Objetos celestes fantásticos e onde habitam
“O que há num nome?”, já se perguntava Shakespeare. “Aquilo a que chamamos rosa, com qualquer outro nome, continuaria a exalar o mesmo perfume.” Mas e o que chamamos de planetas, estrelas e luas? O caso é rigorosamente o mesmo. Categorizar coisas é uma das obrigações da ciência, em seu esforço reducionista de entender a natureza. Mas é preciso entender os limites desse exercício e reconhecer que as definições são arbitrárias.
A situação familiar a todos é a de Plutão. É ou não é planeta? Os dinamicistas defendem que não — a origem de Plutão não é igual à dos outros oito planetas, já que seu nascimento foi incapaz de dragar a maior parte da massa residente em sua órbita para si.
Já os cientistas planetários, aptos a estudar corpos celestes por suas características intrínsecas, discordam. Para eles, Plutão tem complexidades típicas de planeta: diversificação em camadas, formato esférico e superfície moldada por processos geológicos. Logo, devia ser classificado como planeta.
Esses especialistas, a esta altura, vão ainda mais longe: querem derrubar as barreiras hierárquicas que separam planetas e satélites naturais de grande porte. Pouco importa em torno de quê o objeto está girando; para eles, objetos como a Lua, Ganimedes, Io e Encélado merecem ser planetas também.
Restaria então a divisão clara entre planetas e estrelas. Mas será? Há objetos que não são nem estrelas, nem planetas. As chamadas anãs marrons têm massa intermediária e uma capacidade tênue e fugidia de gerar sua própria energia por fusão nuclear. São como uma estrela abortada _começam estrelas, terminam planetas.
E agora um novo estudo mostrou que a atmosfera de exoplanetas gasosos muito próximos à sua estrela também pode ser mais parecida com a de estrelas — mas só no lado iluminado. No hemisfério escuro, eles se parecem com planetas gasosos mesmo.
Dos menores asteroides às maiores estrelas, todos são objetos com identidade própria, moldados pelas mesmas leis da física e da química, em circunstâncias diferentes. A natureza não colocou etiqueta dizendo “esse é de um tipo”, “aquele é de outro”. Isso nós fazemos, com todas as boas intenções, imperfeições e arbitrariedades das escolhas humanas.
Então, a melhor coisa neste caso é apreciarmos esses mundos pelo que são, em vez de surtarmos sobre categorias. E, quando um nome é inevitável, vale escolhê-lo com base em conveniências educacionais e científicas, aceitando que são apenas uma muleta do nosso discurso. A rosa e Plutão, como Shakespeare já sabia, sempre serão o que são, pouco importando que nome damos a eles.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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