPS que atende aos sistemas disponíveis hoje (EUA, Europeu, e Russo) e link de RF de longo alcance. E como normalmente as soluções que vemos por ai não são dedicadas ei chutei. Fico feliz por ter errado! 🙂

      2. Mais uma perguntinha,

        A cobertura plástica na lente é para anti embaçamento?

        O sistema vai atravessar uma região que pode chegar a -55°C. O isolamento é interno ou vai utilizar uma fonte para manter aquecido?

  10. Mas Salvador,

    Sendo a Terra plana, o Eclipse não deveria ser observado na Europa também? Ou a Europa está do outro lado do disco?

    1. Hehehe, o principal problema da Terra plana aí é explicar como a faixa da totalidade avança como se a sombra fosse projetada em um globo, e não em uma superfície plana. Mas o que eu goto mesmo de ver os terraplanostras explicando é o eclipse lunar! 😛

    2. Pois é, a Terra plana tem mais problemas do que a Terra esfera. Afinal, a Terra plana é um disco? ou é meio amorfa? está deitada ou de pé? ou meio inclinada? fica todo mundo de um lado só? ou tem gente nos dois lados? quem fica em qual lado? qual a espessura? dá pra furar de um lado pra outro? porque ainda não furaram? um túnel de um lado pra outro seria bem mais curto que dar a volta toda no disco, mas se ainda não furaram isso indica que fica todo mundo de um lado só? a Terra plana gira? os oceanos na borda caem pro outro lado numa cascata? ou não tem água nas bordas? mais alguma? 🙂

      1. A “pizza” dos terraplanistas é “mezzo” aliche, “mezzo” vegetariana sem cobertura.

      2. E eu já ia me esquecendo, este eclipse conseguiu provocar um “racha” nos terraplanistas e agora há a variedade “religiosa” e a “científica” deles. A diferença entre eles é que a religiosa acredita que a Terra tem um “domo” e a científica não. A estupidez é a mesma e é de cair o cu da bunda.

      3. Uma terra plana girando seria interessante de ver. Imagina o quanto não seria desequilibradapor conta da diferença de peso entre as bordas. Haveria mais peso no hemisfério sul (no caso de a terra ser plana, hemisfério sul seria a região entre a américa do sul e a austrália) por causa do oceano pacífico.

        Imagina a situação: o peso do oceano inclinaria a terra plana e toda a água do mundo seria derramada, inundando os continentes, todas as coisas e pessoas cairiam para um lado comum e o a terra plana aos poucos viraria de ponta cabeça. Sol e lua não apareceriam mais no céu. Seria divertido (para os normais), ou um caos (para os terraplanistas).

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