Elon Musk apresenta nave com que pretende colonizar Marte

Numa noite de muito vento nos arredores de Brownsville, no Texas, Elon Musk apresentou no sábado (28) o primeiro protótipo operacional da Starship, a espaçonave com que a SpaceX espera promover a construção de uma base na Lua e de uma cidade em Marte.

O público presente, assim como quem viu pela internet, ouviu que o primeiro voo deste veículo, um salto suborbital de 20 km, deve acontecer em um ou dois meses (ainda pendente de autorização governamental). E, se as coisas continuarem avançando no ritmo atual, a SpaceX espera colocar uma nave similar a essa em órbita no ano que vem.

Os próximos meses verão então ou o mais revolucionário salto tecnológico da exploração espacial ou o mais retumbante fracasso de um empreendedor apaixonado pelo espaço. O histórico de Elon Musk em transformar ideias malucas em realidade sugere a primeira hipótese. O tamanho do desafio e o grau de inovação se inclinam na direção da segunda.

De toda forma, os rivais da SpaceX, tanto no setor público como no privado, estão preocupados. A Nasa, em particular, gastou em 15 anos US$ 46 bilhões com seus planos de retomar a exploração tripulada além da órbita terrestre baixa, e não tem um foguete pronto para chamar de seu.

Musk, em contraste, primeiro falou do projeto que acabaria batizado de Starship/Super-Heavy apenas 3 anos atrás, e espera ver um voo suborbital em dois meses. Por uma fração do investimento feito pela Nasa, que não supera US$ 3 bilhões. Um único lançamento do superfoguete da Nasa vai custar US$ 1,5 bilhão. Não se surpreenda se o Starship decolar por um décimo deste valor.

O administrador da Nasa, James Bridenstine, acusou o golpe, tuitando na sexta-feira que a agência “espera ver o mesmo nível de entusiasmo focado nos investimentos feitos pelo contribuinte americano”, referindo-se aos atrasos com o programa comercial de transporte de tripulação no qual a SpaceX é contratada da Nasa e ainda está por voar seus primeiros astronautas para a Estação Espacial Internacional, numa cápsula Crew Dragon (um voo de teste, sem tripulação, ocorreu neste ano, e espera-se um voo tripulado até o ano que vem).

Na apresentação de sábado, Musk respondeu que a SpaceX dedica apenas 5% de sua força de trabalho ao projeto Starship; os outros 95% estão focados nos foguetes Falcon e nas cápsulas Dragon, exigidas para cumprir o contrato com a Nasa.

Nenhuma troca de farpas consegue esconder o fato de que a agência espacial americana está numa corrida com a SpaceX pelo espaço profundo e, neste momento, na história da lebre e da tartaruga, ela é a tartaruga – andando na direção errada.

Ainda tem chão. A Starship Mark 1, como Musk a chama, terá de voar. Depois a Mark 2, construída na Flórida. Então a Mark 3. E a 4 e a 5. Cada uma delas melhorando o design básico. O Super-Heavy, estágio de lançamento da Starship, também terá de ser testado. Mas a SpaceX faz tudo da forma mais aberta possível, contagiando entusiastas ao redor do mundo com seu espírito aventureiro e revolucionário. O desfecho, ninguém sabe qual será. Mas certamente vai valer pelo espetáculo.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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