Hayabusa2 realiza pouso para coleta de amostras no asteroide Ryugu

A sonda Hayabusa2 realizou nesta quinta-feira (21), aparentemente com sucesso, o pouso e a coleta de uma amostra do asteroide Ryugu, em mais um marco para esta impressionante missão japonesa.

O sinal do pouso chegou ao controle da missão às 19h48 (de Brasília). Toda a manobra foi realizada automaticamente, dada a distância entre o Ryugu e a Terra, que neste momento equivale a cerca de 340 milhões de km. Um sinal de rádio percorrendo essa distância toda leva 19 minutos em trânsito, viajando à velocidade da luz, o que impediria intervenções humanas durante a delicada descida.

Aos cientistas e engenheiros da Jaxa, agência espacial japonesa, restou acompanhar o sinal de rádio de baixa potência vindo da sonda e, com base apenas na variação do comprimento de onda causada pelas alterações de velocidade do veículo (o chamado efeito Doppler), identificar as etapas do pouso.

Na manobra desta quinta-feira, a sonda tinha como desafio atingir um “alvo” na cratera Urashima com apenas 6 metros de diâmetro. Para guiá-la na aproximação final, uma cápsula marcadora de alvo foi lançada previamente ao solo. E, a fim de proteger ainda mais a espaçonave, o contato com o solo foi planejado para acontecer a uma inclinação de cerca de 5 a 10 graus, para minimizar chance de colisão com rochedos próximos.

Após a coleta, a espaçonave acelerou para longe e, ao atingir uma distância segura, apontou sua antena principal para a Terra, a fim de transmitir todas as imagens e dados colhidos. A telemetria confirmou que tudo transcorreu como mandava o figurino.

A Hayabusa2 tem uma forma peculiar — talvez passional, diriam alguns — de colher amostras. Ela literalmente dá um beijo, e em seguida um tiro, no Ryugu. Após uma descida em marcha lenta, a 10 cm/s, ela toca um cone de coleta no solo por uma fração de segundo e então um projétil de tântalo é disparado, fazendo com que detritos do asteroide subam pelo cone e sejam armazenados numa cápsula, enquanto a própria sonda torna a subir, a 45 cm/s, para evitar quaisquer danos.

A despeito da descrição abrutalhada, trata-se de procedimento delicado, em que qualquer erro pode colocar tudo a perder.

Lançada em 2014, a Hayabusa2 chegou ao Ryugu — um pedregulho de pouco menos de 1 km de diâmetro residente entre as órbitas da Terra e de Marte — em julho do ano passado. Desde então, fez um mapeamento completo do objeto e chegou a lançar minirrovers à sua superfície, em setembro. O ponto mais crucial, contudo, era o de agora: o pouso da própria espaçonave e a subsequente coleta de amostras.

De início, os planejadores da missão cogitaram realizar até três dessas manobras de coleta, mas o asteroide se revelou mais inóspito do que o esperado, com muitos rochedos em sua superfície que dificultariam um pouso seguro. Daí que ainda não há definição se eles arriscarão outras tentativas até dezembro, quando a Hayabusa2 impreterivelmente deve partir do asteroide para pegar o caminho de casa com as preciosas amostras. Se tudo isso der certo, a cápsula da espaçonave deve reentrar a atmosfera terrestre e ser recuperada pela Jaxa no fim de 2020.

 

Concepção artística da Hayabusa2 em voo ao redor do asteroide Ryugu. (Crédito: Jaxa)

SOBRE A MISSÃO
A Hayabusa2 é a segunda missão de retorno de amostras de asteroides do Japão. Sua predecessora, a Hayabusa, voou entre 2003 e 2010 e trouxe de volta à Terra farelinhos do asteroide Itokawa. Ao chegar ao Ryugu, a Hayabusa2 se tornou a primeira sonda a visitar um asteroide do tipo C (carbonáceo).

Esses astros costumam ser mais escuros e acredita-se que sua composição seja primitiva, mais parecida com o conteúdo original da nebulosa que teria formado o Sol. Eles nos remetem à época em que os planetas estavam se formando.

Estudar o Ryugu é, portanto, um trabalho de arqueologia cósmica — a busca por vestígios do ambiente que levou ao surgimento do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube