O silêncio da busca por inteligência extraterrestre e seu significado
O maior projeto de escuta em busca de sinais de civilizações extraterrestres apresentou seu resultado de três anos de observações. Você não ouviu nada a respeito? Nem eles. “Após excluirmos eventos com características consistentes com interferência de rádio terrestre, ficamos com zero candidatos”, escrevem os pesquisadores coordenados por S. Pete Worden, em artigo submetido para publicação no Astrophysical Journal.
Não é de forma alguma uma surpresa. O projeto Breakthrough Listen tem duração prevista para dez anos e sabe que, mesmo com sua duração total, a probabilidade de um contato é baixa. Isso, por diversas razões. Não só uma civilização inteligente não deve existir em cada esquina do Universo como também é preciso que aconteçam uma série de coincidências para que o contato seja feito.
Olha só: para começar, eles precisam usar tecnologias similares às nossas (rádio ou laser) em suas tentativas de comunicação interestelares. Também é necessário que eles transmitam na nossa direção de forma que o sinal chegue exatamente no momento em que estamos escutando aquela estrela em particular. Por fim, é preciso que o sinal esteja nas frequências em que estamos escutando, para não passar despercebido.
Tudo isso mostra como é improvável escutarmos a estrela certa, na hora certa, com a tecnologia certa, na frequência certa, para afinal contatarmos uma civilização alienígena. Com efeito, o Breakthrough Listen ouviu 189 estrelas próximas com o radiotelescópio Parkes, na Austrália, e 1.138 com o radiotelescópio de Green Bank, nos Estados Unidos. Embora ainda tenha muito trabalho pela frente, já é a maior busca do tipo feita até hoje por um projeto de Seti (busca por inteligência extraterrestre, na sigla inglesa). Foram ouvidas frequências entre 1,1 e 3,45 GHz, e cada estrela era monitorada por cinco minutos. É a caça da famosa agulha no palheiro.
A boa notícia é que mesmo sem detectar nada esses estudos nos dizem algo muito importante: eles nos ajudam a delimitar o tamanho do palheiro. É possível estimar o significado estatístico de uma não detecção. No limite mais forte imposto pelo estudo, é possível dizer que, para não termos achado nada, menos de 0,37% das estrelas devem ter um transmissor alienígena detectável com a sensibilidade de nossos radiotelescópios. Ou seja, algo como menos de 1 em 300 estrelas.
Isso ajuda a dimensionar o tamanho (pequeno) do fracasso. Mesmo que esforços posteriores vasculhando bilhões de estrelas derrubem esse número para menos de 1 em 300 milhões, ainda assim poderíamos ter umas 300 civilizações espalhadas pela Via Láctea. O silêncio até agora diz muito mais sobre a dificuldade da busca do que sobre a real prevalência de vida inteligente no Universo.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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