Completando o álbum das ondas gravitacionais
Os detectores de ondas gravitacionais Ligo e Virgo, localizados nos EUA e na Europa, estão muito perto de completar seu álbum de figurinhas de eventos cósmicos detectáveis. As primeiras detecções dessas marolas no próprio tecido do espaço-tempo, a partir de 2015, envolveram colisões de buracos negros. Em 2017, tivemos o anúncio da detecção da fusão de duas estrelas de nêutrons. E agora, ao que parece, temos o evento que faltava: uma estrela de nêutrons se fundindo com um buraco negro. Esses são basicamente os três tipos de evento astrofísico que os detectores foram projetados para detectar.
A rigor, seguindo as previsões da teoria da relatividade geral de Einstein, quaisquer objetos com massa podem produzir ondas gravitacionais, essas pequenas vibrações no próprio tecido do espaço. Contudo, em geral, elas são muito discretas e difíceis de detectar. Mesmo com as instalações quilométricas do Ligo e do Virgo, a sensibilidade seria insuficiente para, por exemplo, medir o efeito de duas estrelas de tamanho solar girando uma ao redor da outra.
Para que as ondas gravitacionais sejam “sentidas”, elas precisam vir de objetos com alta massa que estejam se deslocando a altíssimas velocidades, pouco antes de colidirem. Quanto mais compactos são, mais podem acelerar antes da fusão. Extremamente densos, estrelas de nêutrons e buracos negros são o destino final e implosivo de astros de alta massa, muito maiores que o Sol. São, por isso, os reis da sinfonia das ondas gravitacionais.
O sistema Ligo-Virgo foi religado no último dia 1º de abril para sua terceira rodada de observações. Em 26 de abril, a rede detectou o evento inédito, que parece ter envolvido uma estrela de nêutrons e um buraco negro. Mas ainda é incerto, pois o sinal foi bem fraquinho, vindo de muito longe — 1,2 bilhão de anos-luz de distância. Pode ter sido um tsunami lá, mas aqui chegou só uma marolinha. “Foi como ouvir alguém sussurrar uma palavra numa lanchonete barulhenta”, disse Patrick Brady, porta-voz da colaboração Ligo.
Um dia antes, em 25 de abril, os detectores captaram também o sinal de uma nova possível colisão de duas estrelas de nêutrons. E, desde o reinício das operações, foram mais três possíveis colisões de buracos negros. Com isso, os números vão se empilhando: desde 2015, já são 13 fusões de buracos negros, 2 fusões de estrelas de nêutrons e 1 potencial fusão de estrela de nêutrons com buraco negro.
Essas estatísticas são importantes para compreender com que frequência esses eventos acontecem e estudar as populações de estrelas de nêutrons e buracos negros existentes lá fora. Mas o mais interessante mesmo será no futuro detectar um evento diferente de tudo isso, algo jamais previsto. Será que vai acontecer? Eis aí um dos aspectos mais entusiasmantes da ciência — ninguém sabe de onde virá a próxima surpresa.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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