Novo artigo destaca papel central de Sobral na confirmação da relatividade

Nesta quarta-feira (29), exatos cem anos atrás, duas expedições britânicas, à Ilha do Príncipe, na África, e a Sobral, no Ceará, realizaram o primeiro teste da relatividade geral, ao observar um eclipse total do Sol. E, apesar do reconhecimento internacional relativamente modesto, uma dupla de pesquisadores aponta que vieram mesmo do Brasil as imagens que permitiram concluir em favor da teoria de Einstein.

Em artigo-comentário publicado na edição deste mês da revista Nature Physics, Luís Carlos Bassalo Crispino, da UFPA (Universidade Federal do Pará) e Daniel Kennefick, da Universidade do Arkansas (nos EUA), destrincham toda a história da observação do eclipse e de como, apesar das dificuldades, foi possível aos cientistas envolvidos no trabalho afirmar com confiança que a relatividade geral previa corretamente a forma como a gravidade do Sol desviava raios de luz vindos de estrelas distantes.

“Com esta publicação, tentamos resgatar a importância
das medidas realizadas no Brasil”, diz Crispino ao Mensageiro Sideral. “Por várias razões, boa parte da comunidade internacional não dá a devida importância aos resultados obtidos em Sobral.”

Em parte, diz a dupla, esse efeito está ligado à fama de Arthur Eddington, um dos idealizadores das expedições, ao lado do astrônomo real britânico à época, Frank Dyson. Entusiasta da teoria de Einstein mesmo antes de sua confirmação, Eddington se tornou o nome mais comumente associado ao experimento — e calhou de ele coordenar os trabalhos de observação na Ilha do Príncipe, na costa africana. Já a expedição que veio ao Brasil foi liderada por Charles Davidson e Andrew Crommelin. Só que foi das placas feitas em Sobral, e não em Príncipe, que vieram as imagens de melhor qualidade do eclipse, por uma larga margem.

“Neste ano do centenário, a contribuição desses dois homens, e de Dyson, deveria ser restaurada a seu lugar de direito ao lado de Eddington nessa história de grande empreendimento científico”, escrevem Crispino e Kennefick em seu texto na Nature Physics.

(A propósito, para conhecer mais a história das expedições de 1919 e entender como um eclipse pôde confirmar a teoria de Einstein, clique aqui.)

CELEBRAÇÕES

Para comemorar a data, diversos eventos culturais estão ocorrendo em várias partes do país. No Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ocorre entre as 16h e as 20h desta quarta a atividade “Um eclipse para chamar de seu”. Nele, um painel composto pelo cineasta Andrucha Waddington, o antropólogo Marcio Campos, a astrônoma Patrícia Spinelli e a historiadora Maria Eichler discutirá as diferentes formas de apropriação – científicas, culturais e religiosas – de um eclipse. A moderação será de Alfredo Tolmasquim, diretor de Desenvolvimento Científico do Museu do Amanhã.

Após os debates, às 18h, haverá a exibição do filme nacional “Casa de Areia” (2005), protagonizado por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, com direção de Andrucha Waddington. O  filme retrata o encontro da personagem de Fernanda Torres com os membros da comissão inglesa, que se encontrava em uma região inóspita, para comprovar a teoria de Einstein.  (Por uma liberdade poética, o filme se passa na região dos Lençóis Maranhenses, embora na realidade a comissão inglesa tenha estado em Sobral, no sertão nordestino.)

Para participar do evento no Museu do Amanhã, basta se inscrever, clicando aqui.

Também em Sobral, onde tudo começou, há uma celebração com um evento de três dias organizado pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Para mais detalhes, clique aqui.

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