Atrasos podem levar Nasa a abandonar superfoguete SLS para volta à Lua

A Casa Branca apresentou na segunda passada (11) sua proposta de orçamento para a Nasa em 2020. Dá para olhar o copo meio cheio, ou o meio vazio. Pelo meio cheio, são US$ 21 bilhões, um aumento de 6% sobre o que a mesma Casa Branca solicitou para a agência espacial em 2019. Pelo meio vazio, é 2% menor que o valor aprovado ao final pelo Congresso americano para 2019.

Em termos de gastos específicos, tem lá aquelas velhas obsessões de Donald Trump — acabar com missões de estudo do clima, acabar com o setor de educação da Nasa e cancelar o próximo grande telescópio espacial, o WFIRST –, mas é provável que, mais uma vez, isso seja revertido quando o Congresso aprovar a versão final.

O que causou algum estranhamento foi, já no orçamento proposto pela Casa Branca, uma redução forte (17,4%) nos gastos com o SLS, o superfoguete em desenvolvimento pela agência para suas missões tripuladas lunares. Isso veio na esteira de mais um possível adiamento de seu primeiro voo. Originalmente, devia acontecer em 2018. Agora fala-se em junho de 2020 e já há rumores de um novo adiamento. Isso atingiu um nervo.

Na quarta-feira, o administrador da Nasa, James Bridenstine, disse que está em estudo a possibilidade de fazer a primeira missão originalmente destinada ao SLS com lançadores comerciais, para que não se perca a data de junho de 2020. Conhecida como EM-1 (Missão de Exploração 1), ela deve impulsionar uma cápsula Orion (sem tripulação) ao redor da Lua e de volta à Terra, para um teste do veículo antes que astronautas possam fazer a mesma viagem.

Com o SLS, isso poderia ser feito com um único lançamento. Mas, para usar foguetes comerciais, como o Delta IV Heavy ou o Falcon Heavy, seria preciso dois voos. Um levaria a cápsula até a órbita terrestre baixa, e outro transportaria um estágio propulsor a ser acoplado à cápsula para a viagem translunar.

Em princípio, um lançamento é mais seguro e mais barato que dois. Mas só em princípio. O programa do SLS já custou à Nasa US$ 14 bilhões, e estima-se que cada lançamento, uma vez que o veículo esteja pronto e operacional, custará cerca de US$ 1 bilhão.

O lançamento de um Delta IV Heavy sai por US$ 350 milhões, e ele já realizou um voo de teste com a cápsula Orion em 2014. Já o Falcon Heavy, da SpaceX, voa por US$ 100 milhões. Ou seja, mesmo com o uso de múltiplos voos e acoplagem em órbita, a missão pode acabar saindo mais barata. Se esse plano for adiante, pode ser o último prego no caixão do SLS, um foguete que evoca o jeito antigo (e caro) de se fazer as coisas no espaço.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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