Nasa anuncia missão para achar asteroides perigosos

Depois de anos de enrolação e vai-não-vai, a Nasa anunciou que irá desenvolver uma missão espacial dedicada especificamente à busca por objetos ameaçadores à Terra. E olha só: o cutucão final veio aqui do Brasil. Calma que eu explico.

A Near-Earth Object Surveillance Mission consistirá em um satélite a ser colocado numa órbita ao redor do Sol que acompanha a Terra em sua jornada em torno do astro-rei, mantendo posição a 1,5 milhão de km do nosso planeta. A bordo, um telescópio de 50 centímetros acoplado a uma câmera de infravermelho teria acesso a praticamente todo o céu, sem ter de lidar com inconvenientes como tempo nublado e posição solar inconveniente, para caçar asteroides e cometas potencialmente perigosos.

Estima-se que o projeto, a ser gerenciado pelo JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, vá custar cerca de US$ 600 milhões, com lançamento previsto para 2025. O anúncio veio com certa surpresa, uma vez que, apenas dois anos atrás, em 2017, a proposta de uma missão semelhante acabou batendo na trave e não entrando. Mas o contexto ajuda a explicar.

Em julho, o Observatório Sonear, em Oliveira (MG), fez uma descoberta surpreendente: um asteroide de tamanho considerável (algo entre 50 e 130 metros) passaria zunindo pela Terra, a 86.400 km/h, apenas um dia depois de ser detectado, tirando tinta da trave, a 73 mil km do nosso planeta (menos de um quinto da distância até a Lua). Foi a maior aproximação conhecida de um objeto deste porte – capaz de destruir uma cidade – nos últimos cem anos.

O que aconteceu em seguida foi uma lavação de roupa suja dentro da Nasa, que financia os principais projetos de detecção de objetos potencialmente perigosos, a fim de entender como os brasileiros viram algo que suas observações não captaram.

Era para ter ficado tudo em casa, não tivesse o Buzzfeed buscado acesso aos e-mails via Foia (a versão americana da Lei de Acesso à Informação). E aí todo mundo ficou sabendo da preocupação interna da agência com uma falha nada trivial. Jogaram para cá, jogaram para lá, as desculpas misturaram tempo ruim com baixa sensibilidade do algoritmo de detecção, e as discussões entre os pesquisadores pintaram no Buzzfeed no dia 19 de setembro.

A missão de busca de asteroides foi anunciada apenas quatro dias depois e tem o potencial para ajudar a Nasa a cumprir a meta imposta pelo Congresso americano de descobrir, em dez anos, pelo menos 90% dos asteroides próximos à Terra com pelo menos 140 metros de diâmetro. Sem falar em não passar carão.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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