Sonda estuda asteroide ‘sabor chocolate’
Nosso reflexo é pensar nos asteroides apenas como imensos pedregulhos espaciais, mas na verdade eles são como sorvete -vêm em sabores, de acordo com sua composição. E estamos prestes a aprender muito mais sobre o mais comum desses sabores — o chocolate dos asteroides — com a sonda japonesa Hayabusa2.
Como o nome sugere, ela é a segunda de sua linhagem. A Hayabusa original (o nome significa “falcão peregrino”) voou entre 2003 e 2010, numa missão tão dramática quanto espetacular.
Seu objetivo era chegar ao asteroide Itokawa, pousar, colher amostras, decolar e então trazê-las de volta à Terra. Agora, pense em tudo que pode dar errado nisso aí. Uma boa parte do que você imaginou aconteceu. Mas mesmo assim, aos trancos e barrancos, a Hayabusa conseguiu trazer uns farelinhos do Itokawa de volta para casa.
Foi a primeira vez que amostras de um asteroide foram trazidas por uma espaçonave. Só que o Itokawa é um asteroide do tipo S, composto principalmente de silicatos. Rocha mesmo. Eles são o segundo sabor mais comum de asteroide (baunilha, vá lá), respondendo por 17% do total.
Daí a grande novidade da Hayabusa2. Lançada em 2014, ela está neste momento em visita ao asteroide Ryugu, o primeiro asteroide do tipo C, com alto teor de carbono, a ser estudado em detalhe. Esse sim é um legítimo chocolate, correspondendo ao padrão espectral básico de 75% de todos os asteroides.
Asteroides carbonáceos costumam ser mais escuros e acredita-se que sua composição seja primitiva, mais parecida com o conteúdo original da nebulosa que teria formado o Sol. Eles nos remetem à época em que os planetas estavam se formando.
Estudar o Ryugu é, portanto, um trabalho de arqueologia cósmica — a busca por vestígios do ambiente que levou ao surgimento do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.
A Hayabusa2 tem os mesmos objetivos de sua predecessora, e até agora tem feito um voo muito mais tranquilo. Diversos ensaios e aproximações do asteroide foram conduzidos, e a sonda já chegou a estar a meros 5 km da superfície do Ryugu.
Tudo em preparação para o mapeamento e a escolha do local de pouso na primeira tentativa de coleta de amostras, que deve acontecer entre setembro e outubro.
Outras duas manobras do tipo devem acontecer em fevereiro e abril. E o mais incrível: elas devem levar três minijipes à superfície, além de um minimódulo saltador. Se ao menos um deles funcionar, será algo incrível de se ver. Tudo isso até o fim de 2019, quando a Hayabusa2 terá de partir para iniciar sua jornada de volta à Terra.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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