A primeira olhada em um exoplaneta de porte terrestre
A expectativa é grande pela próxima geração de telescópios, que finalmente nos dará alguns detalhes a mais sobre as características dos planetas, rochosos e gasosos, que existem além do nosso Sistema Solar. Mas, como quem não tem cão caça com gato, os astrônomos vão tentando extrair o máximo que puderem com os equipamentos à disposição.
Na semana que passou, um artigo publicado na revista Nature trouxe as primeiras pistas de como é a superfície de um exoplaneta rochoso de porte similar ao da Terra. E ele está mais para a Lua, ou o planeta Mercúrio, do que para o nosso próprio mundo.
Os pesquisadores usaram o telescópio espacial Spitzer, da Nasa, para dar uma olhadela no planeta LHS 3844b, descoberto no ano passado pelo Tess, o novo satélite caçador de exoplanetas da Nasa.
Aquele mundo orbita uma pequena estrela anã vermelha, bem menor e mais fria que o Sol, a 48,6 anos-luz daqui. Com um diâmetro apenas 30% maior do que o da Terra, ele foi descoberto por conta dos minieclipses que provoca a cada 11 horas, ao passar à frente de sua estrela-mãe ao completar mais uma volta ao redor dela.
Com essa órbita tão curta, esperava-se que fosse mesmo um mundo desértico muito quente. O que faria dele naturalmente um bom emissor de radiação infravermelha, especialidade do Spitzer. Laura Kreidberg, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, e seus colegas apostaram que seria possível usar o telescópio espacial para detectar alguma luz vinda diretamente do planeta. E deu certo.
Eles viram que há uma diferença radical de temperatura entre seus lados iluminado e escuro, o que sugere a ausência de atmosfera. Calculou-se que o hemisfério voltado para sua estrela-mãe deva atingir temperaturas de 770 °C, comparáveis aos 430 °C do nosso Mercúrio. E, a exemplo do nosso planeta mais interno, o do sistema LHS 3844 parece ter uma superfície bastante escura, um tom acinzentado similar ao visto em Mercúrio ou nas regiões mais escuras da nossa Lua, os “mares”.
O resultado não é inesperado; imagina-se que muitos dos planetas ao redores de estrelas menores e mais frias que o Sol acabem tendo sua atmosfera varrida por tempestades estelares, ainda mais por tenderem a órbitas bem mais curtas que a de Mercúrio por aqui (o planeta solar mais interno completa uma volta em 88 dias; compare com as 11 horas de LHS 3844b).
Por outro lado, podemos apostar em maior diversidade e variações, conforme apareça a tecnologia para analisar planetas em circunstâncias menos inóspitas, algo que deve se tornar possível a partir da próxima década.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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