Após colher pedaços de asteroide, sonda japonesa inicia retorno à Terra
De todas as que vão, são poucas as que voltam. Mas a Hayabusa2 tenta se incluir nesta seleta lista de espaçonaves que, uma vez lançadas, regressam a seu ponto de origem. Na última terça-feira (12), a sonda japonesa iniciou seu longo caminho de volta para casa – de volta para a Terra.
Lançada em dezembro de 2014, a espaçonave da Jaxa (agência espacial japonesa) partiu com o objetivo de visitar o asteroide Ryugu. Trata-se de um pedregulho de cerca de 850 metros de diâmetro, interessante por ser o primeiro asteroide do tipo C (rico em carbono) a ser visitado por uma sonda. Sua composição interessa aos cientistas por remontar à origem do Sistema Solar, 4,6 bilhões de anos atrás.
Usando seus propulsores iônicos (que podiam muito bem ser batizados de “devagar e sempre”), a nave chegou ao asteroide em junho de 2018 e passou os 18 meses seguidos em órbita, realizando estudos intensos. Foram muitos feitos espetaculares.
Em setembro do ano passado, ela lançou dois minirrovers na superfície do asteroide, chamados Minerva II1A e B, e eles tiraram fotos incríveis de lá, enquanto quicavam pelo pequeno mundo. Em seguida, no dia 3 de outubro, foi a vez de descer ao solo o minirrover Mascot, desenvolvido por europeus, mais uma vez com sucesso.
Em fevereiro de 2019, a própria Hayabusa2 desceu à superfície do Ryugu, num “beijo passional” que promoveu uma coleta de amostras. Ao tocar o chão por apenas um instante, a sonda literalmente deu um tiro no solo, colhendo pedregulhos que voaram para cima.
Em abril, as coisas se tornaram mais violentas, e a sonda fez o equivalente a um disparo de canhão contra a superfície, a fim de abrir uma cratera artificial, o que foi registrado por uma câmera avulsa desprendida da própria nave. Em julho, a sonda realizou uma segunda coleta de amostras, desta vez da região remexida pelo impacto proposital.
A última tarefa remanescente, realizada em outubro, foi soltar o minirrover Minerva II2, que no entanto teve um problema em seu computador de bordo – praticamente a única coisa que não deu certo nesta ousada missão de exploração.
A essa altura, a Hayabusa2 está se afastando do Ryugu com seus propulsores químicos e nos próximos dias passará a voar com a propulsão iônica, que exerce uma aceleração equivalente à de uma folha sulfite sobre nossa mão. Mas com essa forcinha, de forma constante por meses a fio, a sonda vai ganhando velocidade.
Espera-se seu retorno à Terra no final de 2020, com as preciosas amostras trazidas desse intrigante fóssil da formação dos planetas. Se tudo correr bem, elas descerão protegidas por uma cápsula, de paraquedas, na Austrália, concluindo a missão mais audaciosa já realizada a um asteroide.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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