Com novo método, cientistas acham buraco negro do tamanho errado
A natureza parece ter um prazer especial em desafiar expectativas. Usando um novo método, um grupo internacional de cientistas encontrou na Via Láctea um buraco negro que, pelo tamanho, contraria tudo que os astrônomos julgavam saber sobre as estrelas que dão origem a esses objetos.
Antes de falar do novo achado, dois dedos de prosa sobre como é difícil encontrar buracos negros. Como o próprio nome diz, são objetos tão densos, com gravidade tão grande, que nada pode escapar deles, nem mesmo a luz. São, portanto, invisíveis. Mas sabemos que o destino de muitas estrelas de alta massa é, ao fim de suas vidas, colapsarem num buraco negro. Então eles estão por aí.
O jeito mais fácil de encontrá-los é pelas emissões de raios X que partem de seus arredores. Quando eles têm uma estrela companheira, por vezes agregam grande quantidade de matéria delas ao redor de si. Essa massa, ao ser acelerada perto da borda do buraco negro (a fronteira de onde a luz não pode mais escapar), emite copiosas quantidades de raios X. E aí os astrônomos os encontram.
Quando os buracos negros não estão comendo nada, fica mais difícil encontrá-los. Mas a equipe liderada por Jifeng Liu, da Academia Chinesa de Ciências, fez uma busca com uma técnica similar à usada por astrônomos para encontrar exoplanetas: eles medem a variação do comprimento de onda da luz vinda da estrela com o passar do tempo, que oscila de acordo com sua movimentação. Pequenos bamboleios podem indicar a influência gravitacional de um planeta ao redor. Grandes arcos podem indicar que ela mesma está orbitando em torno de algo, mesmo que pareça não haver nada lá.
Foi assim que a estrela denominada LB-1 chamou a atenção do grupo. Trata-se de um astro de alta massa localizado a uns 15 mil anos-luz daqui. E ela está girando ao redor de um objeto invisível, num período orbital de 79 dias. Resultado: deve haver ali um buraco negro com algo entre 55 e 79 massas solares.
O que torna o achado especial é que os cientistas não sabem como uma estrela só, com a composição esperada ali, poderia ter implodido para virar um buraco negro daquele tamanho.
Há três possíveis explicações. Ou ele é fruto de dois objetos que se fundiram (à moda de algumas colisões de buracos negros detectadas por ondas gravitacionais), ou ainda existe dois buracos negros ali, muito próximos um do outro, tornando impossível distingui-los, ou ainda temos muito a aprender sobre o tamanho que podem atingir estrelas de alta massa progenitoras de buracos negros nas circunstâncias observadas.
De todo modo, temos aí um objeto bem interessante para futuros estudos, bem como uma estratégia que pode revelar novos buracos negros até agora não detectados e ajudar a esquadrinhar melhor essa população misteriosa de objetos.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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