Nasa se prepara para desistir do jipe marciano Opportunity
O fim está próximo para a missão do mais longevo jipe robótico a operar em Marte. O Opportunity está sem contato com a Terra desde o dia 13 de junho, quando uma tempestade de poeira dominou a região de Meridiani Planum, e a Nasa já fala em interromper novas tentativas de comunicação.
Tempestades desse tipo — por vezes capazes de engolfar o planeta inteiro — são comuns em Marte. Nessas ocasiões, a poeira bloqueia de tal modo a luz solar que equipamentos que dependem dela para gerar eletricidade sofrem blecautes.
Com efeito, em julho de 2007, o Opportunity e seu “irmão gêmeo”, o Spirit, enfrentaram uma tempestade de poeira global que poderia ter encerrado a missão ali mesmo. Ambos estavam em Marte desde janeiro de 2004, e expectativa original é a de que operassem por apenas três meses. Não só ambos trabalharam por anos a fio como sobreviveram à primeira tempestade.
O Spirit, explorando a cratera Gusev, foi o primeiro a falhar, depois de enfrentar um problema de locomoção em 2009 e, por fim, deixar de se comunicar com a Terra, no ano seguinte.
O Opportunity, num terreno mais clemente, teve durabilidade maior e em 2014, depois de completar dez anos em Marte, tornou-se o jipe robótico espacial com maior distância percorrida, ultrapassando o Lunokhod 2, soviético, que em 1973 avançou por 39 km no solo lunar. Até a perda de contato, em junho, seu odômetro marcava 45,16 km.
No fim de agosto, a tempestade começava a se dissipar, momento em que a Nasa intensificou as tentativas de contato. Nada. No início de outubro, as condições atmosféricas já haviam voltado completamente ao normal, mas só se ouviu silêncio do pequeno jipe.
A esperança vai se esvaindo. A essa altura, os engenheiros consideram provável que a redução da energia a níveis mínimos possa ter levado o Opportunity a sofrer danos em seus circuitos que impeçam uma recuperação. É possível que o robô tenha literalmente “morrido de frio”.
A Nasa vai continuar “na escuta” por mais alguns dias, e se nada for recebido, declarará a missão concluída — até porque a agência já começa a focar suas atenções no pouso da sonda marciana InSight, em 26 de novembro.
É sempre triste o fim de uma missão como essa, mas não dá para dizer que o Opportunity decepcionou. Ele foi o primeiro jipe robótico a detectar em solo marciano evidências mineralógicas de que água correu pela superfície do planeta no passado remoto e estabeleceu recordes de durabilidade e distância percorrida que não serão facilmente batidos. A bola agora está com o Curiosity, há pouco mais de seis anos em Marte, com 18,6 km percorridos.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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