Michael Shermer e a ‘bolha’ das redes sociais

Salvador Nogueira

Saiu nesta sexta-feira (6) na Folha uma entrevista que fiz com Michael Shermer, historiador da ciência e cético americano. Ele fala um monte de coisas importantes e interessantes, mas eu queria destacar um trecho em particular do que ele disse:

Outro problema é o fato de as empresas de redes sociais, como o Facebook, terem algoritmos que o alimentam com notícias baseadas no que você já está buscando, então sua bolha vai ficando cada vez pior, mesmo que você não se esforce para isso. Você tem de ativamente procurar e ler pontos de vista contraditórios.
(…)
Sabemos por estudos de cientistas políticos que os partidos estão ficando mais extremados, estão se afastando do centro. Quer dizer, os eleitores indecisos, aquele grupo do centro está ficando menor, enquanto esquerda e direita estão ficando maiores e se afastando. E isso, em parte, é alimentado pela bolha.

Isso me preocupa, porque a mente humana é projetada para fazer isso. Somos muito xenofóbicos e você pode dividir, classificar pessoas em qualquer categoria que quiser, não apenas cor da pele ou gênero, mas partido político, ideologia, crenças religiosas.

Acho muito importante que todo mundo reflita sobre isso e aja, em sua própria esfera, para contrabalançar esse efeito nefasto. Temos de ouvir opiniões diversas e respeitar diferentes pontos de vista, e isso não é novidade. Mesmo na era anterior à internet, as pessoas já diziam como era salutar ler dois jornais diferentes, por exemplo. Só que a situação agora está se tornando dramática. As redes sociais estão extraindo o pior da nossa natureza, e isso não é em benefício da civilidade ou da civilização. Podemos dar sérios passos para trás se não tomarmos muito cuidado agora. Temos de responder aos desafios do nosso amadurecimento tecnológico com o melhor da humanidade, nos esforçando para ouvir todas as opiniões, não deixando ideologias se sobreporem à razão, e respeitando pontos de vista alternativos.

Caso você queira ler o texto completo, clique aqui. E a íntegra da entrevista, devidamente gravada, já está guardada para a segunda temporada do CONEXÃO SIDERAL, ainda sem data de estreia no canal do Mensageiro Sideral no YouTube.

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Comentários

  1. Mais um off.

    Salvador, não acha que a imprensa, salvo algumas exceções, apenas sobrevive e em um estado quase terminal hoje em dia?

    Exemplo maior a gente tá tendo nestes últimos dias: em todo lugar a gente lê que cesare battisti,condenado à prisão perpétua por 4 homicídios, é um simples ‘ativista’? Como pode?

    Claro, poderia citar tantos outros exemplos dos absurdos publicados quase diariamente, muitos inclusive relacionados à ciência, mas desanima…

    1. Ele foi condenado pela Justiça de um país, mas recebeu asilo político do nosso país. Quem recebe asilo político é ativista. Então, quem fez esse juízo foi o governo brasileiro, não a imprensa. E acho difícil que qualquer matéria sobre ele não mencione de que ele é acusado e foi condenado na Itália. Por fim, nada impede que ativistas sejam assassinos, então não há contradição no caso em questão.

      Agora, sobre a imprensa em geral, mentiria se dissesse que não está com problemas. As mudanças tecnológicas estão destruindo a receita das empresas jornalísticas, e o resultado é jornalistas mais baratos e menos preparados nas redações.

      1. Salva, dizer que “quem recebe asilo político é ativista” não seria o mesmo que dizer “quem é absolvido é inocente”? Estás tomando o efeito pela causa.

        Concordo contigo que ele TAMBÉM é ativista, e que tecnicamente não haveria erro em dizer “O ativista Battisti foi solto”. Porém, vamos combinar que omitir o fato de ele ter sido condenado por crime COMUM pelo poder Judiciário legalmente constituído em um país democrático como a Itália, é um pouco de má-fé, ou no mínimo, descompromisso com a correção da informação.

        Pergunta pessoal: VOCÊ acha que o Brasil deveria extraditá-lo para a Itália, ou concorda que ele seja mantido sob asilo? Neste caso, de ele ficar no Brasil, você acha que ele deveria ficar solto, ou preso?

        1. Não, não estou tomando o efeito pela causa. Eu acho bastante óbvio que, se o governo concede asilo político a alguém, é porque esse alguém é ativista — aos olhos do governo. Tudo que eu disse é que não foi a imprensa que o rotulou de ativista, foi o governo. Se ele é ou não é objetivamente, são outros 500.

          O mesmo diz respeito aos absolvidos. Aos olhos da Justiça são inocentes. Aos seus podem não ser. Mas o que conta é a Justiça nesse caso, que presume a inocência (ainda bem).

          Pessoalmente, acho que ele já devia ter sido extraditado lá atrás. Temos acordos de extradição e ele é acusado de crimes sérios na Itália. O Brasil não poderia tê-lo abrigado como o fez. De novo, na minha opinião. Não sou o dono da verdade.

          1. Perfeito, agora ficou esclarecido. Do jeito que você tinha dito, pareceu que você estava-o considerando ‘ativista’ PORQUE ele recebeu asilo.

            Só uma pequena correção chata mas oportuna: ele não é ACUSADO de crimes sérios na Itália, ele é condenado com trânsito em julgado. Para o leigo não há grande diferença, mas juridicamente sim. 😉

          2. Você mesmo disse que o absolvido pode não ser inocente. Por consequência, o culpado pode ser inocente também. Como eu não preciso seguir a Justiça italiana, para mim ele é só acusado. 😛

          3. Não.

            Ele não é acusado de nada, não paira mais sobre ele nenhuma acusação, pois o processo já terminou.

            Como você não precisa seguir a Justiça italiana, você pode não considerá-lo culpado, mas condenado ele é.

            ‘Condenado’ é um status processual formal, não uma condição pessoal de culpa material.

          4. OK, ele é condenado na Itália, mas pode não ser culpado. Tá bom assim para você?

      2. Sobre a imprensa em geral: acabei de descobrir, lendo o G1, que Trinidad e Tobago fica na África.

    2. Como esse fabio é chato, é um puxa-saco que enche a paciência com esses “off” a toda hora.

      1. Eu acho ruim porque às vezes dá a impressão de que ele só quer ver o circo pegar fogo. Mas respeito o interesse que as pessoas — qualquer pessoa — podem ter na minha opinião e tento responder sempre com honestidade. Espero que seja útil para alguém, em vez de meramente gerar controvérsias.

        1. Ok, Salva, confesso que extrapolei bastante nos últimos tempos. Não é em todo lugar que a gente acha espaços democráticos como este, sendo conduzidos por quem realmente entenda do assunto proposto pelo blog. Por isso é natural que nos sintamos tentados a saber a opinião do Salvador sobre temas mais polêmicos.
          Se eu não me comportar mais, podem me dar bronca 😛

          E pro gás Hélio aī, calma lá cara, você tem sido muito mais mala que isso 🙂

          1. Huahuhauha, tudo na paz, gente. Mesmo que tretemos, acho muito rica essa convivência civilizada e inteligente com opiniões diversas. Quantos blogs por aí podem dizer que têm isso, uma audiência variada em opinião capaz de discutir de forma inteligível, ponderada e civilizada tantos assuntos polêmicos? Às vezes desgasta, mas tenho um baita orgulho da turma que vem aqui todo dia bater papo sobre astronomia e, às vezes, temas da ordem do dia. 🙂

          2. ” mas tenho um baita orgulho da turma que vem aqui todo dia bater papo ”

            EU INCLUSIVE?? 😀 😀 😀

      2. Desculpem, mas nesse caso, o Fábio NÃO foi tão “off” assim, pois o assunto deste post é justamente a confiabilidade das notícias e o impacto divisório que as redes sociais estão provocando. Redes antissociais, isso sim… 🙁

    3. O que me deixa mais assustado é o cara usar uma informação vinda da mídia “condenação por homicídios” pra argumentar outra coisa que ele acredita ser a sua verdade. Ou seja quando a mídia diz que é assassino ok, quando diz ser ativista está em estado terminal..
      Salvador gosto do seu blog e das suas opiniões porque você sempre busca a verdade.. Parabéns.. Agora tem gente que Deus do céu.. Não estou aqui pra defender o Batisti, mas estudei sobre os anos de chumbo da Itália e sei que a verdade sobre os fatos é quase impossível de alcançar.. Não gosto de dar minha opinião pra não criar discussões.. Mas tem hora que não dá.. Abraços e parabéns novamente..

      1. Pra mim seu argumento simplesmente deu voltas e não chegou a lugar nenhum. Espero que dê pra esclarecer melhor. Abraços

  2. Salva,
    Como você sabe também sou agnóstico…! Mas para os frequentadores que adoram discutir religião aqui no blog, tomo a liberdade de reproduzir este texto de Pierre Teilhard de Chardin (Nascido em Orcines, 1 de maio de 1881 — Falecido em Nova Iorque, 10 de abril de1955), que foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia:

    “A religião não é apenas uma, são centenas.
    A espiritualidade é apenas uma.
    A religião é para os que dormem.
    A espiritualidade é para os que estão despertos.
    A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.
    A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.
    A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
    A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.
    A religião ameaça e amedronta.
    A espiritualidade lhe dá Paz Interior.
    A religião fala de pecado e de culpa.
    A espiritualidade lhe diz: “aprenda com o erro”..
    A religião reprime tudo, te faz falso.
    A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!
    A religião não é Deus.
    A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus.
    A religião inventa.
    A espiritualidade descobre.
    A religião não indaga nem questiona.
    A espiritualidade questiona tudo.
    A religião é humana, é uma organização com regras.
    A espiritualidade é Divina, sem regras.
    A religião é causa de divisões.
    A espiritualidade é causa de União.
    A religião lhe busca para que acredite.
    A espiritualidade você tem que buscá-la.
    A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
    A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.
    A religião se alimenta do medo.
    A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.
    A religião faz viver no pensamento.
    A espiritualidade faz Viver na Consciência..
    A religião se ocupa com fazer.
    A espiritualidade se ocupa com Ser.
    A religião alimenta o ego.
    A espiritualidade nos faz Transcender.
    A religião nos faz renunciar ao mundo.
    A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.
    A religião é adoração.
    A espiritualidade é Meditação.
    A religião sonha com a glória e com o paraíso.
    A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.
    A religião vive no passado e no futuro.
    A espiritualidade vive no presente.
    A religião enclausura nossa memória.
    A espiritualidade liberta nossa Consciência.
    A religião crê na vida eterna.
    A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.
    A religião promete para depois da morte.
    A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

    “Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual…
    Somos seres espirituais passando por uma experiência humana… ” “

  3. A Ciência é o instrumento que vai arrasar a humanidade, teremos um futuro propício apenas para as máquinas dotadas de IA. Os seres humanos estarão indefesos diante de um cenário de destruição produzido pela crescente degradação ambiental. E não vamos precisar de séculos para ver isso, alguns de nós vão poder testemunhar essa triste realidade…

    1. Não é impossível que isso seja verdade. Por outro lado, se o passado for um sintoma do futuro, é exatamente o oposto. A ciência elevou a expectativa de vida média de 25 anos para 75 anos em escala global (nos países mais desenvolvidos, ainda mais; no Japão, ela já passa de 84 anos) e aumentou a qualidade de vida, reduziu a miséria e a fome (hoje em muitos países obesidade é um problema maior que desnutrição) e democratizou o acesso à informação e à cultura. Nada mau. Se o futuro acabar vendo a criação de uma inteligência artificial que nos destrua, ou a nossa adolescência tecnológica nos conduzir à autodestruição (por guerra nuclear, mudança climática, acidente ou ataque biotecnológico etc.), será uma pena. Por outro lado: isso é quem NÓS SOMOS. Não daria para não fazer ciência. O primeiro homem da caverna que pegou num pedaço de pau e concebeu a hipótese de que, com ele, poderia caçar com mais eficiência, depois testando essa hipótese numa caçada real, esse cara estava fazendo ciência. Ele só não sabia disso. O primeiro cara que notou os movimentos celestes e percebeu que, quando um certo conjunto de estrelas está no céu, é a boa época para colher, e quando um outro conjunto está no céu, é uma boa época para plantar, esse cara estava fazendo ciência também. Só não sabia disso.

      O formalismo da ciência é bem mais recente. E, com o formalismo, veio a possibilidade de massificação da prática científica, o que nos colocou numa trajetória de avanço exponencial. Mas não vejo como pudéssemos fazer diferente. A ignorância não é uma opção para humanos. Nem mesmo as épocas e regimes mais tirânicos conseguiram impedir pelo menos algumas pessoas de pensar fora da caixinha e revolucionar o mundo ao nosso redor. Mataram Giordano Bruno na fogueira, mas hoje só conhecemos o nome e as ideias dele, e nem sabemos quem foram os inquisidores que o condenaram. A ciência é uma característica intrínseca ao ser humano.

      Se morrermos por ela, não estamos fazendo nada mais que os dinossauros, que morreram por falta dela. Estamos meramente seguindo nossa natureza. Quero crer que a inteligência, além de produzir a ciência, produz também a ética, que pode nos guiar para os usos benéficos da ciência e contornar os maléficos. Mas isso exigirá consciência, esforço e cautela. Será que teremos isso em quantidade suficiente? Não sei. Mas sei que não temos escolha, senão apostar que sim, e trabalhar para que sim, espalhando a capacidade de pensar racionalmente e fazer boas escolhas tanto quanto pudermos.

      E aí ver o que o destino nos aguarda. Eu sou otimista. Acho que seremos uma civilização multiplanetária — e portanto inextinguível — em coisa de dois séculos. Então, o prazo para o seu pessimismo está se esgotando. E fico imaginando quão pessimista você seria se vivesse numa época em que metade dos seus filhos morria antes de chegar à idade adulta por falta de avanços científicos. Bem, na real, talvez você nem estivesse aqui para reclamar, se tivesse caído no lado errado do grupo nada negligenciável de 50% dos recém-nascidos…

    2. Já fiz uma uma anáfora de dez linhas sobre robôs, na matéria em que se trata da consciência do mesmo. Fiz uma mescla entre o autor da frase e a minha visão, mas teve críticas que se consumaram depois.

      No âmbito da religião e espiritualidade, é mais complicado porque pode entrar os princípios dogmáticos, e se estender este blog.

      Mas uma coisa que notei, é que o nosso colega se chama Afrânio. E se fizer a transposição dessas letras, o nome daria a-n-a-f-o-r-a, claro, excluindo acentos e a letra i. Coincidência ou não, a ciência que se preze! Hehehe!

      1. O comentário, acima se refere ao Afrânio, que fez menção sobre a religião e epiritualidade.

      2. Mário,
        Depois deste comentário não tenho mais dúvida, você precisa urgente tomar Quetiapina. Vá a uma farmácia e compre “Seroquel XRO de 300 Mg” e tome 1 comprimido pela manha.

        1. Propaganda de remédio controlado com venda exclusiva sob retenção da receita tá liberado???

  4. Bom, acho que dessa vez o post me permite lançar mais um off 🙂

    Salvador, fiquei sabendo esses dias sobre alguns itens referentes a orientações do MEC para ensino fundamental e posso dizer que fiquei assustado, o que você acha? Aqui vão alguns (e, lembrando, são pra crianças do 1° ao 5° ano)

    Professores devem:

    1- Discutir as experiências corporais pessoais e coletivas desenvolvidas em aula, de
    modo a problematizar questões de gênero e corpo.
    2- Refletir sobre as experiências corporais pessoais e coletivas desenvolvidas em
    aula ou vivenciadas em outros contextos, de modo a problematizar questões de gênero, corpo e sexualidade.
    3- Na área de Ciências Humanas a identidade de gênero deve ganhar especial destaque.
    4- Professores de Artes devem colocar em evidência questões relacionadas à identidade de gênero.

    Não acha demais incentivar as crianças de forma tão precoce em assuntos como sexualidade? Como já expus aqui, sou totalmente liberal quanto essas questões, mas estamos falando de crianças! Não seria mais saudável deixar pra adolescência?

    Pra quem tiver interesse de ler:
    http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf

    1. Eu acho que essas diretrizes são muito vagas, o que enseja algum perigo. Mas, se aplicadas de forma adequada, parecem-me todas bem razoáveis.

      Não sei se você tem filhos. Tenho um filho de 9 anos, então estou vivenciando bem essa época do Ensino Fundamental I. E vou te falar: não tem nada de muito novo em tudo isso aí, não, em termos de coisas que eles ouvem dizer. Podemos discutir se os temas estão sendo abordados de forma precoce ou não. Mas também devemos discutir o risco de esses temas aparecerem de forma precoce e inadequada fora do ambiente escolar controlado. Eu sinceramente não consigo acompanhar todos os vídeos que meu filho vê no YouTube, nem acho que seja nada menos que loucura eu ter de ver todos antes de liberar para ele ver. O que eu preciso, nos tempos em que vivemos, é mostrar abertura para discutir qualquer coisa que ele encontre por lá e agir preventivamente para explicar essas coisas.

      Crianças já falam em namoradinhos/namoradinhas desde antes do 1o ano do Ensino Fundamental. Lembro do meu moleque gostando de uma menina no último ano do jardim e levando por meses um coração desenhado na mochila, sem ter coragem de entregar para ela. Veja que não estou falando de sexualidade, estou falando desses sentimentos inocentes que as crianças têm, mas que já aludem à nossa natureza biológica.

      Acho importante que, desde esse momento, as crianças saibam que não tem nada de errado namorar pessoas do mesmo sexo e que o sexo, na realidade, não é um tabu. É algo que só adultos devem praticar, mas que, entre adultos, não é errado ou vergonhoso; é a forma pela qual humanos se reproduzem, é assim que temos filhos. Acho loucura replicar discursos de “cegonha” ou, pior, sinalizar que crianças nascem quando pessoas fazem algo que é errado, ou pecaminoso. Basta explicar. Explicar que sexo é uma coisa que adultos fazem, em resposta a reações que acontecem no corpo depois que o corpo amadurece (e é por isso que crianças não fazem sexo, elas não têm nem o aparato, nem o instinto para isso). E que tudo bem gostar de meninos ou de meninas, e ninguém é mais ou menos por isso.

      Eis outro caso que tive que mostra a importância de discutirmos essas coisas em sala de aula desde cedo. Uns dois anos atrás, coleguinhas do meu filho começaram a chamá-lo de gay e perguntar se ele era gay (ou bicha, não me lembro a palavra usada). Provavelmente porque ele ouvia youtubers imitando trejeitos gays e começou a falar algumas coisas desse jeito. Ele estava no segundo ano do Fundamental, e nem entendia o que os colegas queriam dizer com isso, o que o levou inclusive a aquiescer em alguns momentos. Ele veio me perguntar o que era “gay” — algo de que me orgulho muito, porque mostra que ele sente comigo a abertura necessária para falar sobre o que for. Explique o que era, assegurei-o de que, se fosse esse o caso e ele fosse gay, isso não era nada de errado, mas que era importante ele saber do que se tratava e que ele sempre deveria responder perguntas com honestidade: se ele não soubesse o que era alguma coisa, jamais deveria confirmar ou negar. O certo era admitir que ele não sabia o que estavam perguntando.

      Depois tive uma conversa com as professoras, solicitando inclusive que o tema fosse trazido para a sala de aula. Por se tratar de um caso de bullying, considerava fundamental que fosse abordado, pois uma das coisas mais importantes que se aprende na escola desde essa época é o respeito às diferenças e a eliminação de preconceitos. (É muito mais difícil desarmar preconceitos depois que eles estão enraizados, num adolescente, por exemplo, do que desarmar sua criação, numa idade anterior.) Achava importante que fosse textualmente dito que não havia nada errado em ser homossexual e que isso não justificava qualquer tratamento depreciativo ou descriminatório.

      Então, baseado não só nas minhas convicções pessoais, mas em experiências práticas, tenho certeza de que esses itens listados acima devem sim ser abordados nessa época da infância. Mas, de novo, o texto não explica COMO e EM QUE MEDIDA, e isso eu acho perigoso. Para lidar com um tema delicado desses, o documento deveria ser mais específico.

      Mas o que acho engraçado é as pessoas acharem que a exposição aberta de temas como sexualidade e relações de gênero a crianças, mesmo se feita da forma apropriada, colocam as crianças sob maior risco. Acho exatamente o contrário. Crianças que entendam essas coisas estão mais aptas a, por exemplo, perceber se estão sendo vítimas de assédio ou abuso sexual. Elas crescem para respeitar modos de vida diferentes sem querer julgar os outros por seus próprios padrões. Elas podem reconhecer mais rapidamente suas próprias incertezas com relação ao tema e viver sem medo ou apreensão por não preencher determinadas expectativas da sociedade. Enfim, se feito da forma correta, só pode ser benéfico. Ainda mais em se tratando de um universo de alunos que incluem muitas crianças que vivem em ambientes totalmente desestruturados do ponto de vista de orientação. Se a escola não fornecer a base, a criança pode acabar sem referência nenhuma. (Não é incomum, por exemplo, pais conservadores que JAMAIS falarão de sexo com seus filhos, seja qual for a idade. Ou famílias desestruturadas e por vezes violentas que não servem de referência nem indireta para o comportamento das crianças, salvo, talvez, como contra-exemplos.)

      1. Excelente texto, Salvador!!!
        Posso dar meu testemunho de quando eu era bem criança, cerca de 5 ou 6 anos de idade. Eu tinha, no parque infantil (uma creche para filhos de funcionários da USP), uma amiguinha da minha idade com quem brincava todos os dias e eu dizia que era minha namorada… Infelizmente, quando a mãe dela soube disso, proibiu-a de brincar comigo. eu perguntei à menina por que, ela disse “a minha mãe disse que você é bobo!”. Olha, isso foi arrasador para mim, a ponto de eu me lembrar disso 56 anos depois e marcou a minha autoestima especialmente na adolescência. Claro, a minha mãe me disse, na época: “Boba é a mãe dela”, mas não resolveu… Tudo deu certo, cresci, amadureci, formei família, aprendi, mas as marcas ficam.

        Vou guardar esse seu texto para encaminhá-lo a qualquer pessoa que me venha com esse tipo de questão (sempre informando o autor, obviamente).

        1. Radoico, emocionante depoimento, rapaz. Paixonite infantil dói mais doída mesmo. Sei por experiência própria. 🙂

          1. Por outro lado, acho que a gente faz muito drama quanto a essas coisas. Fica parecendo que estamos sendo oprimidos por injustiças que poderiam ser evitadas caso nosso mundo fosse melhor. Mas eu sou bem pessimista mesmo, não me levem muito a sério nem me odeiem pls!

      2. Salvador, seu texto é excelente e reflete exatamente a forma como eu penso. E me deixa muito feliz em saber que existem pessoas como você. Muito obrigado!

    2. Você está doente, Fábio. Pára de culpar o mundo, larga um pouco esse computador e passa algum tempo de qualidade com seu(s) filho(s), que devem estar sentindo falta de um pai presente.

      Você tem filhos, né?

      1. Você que está vendo coisas onde não tem nada.Quis saber a opinião de alguém mais entendido no assunto que eu, e só. Ás vezes um charuto é só isso: um charuto, não?
        A tal era do ressentimento 😛

    3. Acho que estas questões de gênero (dentre outras caras à cidadania) não deveriam ser “burocratizadas”. São mais responsabilidade da sociedade e do meio cultural, de maneira difusa. A escola é uma instituição que, no meu entender, já está falido, decadente. Nosso modelo de educação formal dá claros indícios de saturação. Forma indivíduos ineptos, inadequados ao mercado de trabalho e à sociedade da era da informação. Agora, querem que forme também cidadãos conscientes. Com todo o respeito, essa é a receita do fracasso. Precisamos pensar em novas formas de criar pessoas preparadas para um mundo em transformação constante e não se fechar em um modelo educacional feito para o Século XIX.

      1. Curioso: Lembrei de uma propaganda de um negão que fala com bastante entusiasmo (Lembro que um dos vídeos é sobre superação pessoal. Outro é justamente sobre educação no banco dos “réus) sobre esse assunto. Vou pesquisar e passo aqui

  5. Minha ideologia se baseia no máximo de respeito às liberdades individuais e a propriedade privada, acima até mesmo de sistemas jurídicos e estados, incluindo burocratas mundial como a ONU.

    Mas as pessoas ainda acreditam que a democracia é algo sagrado e positivo, apesar da toda comprovação histórica de que não é essa perfeição toda, e toda comprovação econômica de que isso gera uma forte tendência para a criação de corporativismo e grupos de interesse.

    Sobre o Shermer, tenho dois livros dele aqui ainda pra ler, “Por Que Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas” e “Cérebro e Crença”.

    Ele é um dos poucos no meio científico que demonstra conhecimento econômico, e Liberalismo Clássico. Infelizmente, o pessoal de ciência simpatiza demais com o keynesianismo tosco e a utopia do estado de bem-estar social. Não são poucos que defendem ferrenhamente a estatização da ciência e do financiamento científico.

    1. Como ter respeito à liberdade individual e à propriedade privada sem democracia? Me explique como?

  6. “Se formos levar seriamente o credo científico para mantermos uma mente aberta e permanecermos agnósticos quando a evidência for inconclusiva, ou a charada não resolvida, não deveríamos fechar as portas para a percepção quando elas podem ser abertas para nós, a fim de que nos maravilhemos com o misterioso.”

    -Michael Shemer

    1. Sim, eu fiz perguntas a ele justamente sobre o artigo de onde saiu esta citação. Mas você vai ter de aguardar a entrevista completa no YouTube para saber o que ele quis dizer com esse texto controverso (cujo título online, por sinal, não foi dele e ele não aprova totalmente).

  7. Me preocupo mais desse “efeito colateral” ser intencional. Parece ser mais fácil saber onde estão “as mentes e corações” quando eles se amontoam nos extremos. São muitos “se”s para levar isso a sério, é verdade, mas tudo veio quase ao mesmo tempo: Terrorismo, Brexit, Trump e Fake News. E permeando isso, o Facebook e o AdSense do Google promovendo uma oferta até então inédita na internet de conteúdo repetitivo e uma infinidade de links que acabam levando você aos mesmos lugares.
    Me parece mais um caminho tortuoso de aprendizado de como usar a “big data” para fazer engenharia social. Simples assim.

    E vida longa ao “Mensageiro Sideral”, legítimo sobrevivente da “Era dos blogs”!

  8. Salva.
    Sem entrar no mérito do porque colocou tal matéria num blog sobre astronomia, mas quando leio algo aqui que de certa forma me “incomoda”, dou meu “pitaco”.
    E é sobre um termo que os “intelectuais” (e outros nem tanto) tem usado para rechear seus discursos, deixando a platéia estupefata com tanta cultura.
    Refiro-me aos algoritmos, com quem tive o 1o. contato na década de 80 em Linguagens de Programação, na faculdade. Me foi ensinado (e acredito que não mudou) tratar-se de receitas extremamente exatas que os computadores seguiam para processar um programa. Na versão gráfica, os temidos Diagrama de Blocos, que ninguém queria fazer, preferindo ir direto escrever o programa na linguagem especificada. Nada mais do que isso.
    Hoje, endeusa-se o termo, dando-lhe prerrogativas de um ser poderoso, um “Big Brother” – de 1984, não da Globo – com poderes de decisão que vão muito além de seus criadores. Sendo honesto, esse poder de decisão além do previsto pelo programador já existia, e ainda existe. É o famoso “bug de computador”, tão desagradável quanto frequente.
    No mais, é muito blábláblá para pouco conteúdo.

    1. O blog não é só de astronomia. Leia a linha fina: De onde viemos, onde estamos e para onde vamos. Temas como o futuro da tecnologia, trans-humanismo etc., são fair game aqui.
      E não é questão de endeusar ou não o algoritmo. É compreender os efeitos dele quando interage dinamicamente com humanos, como é o caso das redes sociais. Embora o algoritmo seja exato, os efeitos não são previsíveis. E aí cabe a nós analisar, e cabe a quem cuida dos algoritmos aperfeiçoá-los com base na prática. Só isso. Nada mais.

    2. Só para esclarecer os desavisados:

      algoritmo
      substantivo masculino
      1.
      mat sequência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas.
      2.
      inf conjunto das regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas.

      Não é coisa apenas para os modernos computadores… Para dividir 170 por 8,5 é usamos um algoritmo, o processo de como fazer uma multiplicação ou uma soma é um algoritmo…

      Computadores são máquinas de calcular, portanto sua base de funcionamento é matemática, por isso todo programa de computador usa algoritmos. Como o Salvador disse, um algoritmo pode ser exato, mas nos computadores, seus efeitos podem ser imprevisíveis, especialmente esses que operam as buscas nas redes sociais e nos trazem desde pérolas informativas a lixo do pior grau possível.

  9. Salvador, é muito importante ter contato com opiniões divergentes, mas é complicado quando a pessoa com que você fala parte para o deboche, esquecendo o assunto, e utilizando frases do tipo “chora mais”, como fizeste no Facebook comigo em um papo sobre política.
    Gosto dos seus textos sobre ciência e da periodicidade, mas na hora do debate acho que você precisa ser mais tolerante.
    Abraço.

    1. Não me recordo o contexto, evidentemente, para dizer por que agi de um modo ou de outro. Seria muito legal que você me indicasse quando e como isso aconteceu, para que eu pudesse contextualizar e talvez justificar a atitude.

      Entenda também que eu não tenho a menor condição de debater detidamente com todas as pessoas no meu Facebook. Como jornalista, recebo muitos convites espontâneos de amizade e os acolho a todos, pois acho que faz parte da função social do meu trabalho. Essa também é uma forma de me manter em contato com posições divergentes das minhas e, embora seja extremamente desgastante, acredito que seja válido.

      Por fim, e não menos importante, eu sou humano. Tem dias em que estou com o pavio curto, tem dias que a paciência está maior, tem dias em que até mesmo aqui, onde eu deveria ser mais cuidadoso, distribuo uns sopapos. Peço desculpas a todos quando isso acontece, aqui, lá e em todo lugar, como diria Paul McCartney.

      1. Tem dias que modero o Gilberto mesmo quando ele faz sentido, tem dias que modero Gilberto quando no entendo o sentido do que ele quer dizer, tem dias que modero Gilberto quando não quero ler as verdades que ele diz, tem dias que modero Gilberto quando as ideias dele me contradizem, tem dias que modero Gilberto quando posta imagens que podem mudar a percepção da humanidade sobre algum paradigma, tem dias que modero o Gilberto mesmo sem saber o porque , mesmo sabendo que ha risco de que a mudança dos paradigmas em relação ao que ele diz e que nos esteja de alguma forma útil, só aconteça daqui a mil anos!
        Vlw! Salva entendo teu lado humano, estamos juntos; ate o GP sabe o quanto esta complicado digeri-lo em dia de calor, ate que o amargo da boca se torne doce no estomago!!

      2. Salvador obrigado pela resposta e pelo conteúdo dela.
        Não creio seja fácil achar o post, mas considero o assunto resolvido e esclarecido.
        Segui até aqui e seguirei te acompanhando o teu trabalho, que considero bastante relevante.
        Grande abraço.

  10. O ser humano vive em tribo desde o início. Imagina juntar todas as tribos do planeta que viviam na época da caverna em uma só tribo. Com certeza não haveria a diversidade de grupos que compõem a nossa sociedade atual. O problema não são as tribos, e sim o que pensa individualmente cada elemento da tribo. Não acho que a bolha seja ma, a maldade está na mente das pessoas que tem algum poder sobre a bolha. Aí está o verdadeiro mal.
    Opiniões diferentes só podem surgir de bolhas diferentes. E são essas nuances de conhecimento e cultura que impulsionam nossa sociedade. Os algoritmos não estão errados. Mas nós podemos escolher em ler apenas um jornal ou vários jornais diferentes.

    1. Marcos, é verdade o que você disse: nós naturalmente temos vocação para viver em pequenas tribos. Contudo, devemos a civilização justamente à capacidade de criar elementos culturais agregadores. Religiões tiveram seu papel criando coesão social, a criação dos estados nacionais teve seu papel criando coesão social, e agora vivemos literalmente numa aldeia global, em que qualquer evento em qualquer lugar do mundo é conhecido imediatamente no mundo inteiro e influencia decisões e relações econômicas e sociais no mundo inteiro. O que temos aí é um risco de retornarmos ao estado tribal, sem nenhum elemento de coesão que preserve a civilização. Mais ou menos como aconteceu na Idade Média (que tenho me sentido tentado a rotular como Primeira Idade Média), com a fragmentação do Império Romano e os êxodos das cidades. Será que temos, na Segunda Idade Média (ideia minha, que cada vez mais acho crível), veremos uma fragmentação em tribos ideológicas que não se conversam e que, portanto, não podem cooperar pelo bem comum?

      1. Olá! Acredito que os eventos drásticos (queda do império romano, Bastilha, 11/9) são consecucoes de processos no tempo e creio que estes processos hoje são mais dinâmicos e expostos a crítica e a choque com outros movimentos sociais, de modo que não acredito em uma nova Idade Média, devido a uma balança de forças. Temos que lembrar também que grupos extremistas/ideológicos tem agora mais visibilidade e facilmente viram notícias, e como adoramos as notícias chocantes elas tendem a fazer reverberar mais em nossas mentes. Trump ganhou não com maioria, Le Pen perdeu, Irã deu uma leve moderada e assim vai… Será muito otimismo?

        1. Olha, na íntegra da entrevista, o Shermer vende exatamente essa sua visão, de que a guinada conservadora é bem menor do que parece, e um caso de três passos adiante, dois atrás. Tomara que vocês tenham razão. Eu tenho visto tanto obscurantismo por aí (em razão de ser justamente uma voz da razão no meio da cacofonia internética, o que me torna um alvo natural) que posso estar enviesado para achar que estamos caminhando para as trevas…

          1. Bom Salvador, caminhando para as trevas parece letra de thrash metal…rs. Acho que não. Li a entrevista e o que não li foi o que me preocupou: o fenômeno do pêndulo ( não sei se existe isso com outro nome, mas é evidente que existe), ou seja, a mudança drástica de ideias e paradigmas que levam a cabo as pessoas. Por diversos motivos. Outra coisa: de que tipo de religião fala o seu entrevistado? As instituições? Os religiosos, os templos? As ideias? O próprio Dawkins fala que nascemos com esse “erro evolutivo”, ou seja, é um fenômeno natural e como acabar com isso em 100, 150, 500 anos?
            E também tenho motivos tirados de seu blog para acreditar que vc e mais otimista que está aparentando agora. A ideia Metafisica é consequência de pensarmos. Nao vamos deixar de tê-la. Só espero que logo deixemoa de utilizar isso como ferramenta de dominação.

          2. Eu sou um otimista de longo prazo e um pessimista de curto prazo. Claro que percebo esse movimento pendular, mas também reconheço que, a essa altura do nosso estágio tecnológico, uma amplitude muito grande no pêndulo é extremamente perigosa. A Primeira Idade Média — que sem dúvida pode ser vista como um balanço do pêndulo após toda a liberdade de pensamento e valorização da cultura filosófica grega — foi péssima, mas não ameaçou a humanidade de extinção. Uma Segunda Idade Média, numa era de armas nucleares e economia global, pode muito bem ser ainda mais devastadora que a primeira — ainda que não vá nos extinguir, o que me deixa com meu otimismo de longo prazo.

            Torço muito para o Shermer ter razão ao dizer que é só uma oscilação suave do pêndulo (que ele descreveu como “três passos à frente, dois atrás”). Mas se for cinco ou seis passos atrás, a coisa pode realmente ser muito grave.

            Sobre a religião em si, Dawkins fala genericamente da necessidade de formularmos crenças. Mas claro que essa necessidade é tão maior quanto menos sabemos de fato. Então, se o futuro não for marcado por cinco ou seis passos atrás, e continuemos em nossa trajetória de reduzir as deficiências materiais e de conhecimento da população, é natural imaginar que religiões tendam a se tornar menos e menos populares. É um fenômeno já visível hoje. Embora a maioria da população hoje ainda seja religiosa, você não concordaria que há hoje muito mais ateus e agnósticos do que havia, digamos três séculos atrás? A tendência está aí. Se ela vai avançar até levar as atuais religiões ao ocaso, é questão controversa. O próprio Shermer, provavelmente baseado no trend, sugere que vá levar vários séculos. Acho isso, na real, irrelevante. Contanto que consigamos ter consenso no fato de que religião é uma questão de foro íntimo e não deve influenciar em decisões sociais e legais, se a religião vai acabar mesmo ou não não faz diferença nenhuma.

          3. Concordo que vai ter um momento em que o conhecimento nos levará inexoravelmente a um comportamento ético/moral que comporte o respeito a vida, ao ambiente e à diferença. Nesse estágio as instituições formatadoras de pensamentos e criadouros de dogmas serão repelidas como nocivas ao progresso. Mas sempre com o pensamento metafísico, que nos liga aquele nao-sei-o-que e que nos impulsiona a buscar mais ainda.

          4. No âmbito pessoal, talvez. Mas sei lá. Eu me sinto suficientemente motivado de ser um arranjo de átomos forjados no coração de uma estrela que agora se reuniram em mim para ter uma consciência e depois vão fazer parte de outras coisas. Isso é suficientemente inspirador — a natureza transitória da consciência nos encoraja a buscar mais e fazer o melhor, acho, pois não há tempo a perder — e zero metafísico. 100% físico, e igualmente belo.

          5. Ah, caro Salvador, como você fica bem sabendo que não vai viver para ver nosso otimismo triunfando? A primeira viagem só de ida a Marte, a primeira visita a um horizonte de eventos, o primeiro contato com a vida extraterrestre…. Não frusta? Mas compreendo também que mesmo sem isso, vislumbrar tudo isso ainda que no pensamento e muito motivador.

          6. Eu não sei de nada disso. Quem sabe o que veremos e quando veremos? E o que me encanta é o que saberemos em breve — talvez primeira evidência de vida extraterrestre, talvez as primeiras viagens a Marte, talvez a colonização da Lua, talvez a descoberta do que são matéria escura e energia escura. Tem coisas suficientes no meu horizonte de vida para me manter animado e menos focado no que vai ficar para as próximas gerações. E é legal saber que a diversão não acaba nunca. 🙂

    2. Muito bom comentário. Uma visão diferente das ‘bolhas’.

      O problema é que muita gente ‘vive’ dentro do facebook. Ou seja, a bolha acaba sendo a ‘vida’ da pessoa, e não apenas uma das manifestações onde a vida dela acontece. Complicado.

      1. Concordo com você Perna. Põe complicado nisso.
        Eu acho que mais cedo ou mais tarde o cara vai ter que sair do mundo virtual e cair no mundo real, levando a bolha dele para entrar em choque com outras bolhas diferentes – o que acontece cada vez menos nas experiências na internet – e aí estou de acordo com o entrevistado que a esfera de conhecimento perde diâmetro a cada acesso, porque descarta o que não gosto e atrai apenas o que é de meu interesse. Me tornando cada vez mais bitolado.
        Não acho possível acabar com as bolhas, portanto seria mais interessante, ao meu ver, ensinar as pessoas a ampliarem suas bolhas, exatamente com procuramos fazer aqui no blog do Salvador.
        De qualquer maneira, falar sobre o assunto é muito melhor do que simplesmente Joga-lo de lado e esquecer.
        Encontrar caminhos para não entrarmos numa segunda era da escuridão é imprescindível.

        1. Isso aí! Acho que estamos todos mais ou menos na mesma página aqui hoje! (Será que estamos todos vivendo numa bolha só nossa? rs)

  11. Li a entrevista. É um ponto de vista. Eu discordo de algumas partes e concordo com outras. Acho ótimo que as pessoas ”não precisem de religião”. Mas acho ainda mais ótimo que as pessoas a busquem não porque precisam, mas porque querem evoluir, crescer como seres humanos animados por um espírito. A religião vai SUGERIR uma explicação filosófica de fundo teológico para os grandes mistérios da Humanidade. (Sim, vai sugerir…. só vai IMPOR onde não há liberdade religiosa, ou seja, em parte do Oriente Médio, da África, e na ONU).

    Não concordo tanto com essa coisa do ‘viver o aqui e agora’ sem se preocupar com questões existenciais. Macacos fazem isso, esquilos, tatus, aranhas e baratas fazem isso. Nossa RAZÃO pode nos proporcionar mais do que viver uma vida material, do que construir uma toca e juntar nozes pro inverno…

    1. A questão é pressupor que você precisa de religião para evoluir. Não vejo essa relação. Pelo contrário, vejo muita gente bem pouco evoluída que é fanática por religião. Não sei se a religião tem algum aspecto “evolutivo” válido. É só a imposição de regras sem sentido. Uma ética secular tem uma razão de ser — podemos racionalmente concordar com ela, e aí enxergo evolução, porque a razão sempre está acima de tudo. Se sua ética não está funcionando mais, você pode reformulá-la, aperfeiçoá-la. Já a ética religiosa é dogmática, impositiva. Mesmo as reformas que se faz nela são dogmáticas, impositivas. E ainda assim só refletem que as religiões evoluem, não que as pessoas evoluem por buscarem religiões.

      1. Pra isso existe a liberdade de professar qualquer religião, ou de não seguir nenhuma. Não é que a religião seja necessária para evoluir. Não é NECESSÁRIA. Mas alguns podem evoluir através dela. Em países que proibiram religiões sempre houve quem continuasse seguindo em sigilo.

        Você prefere evoluir sem religião, através exclusivamente da ciência. É teu direito. Se pra ti está bom assim, ótimo. Outros preferem buscar a verdade, buscar UMA verdade. O ateísmo pra mim, por exemplo, não faz sentido nenhum (não que precise fazer, não precisa, mas eu busco um sentido para minha existência. Eu não existia e agora existo. Quero entender por quê).

        Em vez de uma ética onde a secularidade é imposta, prefiro uma ética da liberdade individual. Se a tua religião te proíbe de transar antes do casamento, ou de transar com uma pessoa do mesmo sexo, ou de comer porco, ou de comer carne com leite (imagina não poder comer strogonoff!!!), e te faz bem seguir essa religião, se te fazem bem os laços familiares, sociais, e se te faz bem interiormente, qual o problema? Não é obrigatório, assim como não é obrigatório o casamento gay, é algo que eu não quero pra mim, mas se dois caras querem viver como marido e mulher, ou como marido e marido, que sejam felizes.

        Como eu disse no outro post, acho ótimo que as pessoas não PRECISEM da religião, mas sim, ela pode somar na vida de muita gente. Até onde sabemos, só os humanos se perguntaram “quem nos criou”. Acho importante refletir sobre isso, sobre as implicações disso, exaurir todos os vieses filosóficos que dessa indagação podem exsurgir – ainda que para descartá-la, como fazem muitos ateus. Mas simplesmente repudiar essa questão, evitá-la como se ela não existisse, ou como se ela pudesse ser explicada APENAS por meios materiais, nos iguala de certo modo aos outros animais, que vivem ‘o aqui e o agora’ sem se questionar.

        1. Sim, sou totalmente contra proibição de religião, e o Shermer certamente também é. Se o cara defende o direito de negacionistas do Holocausto de falarem o que bem entenderem, imagine de religiosos. O que ele diz é que a religião vai acabar caindo em desuso, e acho que faz muito sentido. Porque é só uma questão de mais e mais pessoas descobrirem justamente que não precisam da religião para evoluir, embora possam evoluir por meio dela, como você sugere.

          1. O futebol não é necessário para evoluir, mas alguns evoluem através dele. O argumento é tosco, mas a lógica por trás dele não: mesmo que as pessoas descubram que não precisam de religião para evoluir, por que isso levaria ao desaparecimento dela?

          2. Porque ela não tem função social. A religião, ao contrário do futebol, não é um negócio. Ou melhor, é um negócio, mas só é um negócio porque há pessoas pouco evoluídas envolvidas com ela. Para os religiosos de boa fé, não é um negócio. Então, ela não tem uma pressão seletiva em favor de sua contínua existência. O que ela oferece pode ser obtido por outros meios, e os outros meios são mais universais, o que a coloca em desvantagem competitiva. E o fenômeno já é gritante: quantas pessoas praticam suas religiões e vão regularmente a encontros religiosos, ainda que professem uma fé? Eu diria que há um percentual significativo de não praticantes, mesmo num país ainda profundamente religioso, como o Brasil. Você só se declarar religioso, sem praticar, é o primeiro sintoma de que ela é desnecessária e caminha para o eventual desuso.

            Claro, sempre haverá um ou outro religioso, mesmo no futuro longínquo. Quando ele diz que cairá em desuso, ele quer dizer que ela não será mais uma força social apreciável. Não teremos bancadas de religiosos no Congresso em, digamos, 500 anos (quem sabe menos, se tivermos sorte).

          3. Claro que a religião tem função social. Ela cria múltiplos laços sociais, principalmente de amizade, mas também de ensino, admiração, caridade (vide os espíritas), etc.

            E o que é ‘praticar’ a religião? Rezar em casa na hora de dormir é praticar? Ler o livro sagrado é praticar?

            Não acho problemático termos bancada religiosa no congresso, muito pelo contrário. Em um país onde quase 90% são religiosos, qual o problema? Acho que o Congresso tem que ser um lugar plural, com padres, pastores, pais-de-santo, rabinos, cientistas e ateus, desde que eleitos regularmente pelo povo.

          4. Eu acho que você pode ter uma bancada religiosa no Congresso, mas não é legal quando ela quer impor sua religião por força da lei. É aí que a coisa trava. Se a bancada fosse socialmente responsável e respeitasse as diferenças, vá lá. Não é o caso.

            Sobre a função social da religião, o que você citou que não pode ser obtido de outra maneira? E em qual desses itens a religião é melhor que essas outras maneiras a ponto de justificar sua sobrevivência no longo prazo? Agora pese os malefícios. Quantas barbaridades já não foram cometidas por conta de extremismo religioso. Você aqui é um cara que vive detonando o terrorismo islâmico… isso é religião levada às últimas consequências, meu caro. Compensa?

          5. Opa, aí terei que discordar do Perna (e indiretamente do Salvador): Não, você NÃO deve ter uma evangélica na câmara ou Senado. Você pode ter evangélicos lá, mas só o fato de se agruparem por religião já distorceram a função de estar lá: Servir a população, inclusive a atéia e de outras religiões e não servir ao seu Deus. E não venham com a utopia de que saberão separar as coisas que não saberão: Esse fundamentalismo é o que difere no Brasil os evangélicos de outras religiões e ateus (Se bem que na hora de roubar dinheiro público Deus não fará nenhuma diferença. Cunha que o diga. No mais sou contra bancadas “temáticas”, sejam elas evangélicas, da bala, ecológicas, gays… Não existe uma câmara para cada tema. Quem foi eleito oara defender Deus ou o exército, aposentados ou os animais votará politicas energéticas, orçamento, políticas previdenciárias… Qual o conhecimento sobre isso que uma igreja, parada gay, quartel, criação de gado dá sobre tudo isso? Democracia indireta em tempos de internet já é um anacronismo por si só. Bancadas temáticas só aumentam a incoerência.

          6. Eu concordo totalmente com você, então não sei se você está discordando indiretamente de mim. Penso o mesmo que você. Podemos ter gente de todas as religiões e de todas as matizes sociais no Congresso (isso é até desejável), mas elas devem trabalhar pelo bem comum e não por seus interesses pessoais, tentando impor sua visão de mundo aos demais, distorcendo a laicidade do estado. É meio irrealista imaginar que vamos eleger 30 congressistas evangélicos e eles não formarão uma bancada unificada, mas concordo com você que o ideal seria isso não existir.

          7. Não é tão legal quando discutimos conceitos diferentes em palavras iguais. Religião pro Perna não é Religião pro Salvador e na minha opinião é diferente (pra melhor) da Religião praticada pela bancada e evangélica.

          8. Sim, Salva, concordo contigo. Não vejo problemas em uma bancada religiosa social e politicamente responsável. Não vejo problemas em abstrato. No caso concreto é um pouco diferente.

        2. Eu acredito que não dá pra conviver 100% em paz com o islamismo, pois a mensagem que ele passa é sempre a destruição de quem não está do seu lado, como a gente sempre vê sendo usado pelos terroristas. Em contrapartida, quantos ataques em nome de outras religiões vemos sendo feitos?
          Se existirem, com certeza são insignificantes em relação ao terrorismo islâmico.

          1. Não é verdade. Esse é o islamismo fundamentalista. Mas o cristianismo fundamentalista não é muito diferente. Se você ler a Bíblia, ela também sanciona o massacre dos infiéis, e durante muito tempo os cristão seguiram à risca essas determinações. Por isso justamente o fundamentalismo é perigoso, e não uma ou outra religião específica. Se você for muçulmano, mas entender que o Corão não deve ser interpretado literalmente — coisa que a maioria dos cristãos já entendeu, e por isso não sai por aí surrando os filhos, sacrificando-os em nome de Deus, fazendo escravos de povos que não seguem a religião deles e aprovando o apedrejamento de adúlteras –, o islamismo se torna uma religião tão amorosa quanto o cristianismo. E há muitos muçulmanos que são assim já. A gente generalizar e tomar os radicais pela média é um problema sério de xenofobia religiosa. Seria como eu tomar a média dos cristãos pelos radicais que queimavam gente na fogueira e matavam sem dó quem fosse “herege”.

          2. A diferença é que o Cristianismo já abandonou o fundamentalismo. O Islamismo não. O Islamismo quer fazer hoje o que o Cristianismo fazia há 500 anos.

            O próprio Alcorão diz que os VERDADEIROS judeus e cristãos não são infiéis. O Alcorão reconhece a Bíblia (AT e NT) como revelações divinas anteriores, que não foram seguidas pelos homens, o que tornou necessária a terceira revelação. Os que verdadeiramente seguem o judaísmo ou o cristianismo devem ser ‘poupados’ (mas os ateus e agnósticos não, sorry Salva).

            O problema é que os fundamentalistas seguem apenas as partes do Alcorão que eles querem seguir.

          3. Mais ou menos. Apenas uma parte do islamismo — minoritária — é entusiasta da violência desse jeito. Assim como aposto que há hoje fundamentalistas cristãos que, se pudessem, trariam de volta os apedrejamentos em praça pública. O cristianismo só foi “domado” porque separamos igreja e estado. É o que falta para os países islâmicos. Não tem a ver com a natureza de uma ou outra religião, ou mesmo seus seguidores. Tem a ver com aceitar que a vida social é governada por valores laicos, e não pela religião. Essa subordinação já aconteceu no Ocidente (e repito, tá cheio de cristão por aí querendo apagá-la) e ainda precisa acontecer na maior parte dos países islâmicos.

          4. Claro, concordo e assino embaixo de que a diferença não tem a ver com a natureza da religião. Até porque são todas meio parecidas, o Alcorão mesmo se considera a terceira Revelação, ou seja, reconhece um liame entre as 3.

            Eu diria que o problema é TAMBÉM a separação de igreja e Estado, mas não só isso. Tanto que dentre os terroristas houve quem tivesse nascido em países ocidentais com essa separação, como um dos atropeladores de Londres. O problema é principalmente cultural. Para os fundamentalistas, a religião é a própria vida, não existe vida fora dela. Esse é também o problema dos fundamentalistas cristãos que citas, que gostariam de apedrejar em via pública. Ou dos judeus ortodoxos que colocam pregos nas ruas para que ninguém dirija no sábado.

  12. Fazia tempo que eu não dava tão boas gargalhadas. Esse sujeito afirma que “vai demorar, mas…em séculos…religiões cairão em desuso”. Alguém diga a esse senhor que há 25 séculos querem acabar com a religião cristã e ela continua firme até hoje. Além disso, fazer projeções para daqui a alguns séculos é ótimo porque o autor das “profecias” certamente não estará vivo para testemunhar o próprio fracasso. Simplesmente risível…

    1. Ele é você amanhã. Já foi um desses chatos que fica indo de porta em porta, de blog em blog, pregando a palavra do Senhor. Mas ele viu a luz. Ainda há esperança para você, Popô! 🙂

        1. Diga a esse “perna” (quebrada), cujo nome deveria ser “cabeça” (oca), que o Velho Testamento constitui a primeira parte da chamada Bíblia Cristã. Portanto, o termo se aplica perfeitamente.

          1. Não, não se aplica. Você não pode chamar de cristãos aqueles que seguiam o Velho Testamento há 25 séculos.

          2. A Bíblia, em origem, não é Cristã e sim Judaica: Se você toma somente o Antigo Testamento isso é verdade, mas para os cristãos ela é composta de Antigo e Novo Testamento. Por isso falamos de Bíblia Cristã.

            Além disso, eu não chamei ninguém de “cristão”. Eu usei o termo “religião cristã”. 😛

          3. Exato. E a religião cristã (que implica a existência dos cristãos, pois não há religião se ela não tem nenhum seguidor) não tem 25 séculos. Tem um conflito aí, você se expressou mal, mas todo mundo entendeu o que você quer dizer. Você é um bitolado religioso e adora isso. Já entendemos. 😉

          4. Apolinário, levando em consideração o óbvio ululante de que você é um troll bem humorado, não vou me irritar com sua pseudo-ofensa de cabeça oca. Você falou tudo, a Bíblia em questão é a judaica E NÃO A CRISTÃ.

            Mas parece-me claro que o você usou ’25 séculos’ propositalmente. Esqueceu um dos mandamentos do bom troll, o de ser mais ou menos sutil conforme o público a ser trollado. Deveria ter sido mais sutil.

            Abraço.

      1. Claro que sim. Os cristãos existem desde há 10.000 anos quando então construiram o alvorecer da civilização Suméria que é a mais antiga do planeta. Era cristo para todos os lados. Uns fundaram a civilização egípcia e outros a Rússia. As pirâmides foram feitas por Cristão Mas como curiosidade, gostaria de saber, como civilização cresceu e se organizou até chegar a era cristo. Com certeza não foi por ele, que ainda não existia.

  13. O paradoxal é que as bolhas foram surgindo devido aos grupos das redes sociais e aos algoritmos das redes que tentavam separar pessoas com opiniões diferentes com a pretensa boa intenção de evitar atritos e incivilidades neles e livrar os administradores das redes de processos na justiça. Ou seja, querendo civilizar as redes, acabaram piorando a civilização.

    1. Pois é. O que me parece meio óbvio, mas só em retrospecto. Se você isola grupos em tribos, vai torná-los mais xenófobos, pois eles não terão de conviver com as diferenças. Meio como um apartheid radical e múltiplo.

    2. Acho que não. Acho que as intenções dos algoritmos estavam mais próximas de separar grupos de consumidores para direcionar anúncios e serviços. Você vê na sua ‘bolha’ aquilo que é mais provável que você consuma.

      1. Acho que é as duas coisas. Quanto mais confortável for o ambiente virtual, mais tempo você vai gastar nele, e mais anúncios e produtos você poderá consumir.

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