Astrônoma americana quer fazer caça de planetas como a Terra em observatório brasileiro

Salvador Nogueira

O projeto para a busca de cem planetas gêmeos da Terra pode se expandir pelo céu do hemisfério Sul. De acordo com Debra Fischer, pesquisadora da Universidade Yale e coordenadora da iniciativa, há planos para instalar uma réplica do instrumento caçador de Terras no Observatório Soar, telescópio brasileiro no Chile. Caso aconteça, colocará o Brasil no primeiro time dos caçadores de planetas.

Fischer esteve no Brasil para a Reunião Anual da Sociedade Astronômica Brasileira, que se realizou neste semana em São Paulo. Lá, ela detalhou como pretende encontrar planetas com a massa da Terra, em órbitas similares à nossa em torno de estrelas similares ao Sol. Em termos de parâmetros básicos, é o mais perto que se pode chegar de gêmeos terrestres.

A essa altura, já conhecemos um punhado de planetas rochosos e de porte similar ao da Terra fora do Sistema Solar, mas praticamente todos eles giram ao redor de estrelas de menor porte, como as anãs vermelhas, ou estão a muitas centenas de anos-luz da Terra, como é o caso da maioria dos mundos descobertos pelo satélite Kepler, o grande caçador de planetas da Nasa. Foi o suficiente para provar que planetas similares em massa e diâmetro são abundantes no Universo, mas ainda não temos uma amostragem boa o suficiente de mundos desse tipo ao redor de estrelas próximas e que sejam mais parecidas com o Sol.

A busca por planetas parecidos com a Terra em estrelas como o Sol vai começar (Crédito: Nasa)

O Projeto das Cem Terras pretende fechar essa lacuna. Para realizá-lo, Fischer está desenvolvendo um novo instrumento, chamado Expres. Trata-se de um acrônimo simpático para Espectrógrafo de Precisão Extrema, um equipamento que já está sendo construído e deve ser instalado no Telescópio Discovery Channel do Observatório Lowell, no Arizona, com seus 4,3 metros de abertura. O início das operações está marcado para novembro deste ano.

O que o instrumento faz é medir com alta precisão a “assinatura de luz” das estrelas, o que os cientistas chamam de espectro. Sabe-se que o espectro sofre um deslocamento para trás ou para a frente, conforme a estrela está “indo” ou “vindo” com relação a nós — algo que ela faz ao ser induzida por planetas ao seu redor a realizar um bamboleio gravitacional, conforme eles giram ao redor dela. Medindo o tamanho e a frequência dos bamboleios da estrela, é possível descobrir a massa aproximada e o período orbital dos planetas que estão ao seu redor.

Contudo, a observação estaria limitada ao céu do hemisfério Norte. Daí a ideia de instalar uma réplica aperfeiçoada do experimento no Soar, chamada de Sorceress. A vantagem de replicar o trabalho seria conseguir construir o instrumento em pouco tempo — 18 meses. Mas Fischer ainda está buscando financiamento, cerca de US$ 5 milhões, para alavancar a iniciativa.

Confira a seguir a entrevista que o Mensageiro Sideral fez com Debra Fischer, em mais um episódio de CONEXÃO SIDERAL.

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Comentários

  1. Olá Salvador! Parabéns pela sua paixão por tudo que envolva o espaço. Te conheci através da entrevista com o Bial. Como mulher gostaria de saber sobre os riscos que uma mulher tem que ultrapassar para ser astronauta. Li que Marcos Pontes teve problemas de saúde ao retornar ao planeta após expedição. Marte pode ser habitada futuramente como alguns dizem? Quais seriam as condições necessárias para isso ocorrer? Enfim, o que é mito e o que é verdade?

    1. Anna, os riscos para mulheres e homens no espaço são basicamente os mesmos. Ambos são expostos a uma dose maior de radiação que a gente aqui embaixo, mas ainda assim as agências espaciais limitam bastante o quanto de exposição pode haver — menos que a suficiente para causar um aumento de 5% no risco de câncer ao longo da vida. Ou seja, bem pouca. Os maiores problemas estão ligados à ausência de peso, que leva músculos a atrofiarem e ossos a descalcificarem. Programas de exercício a bordo ajudam a combater esses sintomas, mas não eliminá-los completamente. Há também alguns problemas ligados ao sistema circulatório, porque ele foi “sintonizado” para bombear sangue para a sua cabeça contrariando a força da gravidade. Sem ela, o sangue é bombeado com mais força para cima, e por isso dá para notar no rosto dos astronautas, que fica mais inchado e corado. Há observações adicionais de problemas oculares, também provavelmente ligados à microgravidade. O Pontes fala isso, que teve problemas de saúde ao retornar, mas certamente nada de grave — tanto que ele é o primeiro a te dizer que é louco para voltar ao espaço. E, como ele ficou só 10 dias lá em cima, é bem possível que os problemas de saúde que ele teve depois não tenham relação com o voo espacial. De toda forma, não é exatamente moleza.

      Sobre Marte ser habitado no futuro, essa é uma boa pergunta, cuja resposta desconhecemos. Certamente Marte poderá ser visitado no futuro e o planeta oferece recursos naturais para a manutenção da vida por lá, com a ajuda de sistemas de suporte artificiais. Mas o sucesso de uma colônia em Marte dependerá justamente da capacidade de adaptação dos humanos à gravidade mais baixa e aos níveis mais elevados de radiação. A radiação é um problema mais dramático, porque sabemos bem os riscos fatais que ela traz, mas por outro lado é mais simples de lidar. A rigor, se você enterrar sua “casa” marciana debaixo de uma boa camada de solo, está tão bem protegido de radiação quanto aqui na Terra. O duro é sair pouco de casa. É uma vida de tatu, mas é uma vida mesmo assim. Por outro lado, a Nasa mesmo já andou falando em tentar gerar um campo magnético artificial para Marte, que tornaria tudo menos inóspito.

      Agora, o problema da gravidade já é um grande desconhecido. Sabemos, pelos voos espaciais, que humanos não se dão nada bem em ambiente de microgravidade. O que não sabemos é: quanta gravidade é suficiente para o funcionamento satisfatório do corpo humano? Seria preciso um quarto do terrestre? Metade do terrestre? Marte tem um quarto da gravidade da Terra, então, para o planeta ser colonizável, isso terá de bastar. Mas não sabemos a resposta isso. Nesse sentido, seria muito útil ter antes uma base na Lua, em que poderíamos estudar a reação humana durante longos períodos a um ambiente de um sexto da gravidade terrestre. Meu palpite é que, tendo a gravidade de Marte, ou mesmo da Lua, o corpo humano é capaz de modular sua resposta para se adaptar. Mas faltam dados para isso. E a questão evoca outra ainda mais delicada. E se humanos nascidos e criados em Marte, adaptados ao menor esforço requerido de seu sistema cardiovascular numa gravidade menor, visitam a Terra? Eles viveriam desmaiando por aí por falta de oxigênio na cabeça? Poderiam sofrer danos permanentes, até morrer se expostos ao seu planeta de origem? Um sistema cardiovascular projetado para lidar com um estresse maior pode se adaptar mais facilmente a um ambiente de menor estresse do que o contrário.

      Mas, de novo, volto a repetir: ainda temos muito a aprender. A Estação Espacial Internacional tem permitido estudos contínuos dos efeitos do espaço em humanos desde 2000, e aprendemos bastante nesse período. Mas precisaremos saber muito mais — e algumas coisas só aprenderemos sabendo — antes que possamos proclamar com convicção que a colonização de Marte é um sonho possível.

      Abraço!

  2. Um certo dia quando ela chegar la , nai vai ter mais nada la, eles teram levado tudo,
    Sabe nada inocente…..
    FORA eT……R
    A politica nao ta pra estas cousas!

  3. E Salvador,

    Parabéns. O que era bom tá ficando melhor! Suas entrevistas são muito boas e trazem mais informações relevantes nas áreas cobertas pelo blog. Eu diria que a grande diferença entre o Mensageiro e outros é a profundidade das informações e as iniciativas próprias, como as entrevistas, que trazem noticias e opiniões novas.
    Mas, como sabemos que divulgar ciências no Brasil é altamente rentável, logo logo você vai precisar de um apartamento para armazenar os recursos auferidos com a atividade. 🙂

  4. O Soar é um bom exemplo de que, quando se trabalha sério e cumpre-se o acordado, é possível fazer sim ciências de primeiro mundo. Estando em igualdade de condições com os demais parceiros, podemos produzir resultados realmente de qualidade. Neste caso o investimento está mais de acordo com a realidade brasileira. Além disto nós participamos efetivamente da construção de alguns instrumentos agregados ao telescópio.

    No caso da participação do Brasil no ESO, já acho fora de nossa realidade, em função da crise econômica e em função também do alto investimento. O pior é o comprometimento de nossa credibilidade quando confirmamos a participação e depois não damos conta de arcar com os compromissos acordados.

  5. Ainda é muito cedo e não há tecnologia suficiente para se falar em ‘gêmeos da Terra’. O termo melhor seria ‘prováveis planetas rochosos’ e orbitando na zona ‘habitável’ Aliás, mesmo os irmãos gêmeos são muito diferentes entre si (existe apenas semelhança física)

    1. Exato. Estamos falando de semelhança física. A terminologia pode ser usada para estrelas (gêmeas solares são aquelas que têm parâmetros físicos iguais aos do Sol, mas não são *irmãs* do Sol) e pode ser usada para planetas. Mas o texto deixa claro em que sentido esses planetas são gêmeos da Terra. Agora, só de pensar que vamos estudar esses planetas num horizonte de 20 anos e saber se algum deles realmente é parecido com o nosso em termos de habitabilidade já me deixa arrepiado. E você também, provavelmente por motivos completamente opostos. 😛

  6. E aquele espaço de descontração e amenidades?

    Buteco Sideral?

    Primeiros convidados?

    Joesley e Janot? hehe

  7. Boa tarde Salvador!
    Dada a precisão do equipamento a atividade sísmica não seria um empecilho? Descupe se a pergunta é boba.

    1. A pergunta é relevante. Então, parte do truque é a capacidade de filtrar ruído estelar em pós-processamento. Os pesquisadores simular isso para demonstrar que vai funcionar, mas temos de ver na prática.

      1. Olá! Acho que não completei minha pergunta, o que foi ótimo pois não havia lembrando a atividade sismica na estrela. Falava da atividade sísmica na Terra mesmo. Também lembrei que a frequência dos sismos tanto em Terra quanto na estrela devem obedecer a um padrão conhecido, o que provavelmente será incluido no modelo.
        Valeu.

        1. Ah, não. Porque a observação não é contínua. Então você pode colher dados livres de interferência sísmica, que por sua vez seria filtrável também.

  8. Os políticos brasileiros devem fazer um esforço super humano para alocar verbas para esse projeto, pois tenho informações ” PREVILEGIADAS “, (NOTEM, PREVILEGIADAS E NÃO PRIVILEGIADAS). de que os habitantes desses planetas são especialista no cultivo de rabanetes, pepinos, aipim (mandioca o macaxeira ) e abacaxis, assim poderão alimentar o povo brasileiro via anal.

  9. Sua missão é respeitada e urgente. Só não pode ser muito longe. O suficiente para deixarmos todas as “mazelas” terráqueas” para trás. Senão não valerão a pena os esforços de pesquisa, identificação decisão e mudança. A Terra está muito perigosa para se viver…Em frente, exploradores de outros Mundos… Boa sorte DEBRA !

  10. É só pegar o dinheiro das malas do Geddel e fazer a redistribuição a projetos importantes como este. Este dinheiro dá para aproveitar em muitas necessidades urgentes ao povo brasileiro.

  11. Ah, legal. Estão procurando outro planeta pra infestar e destruir no futuro. Se algum dia acontecer de acharem um planeta igual a Terra e forem capazes de chegar até lá, eu espero sinceramente que nesse planeta tenha uma raça avançada e capaz de se defender e expulsar os humanos a pontapés. Se deixarem, os humanos vão infestar tudo, destruir sua cultura, espalhar doenças e ainda vão achar que estão fazendo um favor.

    1. Desculpe, a que espécie você pertence?
      Claro que o ser humano é capaz de coisas ruins, mas se prender a isso e ignorar as conquistas é muito pessimismo

  12. Nosso Sistema Local (não confundir com o Sistema Solar), existem 619 mundos habitados. “Documentos de Urântia”

        1. Não li, não posso dar nota. Mas, pelos comentários, esqueceram de catalogar o livro como “ficção”. rs

  13. Que bom saber que o Brasil pode entrar no rol dos caçadores de planetas. Por enquanto está caçando apenas picaretas ( graças à L.Jato).

    1. Uma das coisas que mais atrapalham a observação celeste é umidade do ar. Lá no alto da Cordilheira dos Andes, a umidade é baixíssima. Além disso, as montanhas barram as nuvens, e o céu está quase sempre limpo por lá. Por isso o Chile é o paraíso dos telescópios.

  14. Salve, Salva.
    Seu comentário sobre a grana do Gedel, me fez pensar uma coisa. Uma boa iniciativa parlamentar seria uma lei que destinasse uma porcentagem fixa dos montantes recuperados da corrupção para pesquisa e ciências. Quem sabe nosso acelerador de partículas ficaria finalmente pronto.
    Abr.

    1. Então, pensei nisso também. Mas aí é quase instituir a corrupção, né? Nossos pesquisadores iam ter de torcer para os políticos roubarem bastante e serem descobertos depois… 😛

      1. Os cientistas teriam que virar investigadores particulares. Segunda profissão para os tempos bicudos, não é?

  15. Salva, na home do uol tem essa chamada, acho que seria do seu post:
    ‘Em busca de mundos similares
    Astrônoma planeja caça de planetas como Terra em observatório do Brasil’
    Mas, vai pra outro assunto nada a ver.

    1. Acho que corrigiram. Tá chegando um monte de gente falando de política aí no post. rs

    1. Hehehe, cara, pior é que estou gripado, ainda por cima. Mas preciso entregar a coluna da Ilustrada hoje. Né fácil, não. rs

  16. Salvador, no caso do planeta descoberto pelos brasileiros na constelação de Monoceros; por estar tão próximo da estrela os ventos não teriam varrido o gás, mantendo assim a lógica da existência dos planetas interiores e exteriores. A “armadilha de maré” justifica isso?
    Parabéns aos pesquisadores!

    Ruy

    1. Tem que ver que planetas gigantes gasosos têm muito gás pra varrer. Não dá tempo de varrer tudo. 🙂

  17. Esta seria uma grande contribuição para a ciência brasileira. Espero que se se avalie com seriedade a participação do Brasil neste projeto.

  18. O governo brasileiro poderia financiar este projeto. Não é muito dinheiro em relação ao orçamento da união. Um projeto importante para a humanidade como este.

    1. Acho que os americanos podiam financiar. A gente entra com o céu, que eles não têm. 😉

        1. Verdade. O Chile entra com o céu, a gente entra com o telescópio, eles entram com o instrumento. Tudo certo! 🙂

        1. Hehe, tava subindo a página, lendo os comentários e pensando exatamente a mesma coisa: a grana do Geddel dava pra fazer três. Eh fd!

      1. Como tem gente que vem em uma coluna cientifica falar besteiras!???! Talvez sua vida esteja tão quanto as dos políticos, no entanto, diferentemente, aqui no Brasil ainda há muitas pessoas sérias!

      1. Você certamente está enganado. Nunca houve tão pouca fome no mundo, e isso é por causa de coisas “inúteis” como pesquisa científica. O problema da fome no mundo hoje, graças à ciência, não é de escassez de alimento, é de falha de distribuição. Tem comida para todo mundo. Só questão de distribuir. Questão política, não de investimento ou financiamento.

      2. O Edir Macedo tira dinheiro da África no seu jatinho particular e vai junto com ele para a Europa. Pergunte a ele.

  19. eita, uma gringa levantando 5 mi para “montar / construir ” algo no Brasil. acho melhor vc tirar esse destaque desta noticia.

      1. Não sei se poderíamos dizer que o telescópio soar é brasileiro. Ele é compartilhado entre Brasil, Chile, e duas instituições dos Estados Unidos. Pelo menos era assim no passado, depois eu perdi contato com o projeto. Foi construído, que eu saiba, pelos americanos. O Brasil participa, mas não é o dono.

        1. Continua sendo assim. Não é *só* do Brasil. Mas o Brasil é sócio em igualdade de condições com os americanos e já produziu diversos instrumentos e parte da infra do telescópio.

      2. Lógico, como uma base brasileira de pesquisas avançadas que fica na antártica, onde se tem as amostras para pesquisas, tão quanto a do Chile, local mais perto com a altura para observação! Vamos ser mais técnicos e menos cuidadores dos nossos umbigos!

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