Astrônomos encontram planeta Vulcano, mas Spock talvez não queira morar lá…

Um grupo de astrônomos americanos anunciou nesta terça-feira (18) ter descoberto aquele que seria basicamente o planeta Vulcano, da famosa saga de ficção científica “Jornada nas Estrelas” (“Star Trek”). Isso porque ele orbita a zona habitável da estrela comumente associada a esse mundo fictício. Mas o Mensageiro Sideral desconfia que Spock não ia gostar nada de morar lá.

Trata-se de HD 26965, também conhecida como 40 Eridani A, uma estrela anã laranja localizada a apenas 16 anos-luz da Terra, apenas um pouco menor e mais fria que o Sol e com idade aproximadamente igual à dele.

O planeta, por sua vez, foi descoberto em estudo liderado por Jian Ge, da Universidade da Flórida, e é o primeiro achado da Dharma Planet Survey (que, esperemos todos, não tem relação com Lost; de referências à cultura popular neste texto, basta Star Trek).

O projeto se baseia no uso de um telescópio de abertura de 1,27 metro instalado no Monte Lemmon, no sul do Arizona, e tem por objetivo monitorar estrelas próximas e brilhantes com um espectrógrafo capaz de registrar os efeitos sobre a luz do sutil bamboleio periódico causado pela presença de planetas orbitando ao seu redor.

Usando os novos dados, combinados a outros colhidos por instrumentos de alta precisão como o espectrógrafo HARPS, do ESO (Observatório Europeu do Sul), os pesquisadores praticamente afastaram que o bamboleio detectado seja ocasionado por atividade estelar. Eles determinaram que o ciclo magnético de 40 Eridani A é de 10,1 anos (comparado a 11,6 anos para o Sol), e não tem como responder pelo sinal periódico de 42 dias detectado. O período de rotação da estrela também está nessa mesma faixa, entre 39 e 44,5 dias, mas da mesma maneira provavelmente não explica o sinal. Ou seja, o bamboleio deve corresponder a um planeta que completa uma volta ao redor da estrela a cada 42 dias.

Essa órbita colocaria o mundo recém-descoberto na zona habitável de sua estrela, ou seja, na região do sistema que não é nem muito quente, nem muito fria, e permite que uma superfície planetária protegida por uma atmosfera similar à da Terra seja capaz de preservar água em estado líquido de maneira estável.

A técnica de detecção aplicada (o que os astrônomos chamam de medição de precisão de velocidade radial) só permite inferir a massa do planeta, mas não seu tamanho. E aí é que as coisas começam a ficar meio amargas para o sr. Spock. Pelas estimativas, o planeta teria no mínimo umas oito a nove vezes a massa da Terra. Isso o coloca na faixa das superterras, ou seja, planetas com massa intermediária entre os maiores mundos rochosos conhecidos e os menores mundos gigantes gasosos conhecidos.

Sem uma estimativa independente do diâmetro (que só pode ser obtida quando o planeta realiza trânsitos à frente da estrela, o que ainda não foi detectado e pode nem ser detectável, dependendo do ângulo de inclinação da órbita), é impossível determinar a densidade e, com isso, saber se ele se parece mais com uma Terra avantajada ou com um Netuno atrofiado. Mas os próprios pesquisadores admitem em seu artigo, publicado nos Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, que o mais provável é o segundo caso.

“Com uma massa mínima de 8,4 massas terrestres, o planeta provavelmente possui uma atmosfera gasosa [significativa], tendo por base outros planetas com massas e raios conhecidos”, dizem os autores. De fato, as estatísticas mostram que um planeta com essa massa, em geral, costuma ter cerca de 2 vezes o diâmetro da Terra, e a maioria dos planetas com mais de 1,6 diâmetro terrestre costuma ser mais similar a mininetunos do que a superterras.

Ainda assim, nem tudo está perdido. Os pesquisadores citam o caso do planeta Kepler-10c, por exemplo, que tem massa e órbita similares, está numa estrela com composição de elementos pesados similar e não tem um invólucro gasoso significativo, típico de planetas gigantes. “No curto prazo, essa possibilidade só pode ser investigada se um trânsito for detectado”, completam os cientistas.

Concepção artística do planeta HD 26965. (Crédito: Universidade da Flórida)

A ideia de que 40 Eridani A (que compõe um trio com duas companheiras menores e mais afastadas) é mesmo a estrela-mãe do planeta Vulcano de “Star Trek” é quase tão antiga quanto a série. As referências associadas à estrela apareceram pela primeira vez numa novelização dos episódios escrita pelo autor britânico James Blish em 1968 e depois num livro de cartas estelares da franquia, “Star Trek Maps”, por Jeff Maynard, em 1980. Em 1991, em uma carta publicada pela revista Sky and Telescope, o próprio criador da série, Gene Roddenberry, escrevendo em parceria com um trio de astrônomos do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, confirmou que Vulcano, na ficção, estaria em órbita de 40 Eridani A. Até aí, nada estritamente canônico, mas… na série “Star Trek: Enterprise”, nos anos 2000, mapas estelares mostrados em tela confirmaram a associação do planeta de Spock com 40 Eridani A, finalmente tornando a referência oficial.

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