Astronomia: Um exoplaneta 100% brasileiro

Salvador Nogueira

Reciclando dados de satélite, grupo brasileiro descobre 1 novo exoplaneta e 44 candidatos.

MISSÃO VELHA, PLANETAS NOVOS
Quem disse que uma missão espacial acaba quando a sonda é desativada? Um grupo de astrônomos brasileiros acaba de soprar nova vida ao satélite franco-europeu CoRoT, missão que também teve participação nacional. Ao reprocessar os dados colhidos pela sonda, a equipe descobriu um novo planeta fora do Sistema Solar e encontrou evidências fortes de pelo menos dois outros.

MADE IN BRAZIL
É a primeira vez que uma equipe 100% nacional anuncia a descoberta de um exoplaneta. Em 2015, um grupo internacional que tinha como um dos líderes Jorge Meléndez, da USP, havia feito a descoberta de um gêmeo de Júpiter ao redor de uma estrela gêmea do Sol. Agora, o achado tem como primeiro autor Rodrigo Boufleur, do Observatório Nacional, e é fruto de seu doutorado, orientado por Marcelo Emilio, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

INCHADO E INÓSPITO
O novo planeta orbita uma estrela um pouco menor que o Sol a 1.200 anos-luz de distância, na constelação do Unicórnio. O mundo tem o porte de Saturno, mas apenas metade da massa, e dá uma volta em torno de seu sol em pouco menos de uma semana — um planeta gasoso, pouco denso, e com temperatura na casa dos 1.100°C.

BELA LIMONADA
O que mais chama a atenção, contudo, é a demonstração de quanto caldo ainda tinha para tirar dos dados do CoRoT, o primeiro satélite caçador de planetas. Lançado em 2006 e operado até 2012, ele fez descobertas ao observar pequenas reduções de brilho toda vez que um planeta passava à frente de sua estrela-mãe.

TEM MAIS
Boufleur e seus colegas desenvolveram um novo modo de processar os dados do satélite. Analisando 65 mil curvas de luz, eles não só confirmaram todos os planetas já anunciados, como acharam mais um. E o detalhe que mostra o real potencial da pesquisa: ao todo, o processamento trouxe outros 44 novos potenciais planetas que ainda aguardam confirmação. Ou seja, pode apostar que mais descobertas vêm por aí, colocando de vez o Brasil no mapa da caçada aos exoplanetas.

APRESENTAÇÃO
Os resultados foram aceitos para publicação no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” e serão apresentados por José Dias do Nascimento, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um dos autores do trabalho, na 41a Reunião Anual da Sociedade Astronômica Brasileira, que começa nesta segunda-feira (4), em São Paulo.

BÔNUS
Confira as dicas de observação celeste do Mensageiro Sideral para o mês de setembro.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

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Comentários

  1. Sempre que o assunto é exoplaneta o rabos dos meus olhos abanam de alegria. Acompanho de perto o assunto e, embora pouco, deixo minhas felicitações para a equipe e uma mensagem de apoio pois por aqui tem muito mais gente de valor do que pensamos. Mas Salva, perguntei há algum tempo atrás sobre o substituto do Kepler e você disse que era um tal de TESS. Procurei um pouco sobre ele e quase nada achei exceto noticia velha. Será que o lançamento vai ser este ano mesmo? O projeto original foi mantido ou foi relaxado?
    Abraços

    1. Vai ser no ano que vem. Se não me engano março. Mas como não é missão interplanetária, não tem uma janela estrita de lançamento — a rigor, pode ser lançado a qualquer hora. O projeto segue a pleno vapor. Qualquer hora faço um report novo aí do andamento. Mas não voa este ano ainda não. 😉

      1. Salva obrigado pelo resuminho.. Será muito bem vindo este report, Vou virar minha ampulheta de nêutrons e aguardar.
        Abs

    1. Tive a mesma opinião que você. Texto ruim, mas achado interessantíssimo. Já fui atrás do paper. 😉

  2. Salva, sobre tei vídeo agora no FB, você acha que a Coreia do Norte teria algo como “arma do soldado morto”??

    1. Tive de ir pesquisar para ver do que se trata. Acho que a Coreia do Norte AINDA não tem algo assim, porque o arsenal dela simplesmente não é suficiente para promover um “fim do mundo” robotizado. Eles acabaram de testar seus primeiros ICBMs! Mas o ponto do meu vídeo é justamente alertar para o fato de que não há possibilidade de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte ser vantajosa, com ou sem isso. É uma situação sem vitória. A única solução é de-escalar.

  3. Eu já estava ficando com alguma esperança…. apesar do tamanho de Saturno, a informação ‘pouco denso’ deu a esperança de uma atmosfera em torno de um núcleo sólido e tal… mas 1.100 graus Celsius desanimou…

    1. Nah, não é para pensar em habitabilidade. Exoplanetas são legais. Em todos os sabores. Essa mania de só pensar em vida… rs

        1. Exato. For all we know, Deus fez o Universo porque gostava de pedras. E a vida foi só um acidente. rs

  4. Podia aproveitar e mandar pra lá aquele pessoal Dilma, Lula, Temer, Aécio, Renan….. só esses cinco já dava uma limpada boa.

      1. A primeira explicação é porque um dia ele foi decorar a tabuada dos quatro e o cérebro derreteu e foi para na bunda. Depois foi escorrendo da bunda para a perna, de onde ficou o apelido. Há uma segunda explicação não muito usada que vem da palavra pernacchia em italiano que se aproxima da emissão de ruído provocada pela ventosidade oposta.
        Gostou? Solicite aqui mesmo outra explicações sobre qualquer assunto livre de ônus.

  5. Que mal pergunte, e o catzo da primeira fotografia de um buraco negro? Em que pé ficou? Acho que foi só cascarolagem, no fim eles virão com uma reprodução artística, e só.

    1. Eles começaram neste ano, mas precisavam observar por um ano para juntar dados suficientes para produzir a imagem por interferometria, lembram? Só no ano que vem poderemos ter o resultado — positivo ou negativo — da observação.

  6. Desculpa Salva, mas não consegui não ligar o nome do satélite a nossa famosa pinguinha…um Salve ao Brasil! rs

  7. Caro Salvador, gostaria de saber porque a música de fundo de seus vídeos, que acho desnecessária, é mais alta que sua fala, provocando distúrbio sonoro e prejudicando desta forma o entendimento (seu relato fica inaudível). Isso ocorre principalmente quando uso fone de ouvido. Será que é possível diminuir ou retirar esse ruido? Sou apreciador de suas reportagens, mas não consigo ouvi-lo.

    1. Para a maioria das pessoas que vê os vídeos, inclusive em todos os meus equipamentos, a música fica como uma suave fundo sonoro, bem abaixo da fala. Por alguma razão que ainda não descobri qual é, algumas pessoas reportam o que você diz — música alta demais. É um mistério.

      1. Eu lembro de uma vez estar com uma entrada de fone quase destruída de tanto entra e sai, que, dependendo de como a gente colocava o pino do fone (indo ou não até o fim) os sons ficavam uns mais audíveis, outros mais baixos, pode ter alguma coisa a ver com isso…

      2. Não resolveria o problema se você colocasse a música ambiente enquanto você fala, em vez de mixar?

        1. É uma estratégia, mas destruiria qualquer flexibilidade de edição, além de exigir incontáveis testes para que a música ficasse no nível certo. Não faz o menor sentido. 😛

          1. Mas teria até o efeito de você sentir a música enquanto fala, entrar no clima, sintonizar-se com o universo…. ommmmm

        2. O verdadeiro intuito do vídeo Salvadorenho é apresentar a sabedoria e o elevado grau de conhecimento que ele possui. Assim sendo ele colocou essas musicas horríveis lá, porque como jornalista de astronomia não ia entender um cazzo de musica. Por isso sai aquele negócio horroroso. Muitas vezes nem se escuta o que ele fala. Como nada que é ruim dura para sempre uma hora ele vai acertar.

          1. Pois é. Como nada que é ruim dura para sempre, uma hora vou acabar te banindo dos comentários. 😉

    1. Descobertas de exoplanetas, por si só, não me comovem mais. O interessante normalmente são as características do exoplaneta e/ou o avanço que representa o método com que ele foi achado. No caso desta descoberta, o método conta mais.

  8. Bom dia Salvador

    Imagina o que aconteceria se a ciência brasileira tivesse um pouquinho mais de recursos, ou, pelo menos, não tirassem os mínimos recursos a ela destinados!

    1. É uma boa pergunta. De um lado, temos um talento enorme represado. De outro lado, temos uma academia majoritariamente acomodada. O que vimos nos anos 2000-2010, quando o orçamento de CTI subiu significativamente, foi que o Brasil passou a publicar mais resultados científicos, mas não necessariamente melhorou a qualidade média dos seus trabalhos.

      1. Como você pode afirmar que a academia é “acomodada”? Não se produzem resultados importantes em Ciência em escala industrial. É preciso talento, trabalho, determinação e, principalmente, tempo para que os grupos possam adquirir a expertise necessária. Lembre que, há menos de 40 anos, nosso país era invisível em matéria de publicações científicas. A atividade científica profissional no Brasil, bem como a sua relevante inserção no meio científico internacional, é algo relativamente recente. Nosso país fez um esforço colossal para chegar onde chegou, mesmo com todos os problemas estruturais que possuímos. Uma tremenda bola fora do “mensageiro sideral”.

        1. Vou te dar um exemplo de acomodação. Pagamos o salário do Ricardo Felício, professor concursado pela USP que fica falando asneiras anti-mudança climática e até hoje, a despeito de seu doutorado e seu emprego às custas dos nossos impostos, produziu apenas 11 artigos na carreira inteira, todos em português e em revistas de baixo impacto, 7 deles numa revista que tinha ele mesmo como editor. Um cara desses mereceria ter estabilidade de emprego? Se não tivesse, será que seria mais produtivo?

          1. Sem contar que os investimentos em “ciência” na era PT foram quase totalmente direcionado a ”estudos” do tipo “os desafios da luta de classes no século xxi”, ou “as razoes do sucesso do socialismo venezuelano”. Super científico.

          2. Não é bem verdade isso. Na verdade, o PT pulverizou bem o investimento em ciência, tirando-o dos grandes centros e tornando o jogo mais equilibrado. Deu bons resultados. De vez em quando, escorregou na casca de banana da “companheirada”, como quando investiu vários milhões do instituto do Nicolelis (que embora seja neurocientista, é “companheiro” da gema), sem resultados compatíveis com o investimento. Mas é ingênuo (na melhor das hipóteses) ou desonesto (na pior) dizer que o dinheiro foi para as áreas de humanas — que, por mais que se invista, não exigem equipamentos caros para produzir ciência e acabam sendo mais baratas.

          3. não exatamente…. você está considerando ”investimento” só a grana para institutos científicos…. mas a questão é mais ampla… tem toda a companheirada militante que recebeu bolsas, algumas polpudas…. e esse pessoal era esmagadoramente de humanas.

          4. Dados? Tem os números aí? Comparativos com outros governos para sabermos se houve aumento por área ou esse sempre foi o padrão?

          5. Muito bem, você deu UM exemplo de pesquisador com o qual você não está de acordo. Mas isso não desqualifica esse professor como cientista, concordar com você não é critério de excelência acadêmica. Muito embora eu também aceite que negar o aquecimento global atualmente é um ato questionável, esse professor tem o direito de desenvolver o trabalho dele da forma que ele considera correta, mesmo que 97% dos climatologistas do mundo discordem dele. O que não pode é generalizar, como você fez, dizendo que a academia é “majoritariamente” acomodada. Você gosta de dados? Então compare os dados da produção científica atual com os que tínhamos há 30 anos atrás. Não transforme o seu excelente blog em mais um antro da “pós-verdade” na Internet. Abraço.

          6. O que desqualifica esse professor como cientista é a produção acadêmica dele, não concordar ou discordar deste ou daquele. Se o cara tivesse produzido *algum trabalho relevante na academia*, já teria justificado o investimento que fazemos nele. Não é o caso. Produção científica equivalente a zero. Não sou eu que estou dizendo. É o currículo Lattes dele.

            Sobre o “majoritariamente”, se eu usei essa palavra, talvez tenha sido um exagero mesmo. Mas usaria “boa parte da academia” sem medo de ser feliz. E o exemplo nós vemos agora: pessoal convoca Marcha pela Ciência e junta 500 negos, 1.000 negos… Se isso não é acomodação, no momento de apocalipse científico em que vivemos, não sei o que seria…

        2. Infelizmente a ciência brasileira é quase que puramente acadêmica, isto é, fazer ciência pela ciência apenas. E isto é custoso e de pouco retorno.
          Certa vez participei de uma palestra numa universidade em São Paulo, e dentre muitas coisas interessantes que o reitor falou é que existe uma cultura no Brasil onde os acadêmicos tem horror de empresários, não aceitam o investimento privado, não aceitam fazer ciência com o intuito de produzir retorno financeiro. Em países do primeiro mundo, onde a ciência é vista como uma ferramenta para produzir e avançar, muitos projetos de universidades e institutos são financiados claramente para produzir resultados, mesmo que seja ciência básica o intuito é produzir algo que de retorno, esse retorno não é meramente satisfação e reconhecimento, é financeiro mesmo. Assim o ciclo se fecha, mais dinheiro mais produção, mais produção mais dinheiro. A regra é simples.

          Fica fácil ver porque aqui no Brasil a ciência vai de mal, olha só a tragédia que o corte do dinheiro público faz. Mas mesmo diante do pior qual a reação dos acadêmicos? Brigar por mais financiamento público e perpetuar uma situação insustentável. Querer mudar galho torno não adianta.
          Mudanças devem começar pelas universidades, aceitar o financiamento privado, usar a capacidade produtiva das universidades para gerir projetos com metas e resultados. Criar uma cultura de parceria. E esse pensamento ir migrando para os institutos públicos.
          É claro q o financiamento público é necessário, mas o privado também. Não dá para o país ignorar um mecanismo que funciona e impulsiona a ciência em muitos países com resultados tão contundentes.

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