O misterioso caso do planetão e a estrelinha

Um exoplaneta descoberto a apenas 30 anos-luz da Terra deixou os astrônomos coçando a cabeça. Orbitando uma estrela com um décimo da massa do Sol, ele tem pelo menos metade da massa de Júpiter. O problema: pelos modelos mais aceitos de formação planetária, uma estrela desse tamanho não deveria ter um planeta tão grande assim.

A descoberta foi feita por uma equipe hispânico-alemã, a partir de observações com um espectrógrafo de infravermelho instalado no Observatório Calar Alto, na Espanha. O equipamento, em essência, permite medir o quanto a luz da estrela é distorcida por seu movimento ao longo do tempo, e a oscilação estelar, por sua vez, denuncia um bamboleio causado pela ação gravitacional de um planeta girando ao redor dela, puxando-a para lá e para cá conforme avança em sua órbita, ao longo de 204 dias.

O achado foi publicado na edição de 27 de setembro da revista científica americana Science, e no título os pesquisadores enfatizam o drama: “Um exoplaneta gigante orbitando uma estrela de massa muito baixa desafia modelos de formação planetária”.

Ocorre que o processo mais aceito para explicar o nascimento dos planetas é aquele em que, num disco de gás e poeira ao redor da estrela nascente, pequenos grãos vão aglomerando por colisão, formando pedregulhos cada vez maiores, até gerarem planetesimais e, por fim, planetas. Essa é a chamada acreção de núcleos.

Não é um caminho particularmente rápido, e aí tanto a quantidade original de matéria no disco circundante à estrela recém-nascida quanto a capacidade dela de “soprar” o gás do disco para longe competem para limitar o tamanho máximo dos planetas produzidos. Em suma, um sistema como GJ 3512 não poderia ter sido formado por esse processo.

Para explicá-lo, os astrônomos precisam lançar mão de outra receita, a do colapso gravitacional. Ela tem no momento pouco suporte em simulações, mas é uma forma bem mais rápida e pujante de formar planetas, que envolve basicamente a aparição de instabilidades no disco circunstelar. Se houver um desequilíbrio na distribuição de massa do disco, uma parte dele pode simplesmente colapsar sob seu próprio peso, por gravidade, e formar um planeta em poucos milhares de anos (versus os milhões da acreção de núcleos).

Ainda é um debate em andamento entre os astrônomos. E as peças que faltam para matar a charada estão ao redor de estrelas jovens, ainda passando pelo processo de formação planetária. Grandes avanços no estudo desses discos têm sido feitos em tempos recentes e é seguro dizer que nos próximos dez anos aprenderemos mais sobre formação de planetas do que em toda a história pregressa da astronomia. Por ora, vale o pensamento de que a natureza é suficientemente criativa e variada para ter pelo menos duas fórmulas diferentes para produzir novos mundos, ambas com suas histórias de sucesso.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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