A primeira detecção tripla de ondas gravitacionais

O estudo das ondas gravitacionais a cada dia fica mais interessante. Pela primeira vez, uma identificação foi feita simultaneamente por três diferentes detectores. Desta vez, além das instalações gêmeas do LIGO, o observatório de ondas gravitacionais americano, o sinal também foi detectado pelo Virgo — um equipamento similar aos dois do LIGO, mas localizado na Itália.

As ondas gravitacionais são uma das predições mais espantosas da teoria da relatividade geral, concebida por Albert Einstein. O físico sugeriu que objetos com massa em movimento pelo espaço poderiam produzir marolas nele, do mesmo jeito que uma pedra atirada num lago gera ondas irradiadas em todas as direções. A primeira detecção do fenômeno, ocorrida em 2015 e anunciada em 2016, foi enormemente festejada pela comunidade científica. Desde então, outros dois eventos do tipo foram detectados, mas sempre pelos mesmos detectores.

Agora, além de colocar para dormir de forma definitiva os últimos desconfiados com as detecções (oferecendo uma confirmação independente por outro equipamento localizado do outro lado do mundo), o fato de ter mais detectores captando o mesmo sinal é motivo de celebração adicional. Com mais pontos de detecção, é possível estimar de forma mais precisa de que região do céu o sinal das ondas está vindo.

“A precisão ficou muito maior”, afirma Odylio Aguiar, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e membro da colaboração LIGO-Virgo, responsável pela detecção. “Fechamos a origem do sinal a uma área de apenas 30 graus quadrados.”

Comparação entre a área do céu de onde podiam vir as ondas gravitacionais com o LIGO (em azul) e com a combinação LIGO-Virgo (em amarelo). A região branca é a região do sinal refinada após análise cuidadosa dos dados. (Crédito: LIGO/Virgo)

Claro, em termos astronômicos, 30 graus quadrados ainda é um bocado de céu para vasculhar. Mas já torna mais crível que futuras detecções de ondas gravitacionais possam vir pareadas com algum fenômeno que se possa observar com telescópios.

Não era o caso desta detecção em particular. A exemplo das outras detecções feitas até agora pelo LIGO (esta é a quarta), ela envolveu a colisão de dois buracos negros, um com 31 vezes a massa do Sol e outro com 25 vezes a massa do Sol. Eles espiralaram um em direção ao outro e colidiram há 1,8 bilhão de anos. As ondas gravitacionais que emanaram do processo então viajaram à velocidade da luz em todas as direções e encontraram os três detectores na Terra no dia 14 de agosto deste ano — apenas duas semanas depois que o Virgo começou oficialmente a colher dados.

Os eventos detectados por ondas gravitacionais até o momento, todos envolvendo colisões de buracos negros. (Crédito: LIGO/Virgo)

Espera-se que, no futuro, os três observatórios de ondas gravitacionais — e outros que devem entrar em operação nos próximos anos — façam muitas outras detecções como essa, quem sabe envolvendo estrelas de nêutrons, objetos menos massivos que os buracos negros que poderiam, numa colisão, produzir um sinal visível aos telescópios convencionais.

O resultado foi aceito para publicação no periódico “Physical Review Letters”.

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Comentários

  1. Oi Salvador!
    Nas primeiras detecções, eu fiquei realmente extasiado. Temos uma equipamento para ouvir esse fenômeno, e ainda poder ter mais uma concordância com a relatividade, tudo isso é simplesmente demais.
    Agora tenho pensado e me preocupo sobre o que essa tecnologia ainda pode dar. OK, as ondas existem, a gente mapeia as fusões… E daí? O que mais pode sair dessa cartola? Temo que talvez seja meio exagerado achar que vamos obter tantas informações novas como quando da invenção do radiotelescópio… O que você acha?

    1. Cara, se você pensar que detectores de ondas gravitacionais como o LISA poderiam detectar as ondas do próprio Big Bang, reconstruindo a história do Universo desde o instante t=0, não vejo como pouca coisa, não. Além disso, há muito que precisamos descobrir sobre colisões de estrelas de nêutrons e a natureza dos buracos negros que as ondas gravitacionais podem ajudar a elucidar. Numa das detecções, por exemplo, eles encontraram evidência de rotação no buraco negro em colisão — uma predição teórica, mas jamais observada, que nos leva a entender melhor esses misteriosos objetos. Sem falar no desconhecido! Uma vez que você abre uma nova janela de observação, é quase certo que vá ver coisas que ninguém imaginava antes! É pelo desconhecido, mais do que pelo previsível, que fazemos essas coisas!

    2. Cara, se você pensar que detectores de ondas gravitacionais como o LISA poderiam detectar as ondas do próprio Big Bang, reconstruindo a história do Universo desde o instante t=0, não vejo como pouca coisa, não. Além disso, há muito que precisamos descobrir sobre colisões de estrelas de nêutrons e a natureza dos buracos negros que as ondas gravitacionais podem ajudar a elucidar. Numa das detecções, por exemplo, eles encontraram evidência de rotação no buraco negro em colisão — uma predição teórica, mas jamais observada, que nos leva a entender melhor esses misteriosos objetos. Sem falar no desconhecido! Uma vez que você abre uma nova janela de observação, é quase certo que vá ver coisas que ninguém imaginava antes! É pelo desconhecido, mais do que pelo previsível, que fazemos essas coisas!

    3. Cara, se você pensar que detectores de ondas gravitacionais como o LISA poderiam detectar as ondas do próprio Big Bang, reconstruindo a história do Universo desde o instante t=0, não vejo como pouca coisa, não. Além disso, há muito que precisamos descobrir sobre colisões de estrelas de nêutrons e a natureza dos buracos negros que as ondas gravitacionais podem ajudar a elucidar. Numa das detecções, por exemplo, eles encontraram evidência de rotação no buraco negro em colisão — uma predição teórica, mas jamais observada, que nos leva a entender melhor esses misteriosos objetos. Sem falar no desconhecido! Uma vez que você abre uma nova janela de observação, é quase certo que vá ver coisas que ninguém imaginava antes! É pelo desconhecido, mais do que pelo previsível, que fazemos essas coisas!

    4. Cara, se você pensar que detectores de ondas gravitacionais como o LISA poderiam detectar as ondas do próprio Big Bang, reconstruindo a história do Universo desde o instante t=0, não vejo como pouca coisa, não. Além disso, há muito que precisamos descobrir sobre colisões de estrelas de nêutrons e a natureza dos buracos negros que as ondas gravitacionais podem ajudar a elucidar. Numa das detecções, por exemplo, eles encontraram evidência de rotação no buraco negro em colisão — uma predição teórica, mas jamais observada, que nos leva a entender melhor esses misteriosos objetos. Sem falar no desconhecido! Uma vez que você abre uma nova janela de observação, é quase certo que vá ver coisas que ninguém imaginava antes! É pelo desconhecido, mais do que pelo previsível, que fazemos essas coisas!

      1. Oi, Salvador! Sem querer, você postou 4 vezes a sua resposta ao comentário do Peter sobre o Ligo-Virgo (03/10/2017 11:24am) 🙂

    5. Na teoria a velocidade da luz é de 300.000km/s no “vácuo”. A “onda” gravitacional, segundo o artigo, tema mesma velocidade. É mesmo ? O vácuo.nao é vácuo. Marolas ? Qual é o tecido do “vácuo” ? Ele tem “permeabilidade”.

      1. Ralfo, você está confundindo coisas. O vácuo é vácuo. As marolas são na geometria do espaço, e o espaço em si não precisa ter substância para isso: como dissemos, é vácuo. Imagine que o espaço você pode variar entre uma geometria euclidiana (em que a soma dos ângulos de um triângulo dá 180 graus) para uma geometria não euclidiana (que a soma dos ângulos dá mais ou menos de 180 graus). É isso que varia. Se houvesse uma grade quadriculada no vácuo, ela se distorceria, encolheria e esticaria pela passagem das ondas. Basicamente porque o que determina a curvatura (a geometria) do espaço é a presença de matéria e energia nele. Como dizia John Wheeler, o espaço diz à matéria como se mover, e a matéria diz ao espaço como se curvar.

  2. Salvador, agora complicou minha cabeça. Então vamo lá.
    Como pode gerar um onda e não afetar de forma drástica ou mínima as órbitas das estrelas e planetas?
    Outra coisa se o universo é um fluido ou tecido(nenhum dos dois, pqp tá foda…)? Pois se for um tecido (matéria e energia escura) pode se dizer que, isso teria de alguma forma alterar o espaço/tempo e em todas as direções?
    Se o universo é tipo um tecido ele não poderia rasgar?
    A teoria o Big rip?
    Eu prefiro acreditar na teoria do Big crunch, ciclo natural, Reboot, já parou pra pensar nisso?
    Teorias sobre os buracos, já li e assisti um monte coisas, o que vc mais aceita teoricamente sobre eles?
    Caramba, chega.
    Abraços.

    1. A amplitude da onda diminui com a distância. Quando chega a nós, é menor que um milésimo do diâmetro de um próton. Então, afora as proximidades imediatas do sistema, não há grande impacto — o espaço é bem espaçoso, e as coisas não costumam estar tão amontoadas.

      E, sim, o tecido do espaço pode em tese se rasgar. Mas pelo que medimos da quantidade de matéria e energia nele, não vai acontecer. Como também não vai acontecer Big Crunch.

      Sobre buracos negros, não tenho opinião formada sobre o que há dentro deles — a teoria não serve de guia para isso.

      Abraço!

  3. Salva,
    E o possível evento com contra-parte ótica em 17/08? Houve vários rumores, tem notícia até na Nature…

    1. Como a área a vasculhar era imensa, será difícil confirmar isso. Talvez possamos fazer retrospectivamente, quando encontrarmos eventos semelhantes com contrapartes ópticas semelhantes e com maior precisão da direção.

  4. Salva, desculpa a pergunta meio primária, mas não consigo entender como se mede a distância dos objetos a partir das ondas gravitacionais. Tampouco entendo como o quanto um objeto é maior que o outro pela energia dissipada pelo impacto. Você poderia me explicar?

    1. As ondas gravitacionais não são emitidas só na colisão. Elas são emitidas, a rigor, o tempo todo, e sua intensidade aumenta quanto mais perto estão os dois buracos negros, espiralando cada vez mais depressa, até haver a colisão e a subsequente dissipação das ondas. Então, você tem todo um padrão para analisar.
      https://www.ligo.caltech.edu/system/avm_image_sqls/binaries/89/page/whitedata_strain_SNR_qscan_v11Vhigh.jpg?1506626321
      Este imagem mostra tanto a relação sinal/ruído, acima, quanto o sinal modelado, abaixo. Esse padrão específico de ondas gravitacionais é descrito pela relatividade geral e só pode corresponder a um sistema como o descrito, em termos de massas e distâncias.

  5. Velho, parabéns pelo trabalho de divulgação científica na área da astronomia. E também pela paciência com leitores que confundem a astronomia com astrologia e outros esoterismos. Cancelei a assinatura da Folha, mas não aguentei ficar sem sua coluna. Forte abraço.

  6. Parabéns Salvador !
    Excelente matéria.
    Agora, fico na torcida para acontecer uma colisão de estrelas de nêutrons aqui nas redondezas do sistema solar, e sacudir esses detectores até o fundo de escala de suas medições.

  7. Salvador, o que você acha da iniciativa de bancos como o Itaú que promovem supostamente o incentivo à cultura (com programas de leitura) para captar milhões em recursos públicos de beneficios fiscais? Alguem vai fazer alguma coisa, ou os reaças, o capital e seu poder vão calar a todos como sempre?

    1. Eu não vejo problema com programas de incentivo à cultura financiados com renúncia fiscal. Acho que é preciso avaliar de forma criteriosa os projetos, mas a ideia em si considero boa. É público e notório que a iniciativa privada sabe gastar melhor que o setor público. Se a iniciativa privada tem um projeto que tem valor público e quer executá-lo ou financiá-lo com recursos oriundos de renúncia fiscal, tendo a acreditar que o dinheiro será mais bem gasto do que se fosse ao governo. Mas, de novo, tudo passa pelos critérios de aprovação dos projetos. A Lei Rouanet não é ruim por si mesma; ruim foi o uso que se deu a ela, por falta de exercício criterioso de seleção de projetos.

  8. Saudações científicas, Salv-Nog. Aproveito a oportunidade para levantar uma questão. Fiquei sabendo, navegando pela internet, no máximo dez dias atrás, mas não me lembro onde li, que buracos negros podem rotacionar. Alguns deles podendo, inclusive, ter uma velocidade de rotação próximo da velocidade da luz. Isto quer dizer o quê? O quê gira? A singularidade? Também o horizonte de eventos? Tudo entre a singularidade e o horizonte de eventos? O horizonte de eventos tem apenas existência matemática? Ou, também física? Isto é, por exemplo, um campo? No caso, giratório, a incrível velocidade? Além disso, tudo que gira está sob a tensão de forças centrípetas e centrifugas? E se a velocidade de rotação vai se aproximando da velocidade da luz, pode chegar num ponto crítico de ebulição? onde a força centrifuga pode se igualar e até mesmo superar a tremenda força, centrípeta? de atração gravitacional do buraco negro? E nesse caso, ele pode explodir? Se desintegrar? Ejetar e perder matéria ou energia centrifuga? Por outro lado, se ele se rotaciona, tudo que vier do universo, na mesma direção da rotação, é sugado, e muito mais rapidamente? No caso oposto, tudo que vier do universo, na direção oposta à rotação, pode ser repelido e ejetado, violentamente? de volta? E no caso dos polos, seria idêntico ao caso de um buraco negro sem rotação? Salv-Nog, sorry, só sei fazer e formular perguntas… conto com você, para as respostas. Para o meu aprendizado, e aprofundamento do meu conhecimento de curioso… a respeito. Grato.

    1. O que gira é o que está dentro do horizonte, arrastando o espaço-tempo consigo na borda externa do horizonte. Agora, o que está dentro do horizonte? Aí não sabemos, pois nossas teorias nos falham nessa hora.

  9. E pelo jeito o bug não acontece só quando estão postando, atualizei a página aqui e apareceu o Milan, que já tinha comentado faz tempo…

  10. Salvador, off:

    1- Imaginando que houvesse um universo além do nosso, é de todo desprovida a ideia de portais possibilitando o transporte físico de objetos entre eles? Imagino, pelo que sei, que a resposta é inconclusiva, pois não temos como testar a hipótese de universos além, mas não custa tentar… 😛
    2- Se já contássemos com a capacidade de gerar a energia necessária e estivéssemos quase prontos pra testar uma tecnologia possibilitando gerar um buraco de minhoca, apostaria que iria funcionar ou não?

    1. A respeito dos portais, esqueci de mencionar se portais tem alguma base teórica, enfim, alguma verdade, ou se é pura especulação.

    2. Não tinha parado pra pensar, mas acho que portais e buracos de minhoca são parecidos, devo ter falado besteira 😛

    3. 1- É um problema mais capcioso, porque viola a conservação de energia. Se você transferir qualquer coisa de um universo a outro, um ficará com mais energia e o outro com menos. Vale também para viagem no tempo rumo ao passado. O passado acaba com mais energia, e o futuro com menos, com a violação da conservação de energia. Então, mesmo que fosse possível criar portais entre universos, não sei se a natureza permitiria esse trânsito.

      2- Não, pelas razões mencionadas acima. A causalidade é violada de maneira tão brutal e fundamental com buracos de minhoca que tendo a crer que eles sejam proibidos pelas leis da física, embora, até agora, não tenhamos encontrado tal proibição.

          1. Pra mim é o melhor filme de ficção científica da história do cinema. Bom, considerando que 2001 é muito mais um questionamento sobre a vida e sobre o binômio criador-criatura do que propriamente ficção científica.

            Salva, faz aí um ranking rápido dos teus ficção científica preferidos. Vai que tenha alguma coisa boa que eu não vi ainda (já que tá prometendo chuva no finde e a dona patroa tá naqueles dias…..)

          2. Ah difícil. Não sou muito de ranking, não… Vou citar alguns aleatoriamente: 2001, Blade Runner, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, IA, Solaris (o soviético)…

          3. Coloque aí, também, Mars (o do Matt Damon), o recente Passengers… O Quinto Elemento (esse está mais para comédia de suspense, mas é muito bom) 🙂

            E os filmes baseados em fatos reais Os Eleitos (The Right Stuff) e Apollo 13, espetaculares.

      1. Pois é, gênio Salvador… Aliás, desculpando-me pela divagação exagerada, aproveitando-me dos “ganchos”, tanto do Fabio “imaginando que houvesse um universo além do nosso”, bem como o seu “de um Universo a outro”, bem como o do Óliver “algo massivo onde todo o universo gira em redor”, face nossa capacidade de observação visual limitar-se à luz que tenha tempo suficiente para chegar até nós, será que é possível você especular quanto à forma, tamanho, geometria, ou se a disposição do “nosso” Universo também é giratória e espiralada, ou…, se caso existirem outros Universos, provavelmente OU cada “Universo” estaria à seu tempo, dependendo de seu particular “Big-Bang”, ou TODOS esses Universos estariam relativamente juntos/próximos, cada Universo comportando-se como comportam-se as Galáxias/Superaglomerados pertencentes ao “nosso” Universo? OU isso é “especular demais”?????

      2. >> É um problema mais capcioso, porque viola a conservação de energia. Se você transferir qualquer coisa de um universo a outro, um ficará com mais energia e o outro com menos.

        Mas se você considerar que universo A e Universo B fazem parte de algo maior que vamos chamar de megaverso e estipular que a lei da conservação na realidade vale para o megaverso, então não funciona ? A energia nao esta sendo criada ou destruida a mesma quantidade de energia se mantem no megaverso.

        1. Sim, nessa situação específica, funcionaria. Mas o problema é que essas passagens também permitiriam viagens no tempo rumo ao passado no megaverso, então você acabaria com um problema de conservação mesmo no âmbito do megaverso.

  11. Salvador, boa noite! Fiquei com uma dúvida simples. Da mesma forma que ondas eletromagnéticas que se propagam pelo universo tem seu comprimento de onda “alongado” ao longo do tempo, devido à expansão do Universo; existe algum efeito similar nas ondas gravitacionais? Isto é, a distorção do espaço também é “dilatada” devido à expansão do Universo?

    1. Essa é uma ótima pergunta. Não sei nem qual seria a resposta teórica. Na prática, poderíamos testar isso comparando ondas gravitacionais emitidas de diferentes distâncias. Mas até agora temos poucas detecções.

  12. Olá, Salvador. Sabe-se a causa das ondas, o tamanho dos dois buracos negros, há quanto tempo houve a colisão, mas não se sabe onde? 30 graus quadrados?

    1. Isso. Porque o padrão do sinal indica o evento, mas para calcular a localização no céu você precisa de múltiplos pontos de observação — a triangulação da localização se faz pela diferença mínima de tempo entre as detecções, em razão da velocidade finita das ondas gravitacionais. E aí quanto mais pontos de observação, menos lugares compatíveis com a diferença de tempo no céu existem.

      1. Tá. Mas como saber o tamanho dos buracos negros que colidiram se não se sabe onde estão? Poderiam ter 28 vezes a massa do sol cada um, por exemplo?

        1. O padrão de ondas indica isso. Os cientistas analisam o padrão de ondas e veem qual modelo se encaixa melhor à observação. As ondas não são simétricas, então você pode deduzir que um objeto tinha mais massa que outro.

      2. Pergunto então como o evento (colisão de buracos negros) pôde ser identificado. Acredito que devam existir muitos tipos de colisões no Cosmo…

        1. Pela massa dos objetos e, ao mesmo tempo, a ausência de sinal luminoso, além de seguirem exatamente o padrão previsto pela relatividade (a mesma teoria que prevê os buracos negros) em sua espiral até a colisão.

      3. Salvador, desculpe a minha ignorância, mas, quem não pergunta não pode aprender, assim, pergunto: Como seria o “tecido espacial”? Como é que uma onda gravitacional viaja pelo espaço? Imagino que haja vácuo absoluto separando a maioria das estruturas siderais, entendo como a luz e outras radiações viajam pelo espaço, já que não precisam de um meio físico para se propagar, mas, a gravidade não possui partícula (gráviton, creio que teorizaram alguma vez), e uma estrela, ou um buraco negro, por exemplo, deforma o espaço/”tecido espacial” ao seu redor, porém, este efeito é limitado em termos astronômicos. Grato pela atenção.

        1. O “tecido” é a própria geometria do vácuo. Imagine não que ele é algo físico, real, que você possa pegar com a mão, e sim que ele é descrito pela geometria que se pode fazer nele. Então, num espaço curvado, a geometria euclidiana deixa de ser euclidiana (os ângulos de um triângulo não somam mais 180 graus). É como se as ondas gravitacionais — e qualquer distúrbio gravitacional, na verdade — mudasse as regras da geometria naquela região do espaço.

      4. Exatamente como um aparelho de GPS: quanto mais satélites (no caso, pontos de observação), mais preciso é a localização.

      5. Na verdade três bastam, dado que no momento da medição nenhum esteja a mesma distância da fonte.

        1. Na verdade quanto mais pontos de observação melhor, porque a diferença de distância da fonte é quase nenhuma em termos da velocidade da luz. Tecnicamente, se você tivesse uma precisão de contagem do tempo arbitrariamente alta, dois bastariam. Mas, como essa precisão não é tão alta assim, quanto mais detectores afastados você tiver, melhor.

  13. Uma dúvida prosaica, leigo que sou. Como as ondas gravitacionais podem viajar à velocidade da luz? É porque não têm massa?

  14. Salvador,

    Esta estoria da detecção das ondas gravitacionais é muito bacana, por ter confirmado de forma observacional (mais uma vez) que Einstein estava correto. Mas na pratica, que tipo de descobertas, ou novos conhecimentos desses fenomenos podem ser aprendidos ou espera-se que sejam aprendidos com essas observações ?

    1. Bem, é uma forma de estudar fenômenos antes “invisíveis”, como a colisão de buracos negros. Ainda há muito mistério que cerca esses objetos, do ponto de vista astrofísico, porque são claramente difíceis de ver. Espera-se também que o LIGO-Virgo possa estudar colisão de outros objetos massivos, como duas estrelas de nêutrons, coalescendo para virar um buraco negro — isso deve ser muito interessante e ajudará a testar nossos modelos de como esse processo violentíssimo se dá. Por fim, indo além do LIGO-Virgo, futuros detectores de ondas gravitacionais poderão buscar os sinais do próprio Big Bang, o que seria incrível e levaria o conhecimento observacional que temos do nascimento do Universo dos atuais 380 mil anos após o Big Bang (radiação cósmica de fundo) até uma fração de segundo depois do Big Bang (esse período nós podemos descrever com a teoria, mas não temos referência observacional direta). Isso sem falar nos testes que as ondas gravitacionais oferecem da teoria da relatividade geral. Na prática, abriu-se uma nova janela de observação para o Universo, que nos conta sobre os eventos gravitacionalmente mais dramáticos — o mais dramático deles, claro, sendo o nascimento do próprio Universo. Então, é seguro dizer que o estudo das ondas gravitacionais está só no começo.

      1. Buracos negros antes “invisíveis” “são claramente difíceis de ver”?
        Parabéns por mais uma pérola…

        1. Fiquei procurando isso no texto para corrigir, mas pelo visto é nos comentários, né? Os comentários respondo com pressa, não fico tomando muito cuidado com formalismos. Espero que tenha dado para entender.

    2. Lembro apenas que o cientista que primeiro detectou as ondas eletromagnéticas afirmou categoricamente “que elas não serviam para absolutamente nada”.

      Hoje é difícil imaginar como nossa civilização seria sem elas.

  15. bom dia Nogueira ( off topic )
    se nosso planeta orbita o sol , nosso sistema solar orbita a via láctea em um de seus braços , seria logico termos algo extremamente massivo onde todo o universo gira ao redor ?

    1. Não. O que vemos é que existem superestruturas até uma dada escala — a dos superaglomerados. Depois disso, o Universo parece mais ou menos diluído e se espalhando em todas as direções — descrição compatível com o que esperaríamos dos efeitos do Big Bang.

  16. Salva , quando as ondas gravitacionais começão a servir de base para comprovação de teoria Einsteniana, me faz remeter que Ele já admitia a onda crepuscular naqueles tempos, e que muita coisa entorno de Einsteim possa estar como mera apologia, e que se o próprio estivesse vivo, muitas das coisas(teorias) as quais se atribui a ele estariam desmistificadas pelo próprio Einsteim.
    para mim esta teoria de espaço distorcido, parece algo como domo , terra plana, terra oca, não acredito que Einsteim propôs a tal teoria como vem estando divulgada em nossos tempos.

    1. Salva, aproveitando a deixa!
      Esta lá um corpo estendido do plasma do sol!
      Verifica o que aconteceu entre as 0:00 horas e 5:00 horas do dia 27/09 em Lasco C3, vindo da sugerida e suposta janela de Peixes-Cetus!
      Isto que te digo! existe algo lá , as incidências evidenciam como ciência comprovatória!
      isto esta método científico!
      com três dias de defasagem da data de 23/09/2015!
      penso que o asteroide do ano passado possa estar a própia mula ou então não veio, ou se desfez antes de chegar ao sol e por isso não gerou imagens possíveis de estar captada como as anteriores!
      poderia enviar o link mas como você esta o tal de block link deixo pra próxima!
      dependendo da defasagem de 1:003 , e em que ponto em defasagem estamos do ponto j-Dec de onde ele esta vindo, cientistas poderiam prever uma nova mula pro ano que vem e o provável causador disso tudo!.
      você que sabe muito com certeza tem mais facilidade de dizer o que tem lá no angulo de onde eles estão vindo!
      A respeito das imagens eu apenas faço a captura! os responsáveis por elas estão os sites , que as produzem, o widewise telescope e o google earth usando imagens de agências confiáveis!
      não entendo porque? você modera meus links! vlw!

  17. As ondas gravitacionais são uma possível consequência da covariância de Lorentz da teoria da relatividade. Em se tratando de curvaturas de espaço tempo gostaria de saber o que acontece entre uma onda e outra, já que a velocidade de propagação da onda respeita a velocidade da. luz. Existem velocidades maiores que a velocidade da luz entre uma onda e outra? Se calcularmos a onda em linha reta veremos que a distancia percorria e bem maior do que a distância da onda como um todo.

      1. Falo sobre os picos de amplitude da onda, que se somados num modelo linear são maiores que a trajetória linear da onda.

        1. Certo, mas qual é o problema? É o mesmo caso da radiação eletromagnética. Você pode manipular os picos para que a velocidade deles seja maior que a da onda de luz em si (já foi feito com luz!), mas isso não viola a causalidade, nem a relatividade geral.
          Aqui um bom — e curto — artigo do Marcelo Gleiser sobre isto: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0608200004.htm

          1. Se eu sugerido isto iria parecer sem sentido lero lero. …
            Então vamos lá, por logica, teoria, talvez não so do meu discernir…
            Acredito que o plasma possa estar manipulado pra viajar em milhões de instantes mais rápido que a luz.

  18. Maravilha de notícia!!! A força da ciência sempre esteve no fato de eventos novos poderem ser observados independentemente por observadores distintos, e eles poderem comparar os resultados medidos. Isto acontece agora para a detecção de ondas gravitacionais, numa velocidade vertiginosa, já que sua primeira detecção aconteceu, em escala histórica, neste exato momento!

    Se só o LIGO tivesse detectado, conspiracionistas espíritos-de-porco de plantão poderiam tentar questionar sua validade. Com o LIGO gêmeo funcionando, dificulta um pouco, mas ainda podiam colocar em questão o fato do grupo tentar manipular a informação para forjar uma concordância.

    Mas um terceiro detector totalmente independente dos dois primeiros captar a mesma coisa… bom, aí já se desfazem as dúvidas para qualquer mente minimamente racional, e qualquer dúvida lançada sobre as medições claramente parecerá ridícula para mentes minimamente inteligentes… 🙂

    1. sem contar que detectar o evento em sensores diferentes, espacialmente deslocados, permite uma possibilidade valiosa de extrapolar uma triangulação capaz de mostrar exatamente onde o evento aconteceu! 🙂

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