‘Oumuamua, de nave alien a lixo espacial
Quando foi descoberto, em 2017, acharam que ele era um cometa. Depois um asteroide. Depois cogitaram uma nave alienígena. Aí voltou a ser cometa. Depois asteroide. E agora estamos falando em espaçonave novamente. Afinal, o que é o tal ‘Oumuamua, o primeiro objeto interestelar a ser detectado vagando por nosso Sistema Solar?
O assunto esquentou por conta de um artigo científico assinado por uma dupla de Harvard, Abraham Loeb e Shmuel Bialy. Nele, os cientistas investigam um dos mistérios do ‘Oumuamua – o fato de que sua trajetória de saída do Sistema Solar tem uma sutil aceleração própria. Os dois levantam a hipótese de que ela possa se dar por pressão da radiação solar – ou seja, a luz do Sol estaria batendo no objeto e dando-lhe um suave empurrão. É o método usado para propulsão por veleiros solares.
A dupla de Harvard então fez o seguinte exercício: com base na aceleração observada, o ‘Oumuamua poderia realisticamente ser uma vela solar? A resposta, nada surpreendente dadas todas as incertezas das observações, é que sim.
Há, contudo, uma distância interestelar entre demonstrar o possível e sugerir o provável. Com efeito, uma equipe da Agência Espacial Europeia, em julho, analisou e descartou a explicação da pressão de radiação, fechando com a hipótese mais provável de que a aceleração tenha se dado pela ejeção de gases na aproximação com o Sol, à moda dos cometas.
É verdade que o ‘Oumuamua nunca exibiu comportamento de cometa, o que faz alguns cientistas duvidarem dessa explicação também. Então por que não dar uma chance à vela espacial? Dica: por que, embora possível, não faz sentido. O objeto chegou por aqui não a velocidades esperadas de voo interestelar prático, mas como quem teria sido ejetado de um sistema vizinho por gravidade, numa jornada de milhões de anos.
Já seria um bom motivo para dispensar os aliens. Mas Loeb e Bialy não desistem; eles sugerem que, em vez de ser uma nave enviada de propósito para nosso glorioso Sistema Solar, o ‘Oumuamua poderia ser simplesmente lixo espacial. Uma vela abandonada usada por uma civilização antiga em seu próprio sistema planetário, mais tarde ejetada de lá por alguma interação gravitacional aleatória.
Não é preciso ser astrofísico para estimar que a probabilidade de tropeçarmos em lixo de alienígenas é ridiculamente baixa. Ou seja: eu, se fosse você, continuaria apostando que o ‘Oumuamua é um cometa ou asteroide. Por outro lado, é quase um ato de justiça poética imaginar que a primeira evidência científica de que não estamos sós no Universo possa ser um pedaço de lixo que vagou por milhões de anos até ir parar na soleira da nossa porta.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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