A fúria das estrelas anãs vermelhas
Bastaram 10 horas de observações do Telescópio Espacial Hubble para que astrônomos detectassem uma supererupção estelar, daquelas capazes de estragar a habitabilidade de um planeta, em uma estrela anã vermelha. Pois é, o Universo costuma ser bem mais hostil lá fora do que viver na Terra sugere.
O resultado, aceito para publicação no Astrophysical Journal, faz parte de um estudo chamado Hazmat, voltado justamente para investigar as ameaças a que estão submetidos mundos potencialmente habitáveis ao redor de estrelas anãs vermelhas.
Menores que o nosso Sol, esses astros são extremamente comuns e compõem cerca de três quartos de todas as estrelas em nossa Via Láctea. Sabe-se também que, sobretudo em sua juventude, elas são muito mais ativas, com frequentes e imensas explosões de plasma e radiação. Mas os detalhes ainda carecem de investigação, e essa é uma das motivações do estudo Hazmat.
O projeto está voltado para a observação de estrelas anãs vermelhas jovens (40 milhões de anos), adolescentes (650 milhões de anos) e maduras (com bilhões de anos). A primeira fase contemplou 12 estrelas jovens, observadas em luz ultravioleta. Ao todo, foram observadas 18 explosões estelares, uma delas tão forte que pode ser classificada como uma “superexplosão”. Eles a apelidaram de Hazflare.
“Com o Sol, temos cem anos de boas observações e, nesse período, vimos uma ou duas explosões com energia comparável à da Hazflare”, disse Parke Loyd, pesquisador da Universidade Estadual do Arizona e primeiro autor da pesquisa. “Em menos de um dia dessas estrelas jovens, pegamos a Hazflare, o que significa que temos superexplosões acontecendo todos os dias ou talvez várias vezes ao dia.”
Uma explosão dessas, viajando na direção de um planeta como a Terra, seria capaz de varrer completamente sua atmosfera. O que, é claro, é uma péssima notícia para qualquer coisa que pretenda viver nele.
Os pesquisadores agora seguem trabalhando e passam a investigar estrelas com mais idade, sabidamente mais tranquilas. É possível que, com o passar de bilhões de anos, até as mais rebeldes anãs vermelhas se tornem menos inóspitas a planetas habitáveis. Resta contudo saber se há mecanismo que permita que eles restaurem sua atmosfera, varrida diversas vezes durante a evolução inicial do sistema.
A pergunta é premente, e a resposta, idem. Espera-se que, com a próxima geração de telescópios em terra e no espaço, seja possível estudar a atmosfera de planetas ao redor de anãs vermelhas próximas e assim caracterizar o ambiente que impera em suas superfícies.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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