Nasa tem disputa interna por projeto de módulo lunar

Bora ler o texto mais chato já escrito sobre exploração da Lua? O administrador da Nasa, James Bridenstine, anunciou na última sexta-feira (16) que o Centro Marshall de Voo Espacial, em Huntsville, Alabama, será o responsável pelo programa de desenvolvimento do módulo lunar destinado a levar humanos de volta à superfície da Lua em 2024, no programa Artemis.

Para tentar deixar feliz o pessoal do Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, Bridenstine anunciou que o módulo será desenvolvido em três estágios (partes), dos quais um será responsabilidade do Johnson. A tentativa de apaziguar o clima em Houston fracassou, e os congressistas texanos não ficaram nada felizes.

Não é preciso conhecer a fundo a estrutura ou a história da Nasa para ver que os centros brigam entre si pelos programas, que significam recursos vultosos e empregos, que motivam congressistas a fazerem de tudo para puxar as brasas para suas respectivas sardinhas na hora de formular o orçamento da Nasa.

É por causa desse joguinho que o SLS (foguete de alta capacidade em desenvolvimento pelo Marshall) já consumiu US$ 14 bilhões desde 2011, com primeiro voo esperado em 2021 (vários anos atrasado), e a Orion (espaçonave para voo de espaço profundo em desenvolvimento pelo Johnson) já gastou US$ 16 bilhões desde 2006, realizando até agora apenas um precário voo não tripulado de teste em órbita terrestre, em 2014.

O desenvolvimento do novo módulo lunar, que precisa miraculosamente acontecer em cinco anos para permitir um pouso em 2024, deve elevar a pilha de dinheiro consumida pelo programa tripulado em no mínimo mais US$ 20 bilhões, segundo estimativa da própria Nasa. É por essa grana que os dois centros da agência, e seus respectivos congressistas, estão duelando.

Enquanto isso, é secundário se qualquer desses sistemas vai mesmo voar, ou quando, ou quão racionais eles são do ponto de vista de arquitetura de missão, para não falar em custo-efetividade. O assunto também não é o que essas naves irão fazer na Lua, ou quão importante isso será para o futuro da exploração espacial. O debate é político: para quem vai o dinheiro.

A Nasa, em seu programa tripulado, infelizmente perdeu a mão. Dá saudade dos anos do programa Apollo, em que a agência recebeu uma meta, planejou sua execução da forma mais racional possível e colocou sua execução bem-sucedida em primeiro lugar na lista de prioridades. Hoje em dia, voar é o menos importante do programa espacial tripulado dos EUA. Quer apostar quanto que, daqui a 2024, a empresa SpaceX vai fazer mais, melhor, mais rápido e mais barato?

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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