A Lua nasce eclipsada no céu do Brasil!

Ninguém gosta de ver o Sol nascer quadrado, mas hoje você pode ver a Lua nascer eclipsada, que é bem mais legal. Está rolando mais um eclipse lunar, que é visto de forma parcial no Brasil — no momento em que a Lua nasce no horizonte, a sombra da Terra já está avançando para longe da superfície lunar, e aos poucos nosso satélite lunar vai recuperando seu aspecto de Lua cheia esperado para esta sexta (27).

Então, primeiro, corre lá e dá uma olhada na Lua. Depois volta aqui.

(Horários em São Paulo: a Lua nasce às 17h39, a fase total do eclipse termina às 18h13 e a fase parcial acaba às 19h19.)

Tá vendo algum sangue aí?

Voltou? Então. A imagem acima mostra como a Lua fica quando o eclipse é total. Muito provavelmente, mesmo que tenha encontrado a Lua no horizonte leste, você não viu isso no céu. (Se viu, sorte sua.) Isso porque, para uma boa parte do Brasil, o eclipse já está se desfazendo quando a Lua pintou no horizonte. Salvo nas regiões mais a leste (o melhor lugar do território nacional para ver é a ilha de Fernando de Noronha), quando nosso satélite natural aparecer no céu, essa fase avermelhada já foi, e você vai ver apenas a Lua com uma mordidona nela — a sombra da Terra. E nas regiões mais a oeste, nada se perceberá.

Um eclipse lunar nada mais é do que o fenômeno que acontece quando a sombra da Terra encobre a superfície da Lua. O evento pode ser parcial (se a sombra só cobre parte do satélite natural) ou total (encobrimento completo). Não tem mistério.

Mas, então, por que o apelido sinistro, “lua de sangue”? Bem, primeiro que boa parte dos astrônomos nem curte essa expressão, justamente pela margem que dá para os viciados em apocalipses e similares. Mas até entendo que popularmente o fenômeno possa ganhar esse nome, porque em seu momento mais espetacular a Lua fica com um tom avermelhado. (Pessoalmente, prefiro “lua de tijolo”. Mas vá lá.)

Por que isso acontece? Imagens falam mais do que mil palavras, então dê uma olhadinha nesse vídeo incrível feito pela Nasa, que mostra como o eclipse lunar (para os terráqueos) seria visto da Lua!

Entendeu? Quando o Sol está totalmente encoberto pela Terra, a única luz que consegue chegar à superfície lunar é aquela que atravessa a borda da atmosfera terrestre, num tom avermelhado. Aí a Lua reflete essa luz e aparece com aquele tom bizarro. Não tem mistério.

SUPERSTIÇÃO
Bem, como todo eclipse lunar total tem essa mesma coloração, com ligeiras variações, já se pode afirmar que uma “lua de sangue” não incomoda muita gente, nem deveriam incomodar.

Agora, não seria este especial? O mais longo em não sei quantos anos? Bem, tecnicamente até é, mas são pequenas variações entre uma e outra ocorrência. A não ser que você cronometre, não perceberá grande diferença entre eclipses lunares totais. Esse, na verdade, para o Brasil, é meio mixuruca, justamente por que o pegamos pela metade.

E como vê-lo melhor?

De forma geral, não existe fenômeno natural mais fácil de observar. A olho nu já se percebe muitíssimo bem, e binóculos sem dúvida agregam valor. Telescópio pode ser bacana, mas o legal mesmo é ver a Lua por inteiro, então não são realmente necessários. A única coisa que pode impedi-lo de acompanhar o espetáculo é a nebulosidade. Torça para não estar nublado.

(Aproveitando o ensejo, enquanto o eclipse rola, se você quiser ver um fenômeno adicional, pode procurar Marte, que anda bem pertinho de nós por esses dias e aparece bem vistoso no céu, pertinho da Lua, como um astro vermelho de brilho estático, sem cintilar. Com efeito, ele faz sua aproximação máxima de nós na atual temporada na terça-feira (31) e tem propiciado bom espetáculo aos observadores. Também é visível a olho nu, mas para enxergar detalhes do planeta, só mesmo com um telescópio poderoso.)

E tão legar quanto ver eclipses é desmistificar eclipses. Não há por que temê-los ou achar que são raros. Ocorrem com frequência, várias vezes ao ano.

Isso me lembra a famosa história de como Cristóvão Colombo manteve o controle dos indígenas da Jamaica em 1504. Os nativos não queriam mais ceder provisões aos exploradores. De posse de um almanaque de efemérides, o navegador genovês sabia que em 29 de fevereiro aconteceria um eclipse lunar. Promoveu então um encontro com o cacique naquele dia e comunicou que seu Deus estava furioso com o tratamento que ele e seus homens estavam recebendo. Completou afirmando que o Senhor mandaria um sinal de sua insatisfação, fazendo a Lua nascer “inflamada pela fúria”.

Quando a indiaiada viu a “lua de sangue”, o horror tomou conta. Encheram-se de provisões e correram na direção das caravelas aportadas, implorando para que o almirante intercedesse com seu deus em favor deles. O navegante foi então à sua cabine para “orar”, certamente com um sorriso nos lábios. Monitorando o tempo do eclipse com sua ampulheta, só saiu de lá pouco antes do fim da fase total, que sabia que duraria 48 minutos, comunicando que o Senhor os havia perdoado. Logo a Lua voltaria a aparecer, deixando os nativos atordoados com a capacidade de Colombo de negociar as coisas com o pessoal “lá de cima”.

Rá! Pegadinha do Colombo!

Rá! Pegadinha do Colombo!

A história é verídica. Inacreditável mesmo é que cinco séculos depois ainda exista alguém capaz de cair nessa mesma conversa. Os eclipses não são sinais divinos, nem presságios de qualquer tipo. São apenas espetáculos celestes, momentos em que podemos nos colocar em sintonia com o Universo e apreender a beleza de seus movimentos.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube