Conheça nossos novos vizinhos
Um grupo internacional de pesquisadores com participação brasileira descobriu nada menos que 41 novos aglomerados estelares na vizinhança do Sistema Solar. Vizinhança naquelas, claro — estamos falando de um raio de 6.000 anos-luz. Mas, no contexto do tamanho da Via Láctea, com seus cerca de 100 mil anos-luz de diâmetro, é, como diria Fernando Vannucci, logo ali.
O achado, obtido pela colaboração Coin (acrônimo em inglês para Iniciativa Cosmoestatística), foi possível graças a dados colhidos pelo satélite europeu Gaia, e é ainda mais importante pelo fato de que, até recentemente, a comunidade astronômica dava esse censo local por essencialmente encerrado. O novo achado muda completamente esse entendimento e representa um aumento de mais de 20% no número de aglomerados estelares conhecidos em nossos arredores galácticos.
Aí você pergunta: mas por que diabos é importante ficar achando aglomerados estelares? E, indo ainda mais longe, que diabo é um aglomerado estelar? Bom, começando pelo fim, um aglomerado é basicamente um montão de estrelas (centenas a milhares delas) agrupadas, pelo fato de terem nascido na mesma ninhada e ainda não terem tido tempo de se dispersar pela galáxia.
Sabendo isso, fica mais fácil responder à primeira pergunta. Aglomerados, além de serem mais fáceis de ver do que estrelas individuais, representam estruturas jovens, que dão pistas de como cada região da galáxia está se transformando e de qual é, afinal, sua forma.
Não é segredo para ninguém que mapear a Via Láctea é extremamente difícil, pelo simples fato de que estamos do lado de dentro. É meio como tentar desenhar a costa brasileira a partir de Minas Gerais. Nesse sentido, o estudo dos aglomerados ajuda bastante.
Essa, é por sinal, a expectativa gerada pelo satélite Gaia. Seus dados contemplam a posição e velocidade de cerca de 1,7 bilhão de estrelas — por volta de 1% do total existente na Via Láctea. Seus dados prometem revolucionar vários campos da astronomia e permitirão ter uma noção sem precedentes da organização e da longa história da nossa galáxia.
As novas descobertas foram feitas com observações da região do braço de Perseus, um dos braços espirais da Via Láctea. “E estamos agora trabalhando para mapear o céu inteiro — potencial de descobertas enorme”, descreve Rafael de Souza, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos EUA, um dos líderes da Coin.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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