A história da conquista do espaço teve mais um episódio marcante nesta sexta-feira (18), com a primeira caminhada espacial 100% feminina. As astronautas Jessica Meir e Christina Koch trabalharam em conjunto do lado de fora da Estação Espacial Internacional (ISS) por um total de 7 horas e 17 minutos, para diversas atividades de manutenção do complexo.

Apesar do ambiente de ausência de peso, operar dentro dos trajes pressurizados por todo esse tempo causa um desgaste físico comparável ao de concluir uma maratona.

Depois de passar várias horas em preparação numa comporta de ar, que envolve se adaptar à pressão menor e à atmosfera de oxigênio puro dos trajes espaciais, a dupla estava pronta para sair às 8h38 desta sexta (pelo horário de Brasília) e iniciou o retorno à comporta de ar por volta das 15h10, tempo suficiente para a estação dar mais de quatro voltas e meia ao redor da Terra (alternando entre aproximadamente 45 minutos de escuridão e 45 minutos com iluminação solar). A caminhada foi oficialmente encerrada às 15h55, com o fechamento da escotilha externa da comporta de ar e o início da repressurização.

Do lado de fora, os trabalhos envolveram a troca de um dispositivo pifado de controle de eletricidade, chamado BCDU (unidade de carga/descarga de bateria), e diversas inspeções feitas na estrutura externa da estação, além de outras atividades de manutenção.

Essas saídas periódicas de construção, manutenção e atualização da ISS são bastante comuns e não costumam virar notícia. Para que se tenha uma ideia, a atividade extraveicular (nome técnico das caminhadas espaciais) desta sexta foi a 221ª já realizada no complexo orbital desde 1998. Ou seja, em média, são 10 dessas por ano.

Também não é novidade que as caminhadas espaciais envolvam mulheres. Esta é a 43ª a ter uma astronauta envolvida. O aspecto inédito é que, pela primeira vez, todos os caminhantes espaciais (usualmente dois) são mulheres.

Não houve um planejamento intencional para que isso acontecesse. Era algo que cedo ou tarde naturalmente ocorreria, com o aumento gradual de mulheres astronautas. Com efeito, a turma da Nasa de 2013, da qual Koch e Meir fazem parte, era 50% feminina.

Aliás, a primeira caminhada 100% feminina quase aconteceu em março, com Koch e Anne McClain (então a bordo da estação, hoje em solo), mas, por causa do tamanho dos trajes então disponíveis, McClain trocou de lugar com Nick Hague.

Agora que tudo se alinhou, a Nasa capitalizou como pôde o evento histórico. Além de transmitir ao vivo a caminhada espacial (o que é usual), uma equipe na Casa Branca registrou uma ligação do presidente Donald Trump para as astronautas.

Jessica Meir, em sua primeira caminhada, respondeu a Trump de forma modesta: “Não queremos pegar muito crédito, porque já houve muitas mulheres caminhantes espaciais antes. É apenas a primeira vez que temos uma caminhada só de mulheres. Estamos apenas fazendo nosso trabalho.”

Apesar disso, ela festejou a ocasião histórica e manifestou a importância de poder inspirar mulheres no mundo com seu trabalho.

Meir se tornou a 14ª americana (e 15ª mulher) a realizar uma caminhada espacial. Sua colega Koch aparece nessas duas listas na posição imediatamente anterior.

Um sintoma dessa lista é a baixa incidência de caminhantes espaciais femininas fora dos EUA. Além das 14 americanas, apenas uma russa realizou uma tarefa semelhante (por sinal a primeira da história), Svetlana Savitskaya, em 1984.

Com a atividade extraveicular de hoje, Meir traz um colorido internacional à lista, por ter dupla cidadania. Além de americana, ela é a primeira sueca a fazer uma caminhada espacial.

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