Morre, aos 87 anos, John Young, o astronauta que foi da Lua aos ônibus espaciais

John Young, o astronauta americano que fez a transição entre a era Apollo e os ônibus espaciais, morreu nesta sexta-feira (5), aos 87 anos, por complicações decorrentes de pneumonia.

Selecionado na segunda turma da Nasa, os “New Nine”, em 1962, Young era antes disso piloto da Marinha americana. E não tardou a ser escalado para seu primeiro voo espacial, na primeira viagem tripulada da cápsula Gemini, a Gemini 3, em março de 1965. Ele foi copiloto, ao lado de Gus Grissom, membro dos “Mercury Seven” (a primeira turma de astronautas americana, selecionada em 1958).

John Young a bordo da apertada cápsula Gemini 3. (Crédito: Nasa)

O projeto Gemini tinha por objetivo testar tecnologias que seriam necessárias para as missões lunares, como encontro, acoplagem e caminhadas espaciais. Depois do voo inaugural na Gemini 3, Young chegou a fazer uma segunda missão, desta vez como comandante, na Gemini 10. Seu colega foi Michael Collins, que mais tarde faria parte da tripulação da Apollo 11.

Durante o projeto Apollo, Young teve um privilégio raro: fez não apenas uma, mas duas viagens até a Lua. Na Apollo 10, em maio de 1969, fez um ensaio geral para o primeiro pouso tripulado — a equipe fez tudo, menos realmente pousar o Módulo Lunar –, deixando o terreno livre para Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins fazerem história na missão seguinte.

Young voltaria ao espaço na Apollo 16, como comandante, em abril de 1972. Ele e Charlie Duke passearam de jipe pelo solo lunar na região da cratera Descartes, na primeira exploração de um terreno alto lunar — todas as missões anteriores haviam sido em planícies.

O astronauta permaneceu na Nasa após o fim do projeto Apollo e aguentou a longa seca de voos até o lançamento inaugural do ônibus espacial Columbia — o primeiro da frota de espaçonaves reutilizáveis a ser construído –, em abril de 1981. E Young estava a bordo, como comandante!

John Young e Robert Crippen, a dupla que pilotou o primeiro ônibus espacial, em 1981. (Crédito: Nasa)

Esse talvez tenha sido o ponto mais alto de sua carreira. OK, ir à Lua — duas vezes — é sensacional, mas, para um piloto, nada é mais prazeroso que pilotar — e o ônibus espacial era um enorme desafio, nesse sentido. Era a primeira vez — e única até o momento — que um veículo tripulado era lançado pela primeira vez já com tripulação. Todas as cápsulas anteriores eram lançadas vazias, para teste, antes de receberem tripulações. O ônibus espacial não permitia isso. A presença do astronauta era indispensável ao sucesso da missão, sobretudo durante o pouso, num procedimento que o astronauta Marcos Pontes já descreveu como a ação de pilotar um tijolo com asas. (Na descida, o ônibus espacial era basicamente um planador, que precisa ir de velocidades hipersônicas a zero em questão de alguns minutos.)

Depois do sucesso da missão STS-1, Young ainda comandaria um segundo voo do ônibus espacial em 1983 — a prmeira missão a levar um módulo Spacelab na área de carga do veículo.

Young se aposentou da carreira de astronauta em 1987, como o mais experiente viajante espacial que o mundo já conheceu.

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Comentários

  1. Gostaria de deixar aqui meu apreço por John Young e todos os astronautas que tiveram a coragem de se sentar sobre um barril de dinamite e ir cumprir missões no espaço, inclusive nosso compatriota, Marcos Pontes…

    Voo espacial nunca será rotina, uma alta probabilidade de desastre os acompanha. Sendo bem sucedido, deve ser deslumbrante!

  2. Pelo jeito, quem não entende de viagens espaciais acha que é preciso manter os foguetes funcionando o tempo todo como é mostrado na ficção científica mais rasteira. A Lei da Inércia de Newton é desconhecida deste povo e deveriam aprende-la ainda nas primeiras aulas de ciências nas escolas, coisa bem rara de acontecer neste país. Propulsores tais como o Saturno V ou o Falcon Heavy tem que acelerar a carga além da velocidade escape e apenas isto, a fase seguinte da viagem é inercial e só propulsores pequenos são usados para alterar a trajetória, entrar em órbita, sair da órbita, etc. A única exceção acontecerá se precisar fazer uma nave chegar a uma fração considerável da velocidade da luz, a aceleração para isto acontecer terá que ser bem mais longa e os propulsores terão que trabalhar por bastante tempo, mas depois disto é a inércia que faz o resto.

  3. Salva, depois com as atualizações na aviônica, ele até poderia pousar sozinho?

    1. Sim, em princípio sim. Embora ele não tenha sido projetado para isso. O Buran soviético, uma cópia rasteira do americano, fez um único voo espacial, sem tripulação, e pousou sozinho. Mas já era então 1988, sete anos depois do primeiro voo do Columbia…

      1. o “foguetinho” (ou o Dronão) da boeing tbm já pousa sozinho. acredito que até um avião moderno em uma pista com ILS já pousa com pouquíssima interação. Existe um “mito” que foi testado no mythbusters que qualquer passageiro, recebendo as instruções corretas, pousa um avião com ILS. (sem ofender os pilotos, pois há uma grande diferença entre pousar e colocar no chão)

    2. Desde aproximadamente, 2005 todos os aviões comerciais que voam nos EEUU podem fazer e fazem regularmente pousos absolutamente automáticos, com os pilotos apenas observando.
      Se por algum motivo morrerem todos os pilotos a bordo de um destes aviões se deslocando sobre o território americano, basta não avisar aos demais ocupantes, que o voo transcorrerá até o final, sem anormalidade. Se eu eventualmente estiver dormindo dentro deste avião, continuarei tranquilo no meu sono até o desembarque. 🙁 rss.

      1. Sou piloto Afrânio, ainda não é bem assim, o piloto ainda é necessário para condução do voo. Mas quem sabe daqui a uns 10 anos…

  4. Há uma alta correlação entre morte morte por pneumonia e viagens espaciais. Praticamente todo astronauta acaba morrendo disto. É uma pena. Quanto mais se fica no espaço mais rápido a pneumonia ataca.

    1. Referência? Tenho a impressão que você mai encontrar maior correlação entre morte por pneumonia e idosos do que com astronautas.

  5. O projeto Apollo foi um ponto fora da curva, um daqueles eventos extraordinários que ocorrem em momentos especiais da história. Hoje, o único país que poderia, talvez, repetir a façanha norte-americana seria a China, forçando uma nova “corrida espacial” no planeta. Mas sou pessimista, o “projeto Marte” está cada vez mais distante…

  6. Não acredito que o homem foi à Lua. Uma coisa é viajar 400 km para orbitar a Terra numa estação espacial ou nesses ônibus espaciais.
    Outra coisa muito diferente é ir à Lua. Não são 400 km mas sim 300.000 km! Acreditar que ir e voltar da Lua com tecnologia 1969 é muito. E dizer que transmitiu isso ao vivo foi o erro que na minha opinião desmascarou a grande farsa da guerra fria.

    1. Na verdade não é uma coisa tão diferente assim. A diferença de delta-v é de 3 km/s. O problema é que as pessoas não entendem como funciona voo espacial. A chave é a velocidade inicial, não a distância. A gravidade dá conta de fazer uma nave percorrer a distância requerida sem qualquer propulsão. Tudo que você precisa é da aceleração inicial certa, no vetor certo. Mas a diferença entre estar numa órbita terrestre baixa e numa rota de injeção translunar à la Apollo é esta: pouco mais de 3 km/s (ou 10.800 km/h). Parece muito? Lembre que, na órbita terrestre baixa, o ônibus espacial já está a 28 mil km/h — velocidade que ele ganhou em 8-9 minutos. Mais 10 mil não parece tão radical assim. Mais uns 2-3 minutos de voo propulsado.

      Aí você pergunta: por que os ônibus espaciais não iam à Lua, então? Porque não foram projetados para isso. Sua função era operações estratégicas em baixa órbita (como lançar, reparar e inutilizar satélites, por exemplo) e o tanque só comportava combustível para atingir a órbita baixa. Não haveria combustível para essa queima extra de 2-3 minutos. Se houvesse, ele poderia ir à Lua com facilidade.

      Quer ver? Elon Musk quer mandar um CARRO para a órbita de Marte. E um carro não se parece nada com uma espaçonave, nem tem meios próprios de propulsão. Ele vai a Marte só com o impulso inicial do foguete nos primeiros minutos de voo. Depois disso, vai por inércia, conduzido pela gravidade, até a órbita marciana.

      1. “Se você consegue pôr sua nave em órbita terrestre, já está na metade do caminho para qualquer lugar.”

  7. Dos 12 homens que caminharam na Lua, só restam cinco vivos. Será que algum deles ainda estará vivo quando outro ser humano caminhar novamente na Lua?

  8. 2 participações na Gemini, 2 na Apollo e 2 no Ônibus Espacial. Difícil alguém mais experiente. Nossos heróis da conquista espacial estão quase todos mortos. Uma pena.

  9. Pioneiros…. Precisamos de mais alguns assim…. Essa época de conhecer os limites, fazer o que parecia impossível, sentar a bunda numa potencial bomba que ia te jogar no espaço… Eu queria ter os culhoes de um cara como esse…

  10. Olá Salvador,
    Parabéns pela coluna.

    Desculpa aí, mas considerar a pilotagem do ônibus espacial ser algo maior do que CAMINHAR NA LUA não me parece razoável. Foi ele que afirmou isso? Sob quais circunstâncias?
    Um abraço.

    1. Ele fez parte da quinta missão a pousar na Lua. E da primeira missão de um ônibus espacial.
      Mas não foi ele quem disse isso. Quando pressionado a escolher sua favorita, Young disse que adorou todas as missões de que participou. A avaliação é minha. A paixão que os pilotos tinham (e têm) pelo ônibus espacial é algo que só eles são capazes de entender. Foi a máquina de voar mais complexa já construída. Não conheci um astronauta-piloto que não fosse apaixonado por ele.

      1. Se eu pudesse escolher entre pousar na lua em um módulo lunar como ele fez, ou pousar o ônibus espacial, mesmo que só uma vez, eu sem dúvida escolheria o segundo.
        Abs.
        Comandante Ziolkowski

    2. Prezado, sou piloto e corroboro com a opinião do Salva. Na época da viagem à lua do Young, a missão já estava demonstrada enquanto o primeiro voo do ônibus espacial foi algo novo, nunca realizado, além de ser muito mais dependente da pilotagem que os voos Apollo, portanto para um piloto, muito mais desafiador.
      Abraços

      1. Eng. Fábio,
        Bem vindo!
        Até agora você é o único piloto que se identificou aqui no blog do MENSAGEIRO SIDERAL após minhas provocações.
        Continue aparecendo e se você topar, teremos grandes diálogos, e ajudaremos muitos frequentadores desta “comunidade” a conhecer um pouco das dificuldades dos voos dentro e fora da atmosfera. Sou Piloto de Linha Aérea aposentado na aviação comercial, e saiba que o Salvador e o Eu™ são dois caras extremamente cultos que conhecem muito e adoram falar de avião e espaçonaves, já tivemos grandes papos sobre o assunto aqui no blog.
        Que avião você voa hoje?

      2. Prezado, eu sou um ser humano e imagino que nada se igualará na vida de qualquer um com a oportunidade de visitar o nosso satélite natural, e ter aquela vista. Quem, além deles, poderá dizer que testemunhou o nascer e o pôr da Terra?

        1. Amigo, se não me engano, a lua tem a face estacionada em direção à Terra, portanto, estando na lua, você vê a terra sempre na mesma posição, apenas o sol irá nascer e se pôr.

          Abraços.

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