Astronautas trouxeram da Lua um meteorito da Terra, diz estudo

Sabe qual é o melhor lugar do mundo para aprender sobre a história da Terra? A Lua. Não por acaso, no fim do mês passado cientistas anunciaram a descoberta da rocha mais antiga do nosso planeta — uma amostra trazida do nosso satélite natural pelos astronautas da Apollo 14, em 1971.

A rocha foi colhida por Alan Shepard e Edgar Mitchell na região lunar de Fra Mauro, e estudos iniciais sugeriam que ela seria resultado da ejeção de material após um impacto na superfície — mas todo mundo pensava que fosse um impacto na própria Lua.

O módulo lunar bloqueia parcialmente a luz solar em Fra Mauro, durante a missão Apollo 14. (Crédito: NASA)

Uma análise da mesma amostra com instrumentação moderna, contudo, parece apontar uma origem bem mais interessante. O processo de ejeção deixa na rocha várias indicações de temperatura e pressão que permitem estimar de que profundidade ela foi ejetada. Se tivesse sido um impacto na Lua, ela teria de ter vindo de mais de 160 km de profundidade, inconsistente com qualquer modelo viável de ejeção. Em compensação, se o impacto tivesse sido na Terra, a profundidade estimada seria de bem mais razoáveis 20 km.

Além disso, sinais de oxidação na rocha apontam para condições similares às da Terra, mas jamais observadas na Lua. Ou seja, os cientistas têm boas razões para acreditar que a amostra Apollo 14321 na verdade contém material originário da própria Terra.

Não é uma ideia maluca; Terra e Lua foram companheiras por praticamente toda a história do Sistema Solar, desde a formação da segunda por um enorme impacto, 4,5 bilhões de anos atrás. E, assim como muitos meteoritos que caem em nosso planeta são de origem lunar, é de se supor que também chovem na Lua rochas ejetadas da Terra.

Reconstruindo a história da rocha, os cientistas envolvidos no projeto liderado por David Kring, chegaram à seguinte conclusão: 4 bilhões de anos atrás, um impacto na Terra ejetou a amostra para o espaço, de uma profundidade de 20 km. A rocha acabou caindo na Lua, onde sofreu diversas modificações por outros impactos em solo lunar _um deles a derreteu parcialmente 3,9 bilhões de anos atrás, e a enterrou. E o último evento de impacto a afetá-la ocorreu cerca de 26 milhões de anos atrás, quando o impacto de um asteroide produziu a cratera Cone e trouxe a rocha de volta à superfície lunar, onde os astronautas a colheram há 48 anos.

Agora calcule quantas outros meteoritos terrestres ainda poderão ser encontrados na Lua, remontando a épocas em que o registro geológico foi totalmente apagado na própria Terra? Nosso satélite natural é um museu representativo dos 4,5 bilhões de anos de história do nosso planeta, só esperando para ter vasto seu acervo examinado pelos cientistas.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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