Trump não acelera ida à Lua e tenta cancelar próximo grande telescópio espacial da Nasa

A administração Trump apresentou nesta segunda-feira (12) sua proposta de orçamento para a Nasa em 2019. A despeito do suposto redirecionamento da agência espacial americana para um retorno tripulado à Lua, nada novo foi apresentado nesse sentido. A primeira missão com astronautas destinada a circundar nosso satélite natural segue marcada para 2023, mesma data desde o fim do governo Obama. Também não há provisão para o início da construção de um módulo para pouso tripulado em solo lunar.

A julgar pelos desejos da Casa Branca, a Nasa deve receber US$ 19,9 bilhões para o ano fiscal de 2019, que começa em outubro. É um aumento de cerca de US$ 300 milhões sobre o ano anterior, embora a essa altura não esteja claro que este acabará mesmo sendo o valor aplicado. (A inabilidade do atual governo americano em lidar com o Congresso é tão grande que ainda não conseguiu aprovar sequer o orçamento de 2018; a Nasa tem operado por resoluções temporárias que mantiveram seu financiamento no nível de 2017.)

Ademais, após esse aumento, o governo prevê uma manutenção do orçamento no mesmo patamar pelos anos seguinte, o que na prática significa uma redução correspondente à inflação do período.

Pelo segundo ano consecutivo, Trump tenta cancelar missões de estudo da Terra, dentre elas uma câmera que já está no espaço e se destina a estudar o avanço das mudanças climáticas. A julgar pelo que aconteceu em 2017, a tentativa deve fracassar. O mesmo se dá com os programas educacionais da Nasa; o presidente mais uma vez tenta cortá-los e provavelmente será impedido novamente.

O corte mais sentido no novo orçamento, contudo, vem no setor de astrofísica: o governo propõe eliminar o projeto WFIRST, um telescópio espacial de próxima geração que seria lançado após o James Webb, marcado para voar no ano que vem.

Concepção artística do WFIRST, telescópio espacial que Trump quer cancelar. (Crédito: Nasa)

O WFIRST seria um telescópio similar ao Hubble, com um espelho de 2,4 metros, mas com um campo de visão bem mais largo, podendo estudar uma vasta região do céu com uma única imagem. Ele era um projeto prioritário do último Estudo Decenal da Nasa, documento que normalmente norteia as decisões orçamentárias da agência espacial. Ainda não está claro como o Congresso reagirá a esse corte em particular.

O QUE HÁ DE NOVO

No programa tripulado, o novo orçamento confirma decisão preliminar da Nasa de encerrar o financiamento da Estação Espacial Internacional em 2024. A ideia é elaborar um plano para que ela possa, em alguma medida, ser “privatizada”, com o aumento da participação de empresas em seu uso, gerenciamento e manutenção. Ainda não há plano concreto para isso.

O foco do programa, na próxima década, é sobre missões além da órbita da Terra, usando o foguete SLS e a cápsula Órion, ambos em desenvolvimento há aproximadamente uma década. O primeiro voo do SLS deve acontecer no ano que vem, e a missão tripulada inaugural deve vir em 2023.

Concepção artística do Gateway, um “porto espacial” com quatro módulos, visitado por uma cápsula Orion. (Crédito: Nasa)

Uma pequena mudança é que esse voo, antes, deveria também levar o primeiro módulo da estação orbital lunar atualmente em fase de planejamento, chamada de Gateway. Agora, decidiu-se que esse módulo deve voar um ano antes, em 2022, levado por um foguete comercial. (O único candidato operacional é o Falcon Heavy, que acabou de ser testado com sucesso pela SpaceX.)

Por fim, a provisão orçamentária prevê também algum financiamento para suporte a iniciativas de missões precursoras não tripuladas à Lua e de desenvolvimento comercial de módulos de pouso. Não ficou clara na apresentação do rascunho do orçamento como essa verba seria investida.

Até agora, fora a maquiagem, a Nasa tem trabalhado em regime provisório desde que Trump assumiu a Presidência. Até este momento a agência tem um administrador interino, uma vez que o indicado pela Casa Branca para assumir o cargo, o deputado Jim Bridenstine, ainda não foi ratificado pelo Senado. Trata-se de um recorde negativo para a Nasa, que nunca passou tanto tempo com um administrador interino.

Por sinal, coube a Robert Lightfoot, o interino, apresentar a proposta de orçamento na segunda-feira.

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