A vida após a morte das estrelas

Os astrônomos a essa altura têm uma boa ideia de como o Sol, e com ele provavelmente a Terra, vai morrer — daqui a longínquos 5 bilhões de anos, por baixo. Mas será que estrelas têm uma “vida após a morte”?

É o que nos fazem perguntar uma série de descobertas recentes, culminando com um trabalho publicado na semana passada no periódico Astrophysical Journal Letters. Nele, um grupo de pesquisadores liderados por John Debes, do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, em Baltimore (EUA), reportou a descoberta da mais velha anã branca já observada.

As anãs brancas são os cadáveres deixados para trás por estrelas como o Sol, depois que esgotam completamente seu combustível nuclear. Uma anã amarela como a nossa, quando o fim se aproxima, incha imensamente, engolindo os planetas interiores. Ela se torna uma gigante vermelha.

Essa, contudo, é uma fase passageira, e ao final a estrela sopra suas camadas exteriores para longe, e resta só um caroço muito denso e inativo, que vai aos poucos se resfriando. Essa massa altamente comprimida pela gravidade, com o tamanho típico de um planeta como a Terra, é uma anã branca.

Só que a anã branca estudada pelo grupo de Debes, e identificada pelo projeto de ciência cidadã Backyard Worlds: Planet 9, já está se resfriando há 3 bilhões de anos. E, mesmo assim, ela possui vários anéis de poeira ao seu redor.

Conhecida apenas pela esquecível sigla LSPM J0207+3331, ela foi descoberta com dados do satélite Wise, da Nasa, e está localizada a 145 anos-luz de distância na constelação de Capricórnio. Observações subsequentes no Observatório Keck, no Havaí, confirmaram a presença de um entorno empoeirado.

Nos últimos anos, diversas anãs brancas já foram descobertas com discos desse tipo em seu entorno, evocando a intrigante possibilidade de que a morte de uma estrela signifique não só a destruição de ao menos parte do seu sistema planetário antigo, mas também, quem sabe, a semente para a construção de um novo, ao redor do cadáver estelar. Afinal, os planetas nos sistemas convencionais também se formam a partir de discos de gás e poeira.

Contudo, ninguém havia encontrado um disco de poeira tão longevo, o que faz pensar que ainda entendemos muito pouco o que alimenta esse processo nas anãs brancas. Talvez planetas jamais se formem nessas circunstâncias, ou então isso aconteça só às vezes. Fato é que o que, do nosso ponto de vista, é tido como o ponto final na vida de uma estrela pode ser apenas o princípio de uma nova e fascinante história cósmica.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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