Ovnis são ovnis e vice-versa
Na semana que passou, causou alguma comoção a notícia de que a Marinha americana havia confirmado a veracidade de vídeos registrados por seus oficiais durante os anos em que o Pentágono manteve um programa para investigar casos de objetos voadores não identificados, entre 2007 e 2012.
A revelação da existência do programa, assim como a divulgação dos vídeos, dentre eles um bastante intrigante que envolveu a perseguição de dois caças F-18 da Marinha a um objeto não identificado, em 2004, aconteceu em dezembro de 2017, em reportagem do New York Times.
Na ocasião, o jornal chegou a entrevistar um ex-piloto da Marinha envolvido no episódio, David Fravor, que declarou: “Não tenho ideia do que eu vi. Não tinha plumas, asas ou rotores e era mais rápido que nossos F-18s.”
As manobras vistas eram totalmente incompatíveis com qualquer veículo terrestre de que se tenha notícia.
Os vídeos vieram a público graças a uma manobra interna de um funcionário de inteligência do Pentágono, Luis Elizondo, que deixou o governo americano em seguida para iniciar um negócio no ramo de ufologia, uma empresa chamada To the Stars Academy of Arts & Science, liderada pelo ex-vocalista da banda Blink-182, Tom DeLonge.
Desconsidere os interesses mercadológicos estapafúrdios do grupo (que fala em engenharia reversa de discos voadores e criação de equipamentos para telepatia e abertura de buracos de minhoca atravessáveis, entre outras ideias absurdas). O que resta? O mistério.
E o mistério não é novo. Pessoas têm visto coisas estranhas no céu há muito tempo. Na imensa maioria dos casos, o enigma cai rapidamente e em seu lugar restam fenômenos meteorológicos incomuns ou mesmo astros celestes brilhantes, como Vênus. Em outros, resta só o testemunho, que pode perfeitamente ser reflexo de uma alucinação. Mas há um pequeno percentual de casos que não se enquadra em nada disso. O mistério sobre eles permanece após exauridas as explicações corriqueiras.
Estamos diante de um deles. E o que a Marinha fez foi meramente reconhecer o mistério. Saltar daí para a conclusão de que se trata de uma visita extraterrestre é o que transforma a ufologia em pseudociência. Um ovni é o que a sigla diz: um objeto não identificado. Pode ser um fenômeno natural desconhecido, pode ser uma tecnologia ultrassecreta de alguma superpotência e pode também ser uma nave alienígena, sendo que esta última, por ser a mais extraordinária, é automaticamente a menos provável das hipóteses. Possível? Sim. Mas devemos resistir a um salto de fé. Não há vergonha em dizer “não sabemos”.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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