Apertem os cintos, o metano marciano sumiu (diz nova sonda europeia)

Um ano após atingir sua órbita final ao redor de Marte e começar a colher dados científicos, a sonda europeia Trace Gas Orbiter tem um resultado intrigante a reportar sobre a detecção de metano na atmosfera do planeta vermelho: ela não detectou metano algum.

É isso mesmo. Os instrumentos mais precisos já embarcados para lá com a capacidade de detectar gases em quantidades-traço na atmosfera não encontrou, em todas as observações que fez, qualquer sinal de metano, o que significa que, se ele estiver lá, tem de estar numa quantidade inferior a 0,05 partes por bilhão. É o jeito delicado dos cientistas de dizer que não tem nada lá.

Trata-se de um balde de água fria em quem (como eu) esperava que os resultados do TGO fossem ajudar a elucidar a origem do metano marciano, gás que, aqui na Terra, é fortemente ligado a atividade bacteriana. Agora ficou difícil até dizer se ele existe mesmo.

O resultado, publicado na última edição da revista Nature, contrasta fortemente com observações anteriores, feitas da Terra, da órbita marciana e da própria superfície do planeta vermelho. Em 2004, pesquisadores publicaram detecções feitas tanto com telescópios como com o orbitador europeu Mars Express, na faixa de 10 partes por bilhão (isso quer dizer que, a cada bilhão de moléculas no ar marciano, 10 seriam de metano).

Depois disso, o jipe Curiosity, da Nasa, prometia novidades, e foi igualmente frustrante quando ele também foi incapaz de detectar sinais significativos de metano na atmosfera ao chegar à cratera Gale, em 2012. No ano seguinte, contudo, as coisas ficaram interessantes, quando o rover encontrou uma pluma momentânea de metano, numa concentração de 15 partes por bilhão. E resultados publicados há apenas três semanas indicaram que a sonda Mars Express detectou da órbita essa mesma pluma.

A não detecção agora, com os instrumentos mais sensíveis já lançados, é no mínimo desconcertante. Estimativas anteriores do tempo de manutenção do metano na atmosfera marciana antes de se decompor, uma vez emitido, eram de 250 a 300 anos. Ou seja, se as medições anteriores estavam corretas, tinha de ter algo lá detectável pelo TGO — a não ser que exista algum mecanismo desconhecido de remoção rápida de metano atmosférico. É mais uma bola de curva que Marte joga em nossa direção, e cabe aos cientistas tentar agarrá-la.

Por sorte, todos os detectores envolvidos — na Mars Express, no Curiosity e no próprio Trace Gas Orbiter — ainda estão funcionando. Podemos, portanto, esperar ação coordenada e mais dados nos próximos anos, a fim de elucidar mais esse grande mistério marciano.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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