Orbitador confirma detecção de metano feita pelo jipe Curiosity em Marte
A espaçonave europeia Mars Express conseguiu obter confirmação independente de que uma pluma de metano emanou da cratera Gale em 15 de junho de 2013, como havia sido detectado no próprio local pelo jipe robótico Curiosity, da Nasa.
O novo resultado, publicado na Nature Geoscience desta semana, dá confiança à detecção original, no que pode ser um primeiro sucesso na busca por vida passada ou presente no planeta vermelho.
Isso porque o metano pode ter origem tanto em processos geológicos (como a serpentinização, em que a interação de minerais com água líquida gera o gás) como em processos biológicos (muitos organismos na Terra emitem esse gás como parte de seu metabolismo). Em nosso planeta, a maior fonte é de longe a vida. Em Marte, não sabemos. Pode ser vida presente emitindo o gás a partir de habitats limitados no subsolo, ou mais provavelmente é gás emitido por fissuras no solo, depois de passar um longo tempo aprisionado sob a superfície (seja qual for sua origem).
Em 15 de junho de 2013, o Curiosity fez essa detecção surpreendente, observando uma súbita elevação dos níveis de metano na atmosfera da região em que ele trabalha, na cratera Gale. Contudo, sabe-se que os pesquisadores tiveram de usar o instrumento medidor a bordo do jipe de maneira criativa (“enriquecendo” a amostra de ar antes de detectar os gases presentes, para aumentar a quantidade de metano disponível além dos níveis mínimos de detecção), o que impunha certo questionamento quanto à confiabilidade dos resultados. Claro, o pessoal da Nasa fez tudo que pôde para descartar falsos positivos, mas nada se compara a uma detecção independente.
No trabalho liderado por Marco Giuranna, do Instituto Nacional de Astrofísica, em Roma, a equipe mostra que um espectrômetro do satélite Mars Express detectou um aumento de concentração de metano na atmosfera marciana sobre a cratera Gale no dia 16 de junho de 2013 — um dia depois da detecção feita pelo próprio Curiosity.
A concentração é diminuta, como seria de se esperar (segundo a sonda, 15,5 partes por bilhão; segundo o Curiosity, 7,2 partes por bilhão), mas estava ausente nas passagens posteriores da Mars Express por sobre a mesma região. Ou seja, a essa altura é tão certo quanto 2+2 são 4 que as duas sondas, uma em órbita, a outra em solo, viram o mesmo fenômeno.
“Nossa análise geológica independente também aponta para uma fonte nesta região, onde falhas da Aeolis Mensae [uma formação achatada no solo marciano] podem se estender até o gelo raso da Formação de Medusae Fossae (uma região de deposição de solo por erosão que se estende por cerca de 1.000 km no equador marciano) e episodicamente liberar gás aprisionado abaixo ou no interior do gelo”, escrevem os pesquisadores em seu artigo.
A primeira detecção de metano em Marte já data de mais de uma década atrás, mas agora começamos a ter dados detalhados de onde essas emissões acontecem e quando, o que pode ajudar a finalmente elucidar sua origem. Nesse sentido, há grande expectativa pelos resultados da sonda Trace Gas Orbiter, também europeia. Em órbita de Marte, ela tem sensibilidade muito maior para detectar gases-traço (sinônimo de “em baixíssima quantidade”), como metano, no ar do planeta vermelho.
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