Voos rasantes revelam segredos de Ceres

A missão Dawn ao cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter está se aproximando de seu final. A intrépida espaçonave segue operando em órbita de Ceres, que você pode chamar tanto de o maior dos asteroides como de o menor dos planetas anões, e numa trajetória que a coloca periodicamente muito perto da superfície desse pequeno mundo. O combustível, no entanto, está se esgotando.

Lançada em 2007, ela é uma das missões que mais se aproximam do que imaginamos na ficção científica para uma nave espacial. Com um motor iônico capaz de dar a ela um impulso suave, mas constante e duradouro, a Dawn oferece manobrabilidade incomum. Tanto que ela foi até Vesta, o segundo maior asteroide do Sistema Solar, entrou em órbita dele, passou dois anos estudando-o, entre 2011 e 2012, saiu dessa órbita e pegou o caminho até Ceres, onde chegou em 2015 e então se colocou em órbita.

Com isso, a Dawn se tornou a primeira espaçonave a orbitar dois objetos celestes que não fossem a Terra. E poderiam até ter sido três. A Nasa chegou a estudar a possibilidade de levá-la ao asteroide Adeona, antes de decidir que o maior ganho científico seria permanecer em Ceres _onde muitas descobertas importantes foram feitas.

Ceres se revelou um mundo complexo e geologicamente ativo, em que ainda hoje ocorrem eventos de criovulcanismo — a água de seu manto é por vezes ejetada para a superfície, do mesmo jeito que acontece com o magma na Terra.

Uma das formações mais intrigantes do planeta anão parece ter muito a ver com isso. É a cratera Occator, no interior da qual a Dawn pôde ver, de início, um misterioso ponto brilhante que, conforme a sonda se aproximou, se revelou uma grande montanha de sais — provavelmente resultado da ejeção de água salgada para a superfície. A água sublimou, o sal ficou, do mesmo jeito que acontece quando saímos do mar e o corpo seca.

Essa sucessão de imagens ao longo de muitos meses permitiu desnudar a público toda a beleza da ciência — o caminho, passo a passo, que leva do desconhecido ao compreendido –, de um modo que normalmente não acontece. Cientistas não gostam de apresentar “rascunhos”. Mas, diante de uma missão de exploração, não há outro caminho possível.

Neste momento, a Dawn está numa órbita que a cada 27 horas faz com que ela passe a apenas 35 km da superfície do planeta anão — é só 3 vezes a altitude de um avião de passageiros na Terra. E assim ela deve permanecer, mesmo depois que o combustível se acabe, em dois ou três meses, tornando-se uma companheira inerte de Ceres na vastidão do espaço.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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