Congresso resgata ciência do clima e telescópio da Nasa das garras de Trump

O presidente Donald Trump continua a não mandar nada em matéria de Nasa. Câmara e Senado americanos aprovaram legislação que financia, com atraso, a agência espacial americana em US$ 20,7 bilhões para o ano de 2018. Um baita aumento. A Casa Branca havia requisitado US$ 19,1 bilhões.

O patamar atingido coloca este orçamento de 2018 na posição de melhor da Nasa desde 2009, levando-se em conta a inflação no período.

Lembra os programas de observação da Terra e investigação da mudança climática que a administração Trump queria cancelar? Foram todos financiados. Por sinal, até agora, a administração federal não conseguiu reduzir o orçamento da Nasa para ciências da Terra, que se mantém firme em US$ 1,9 bilhão para 2018 — o mesmo aprovado pelo mesmo Congresso no ano passado, e bem acima da pedida da Casa Branca.

Lembra o programa de educação da Nasa que Trump queria cancelar? O Congresso manteve, com nível de gasto de US$ 100 milhões.

Lembra o telescópio espacial WFIRST, que é tido como prioridade da pesquisa decenal da Nasa de 2010 e Trump propôs cancelar a partir de 2019? O Congresso financiou em US$ 150 milhões para 2018, dando a entender que não vai engolir o cancelamento no ano que vem.

Lembra que Trump tentou deixar o módulo de pouso destinado a Europa, a lua-oceano de Júpiter, focando apenas no orbitador, o Europa Clipper? O Congresso financiou o projeto em US$ 595 milhões e especificou que o trabalho continue no módulo de pouso. Deputados e senadores americanos querem que o Europa Clipper lance em 2022, e o módulo de pouso dois anos depois, em 2024.

Concepção artística de módulo de pouso em Europa, lua de Júpiter. (Crédito: Nasa)

O orçamento aprovado pelo Congresso também contempla US$ 23 milhões para o desenvolvimento de um mini-helicóptero que viajaria a Marte acompanhando o jipe Mars 2020, e seguiu apoiando o desenvolvimento de uma missão de retorno de amostras marcianas.

De forma geral, o setor de ciência planetária ganhou muito com esse orçamento, com um total de US$ 2,2 bilhões. “Esses são tempos de ouro para a ciência planetária”, disse Casey Dreier, representante da ONG Planetary Society. “É um aumento de US$ 382 milhões sobre 2017.”

Por fim, e de forma previsível, o orçamento também beneficiou enormemente o desenvolvimento da cápsula Orion e do foguete SLS, que devem levar astronautas da Nasa aos arredores da Lua na próxima década.

O projeto está sob forte crítica, considerando que o custo do foguete e da cápsula é muito superior ao dos sistemas desenvolvidos pelo setor privado, como o Falcon Heavy e a Dragon, ambos da SpaceX. Contudo, o programa sempre representou muitos empregos nos tradicionais redutos do programa espacial, o que resulta em forte lobby entre os congressistas para sua manutenção.

Quando ficar pronto, provavelmente em 2020, o SLS será o foguete mais poderoso do mundo, batendo o Falcon Heavy. Mas ele será totalmente descartável e custará dez vezes mais. O Congresso decidiu financiar outra plataforma móvel para acelerar o desenvolvimento das próximas missões do SLS e também especificou que as missões a Europa sejam lançadas com ele, de forma a garantir seu uso.

A direção da Nasa, por sua vez, preferia estudar opções comerciais para o lançamento — menos potentes, mas com relação custo-benefício muito melhor.

É historicamente comum o Congresso travar duelos com a Casa Branca no direcionamento do programa espacial. Mas a batalha se tornou especialmente intensa no governo Trump.

Basta notar que até agora o presidente americano não conseguiu nomear seu escolhido para dirigir a Nasa, o deputado republicano Jim Bridenstine, cuja aprovação ainda pende no Senado.

agência bateu um recorde de interinidade na sua chefia, e as coisas ficarão mais dramáticas quando o administrador interino, Robert Lightfoot, se aposentar, o que deve acontecer no fim do mês que vem.

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