Anéis de Saturno vão desaparecer com o tempo, diz novo estudo
Dizem que os diamantes são eternos, mas o mesmo não se pode dizer dos majestosos anéis de Saturno. Um novo estudo sugere que em mais uns 300 milhões de anos eles podem desaparecer.
O resultado foi publicado por James O’Donoghue, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, e seus colegas na revista científica Icarus e é consistente com dados colhidos pela sonda Cassini pouco antes de mergulhar na atmosfera de Saturno, em 2017.
A Cassini já havia verificado a forte precipitação de partículas provenientes dos anéis no planeta, algo que chamaram de “chuva de anel”, e o novo trabalho obtém corroboração à distância, com observações feitas pelo telescópio Keck, em Mauna Kea, no Havaí.
Sabe-se que a radiação ultravioleta do Sol pode desgastar as partículas dos anéis, e então os campos magnéticos as conduzem para o planeta. As novas observações, baseadas na emissão de luz por íons de hidrogênio, sugerem que o fluxo de gelo perdido para a atmosfera de Saturno está entre 432 e 2.870 kg por segundo. “Presumindo que essa taxa de perda continue, os anéis terão desaparecido em 292 milhões de anos”, escrevem os autores.
Os resultados parecem se encaixar bem com a noção — cada vez mais forte — de que os anéis de Saturno não vieram “de fábrica” com o planeta, mas foram produzidos por uma sequência catastrófica de colisões de um antigo sistema de luas há cerca de 100 milhões de anos.
A reorganização desse material teria produzido não só os anéis, mas também as luas mais internas hoje a orbitar Saturno, dentre elas a pequenina Encélado. (É por essa razão que acho mais difícil encontrarmos vida em Encélado do que em Europa, lua de Júpiter; embora ambas tenham oceanos habitáveis sob sua crosta de gelo, a lua saturnina parece ser bem jovem, e a joviana, em contraste, é tão velha quanto a Terra.)
Claro que há um bocado de incertezas, e é impossível no momento cravar que os anéis vão sumir. Isso porque, além de a perda de material não ser totalmente compreendida, a taxa pode não ser constante e ainda há que se levar em conta fontes de novas partículas. (Sabemos, por exemplo, que Encélado despeja água no espaço por meio de gêiseres, e que essa água congela na forma de partículas que então são incorporadas a um dos anéis.)
Ainda assim, é notável enxergar “transformação” no Sistema Solar — um lembrete de que até mesmo na escala astronômica tudo é circunstância. O planeta com anéis de hoje (estou falando com você, Saturno!), um dia não o será mais; um planeta habitável ontem (estou falando com você, Marte!), hoje é um deserto seco.
E, claro, não custa lembrar que a Terra é apenas mais um planeta, sujeito às mesmas transformações…
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