Sonda da Nasa se aproxima do Sol e revela padrões complexos de seu funcionamento

A mais audaciosa missão solar já realizada traz agora suas primeiras descobertas – e novos enigmas – sobre nossa estrela mãe, depois de estar a meros 24 milhões de km da superficie do Sol. Isso é cerca de um sexto da distância que nosso planeta guarda do astro-rei.

Os novos dados da Parker Solar Probe, divulgados em quatro artigos publicados nesta quarta (4) pela revista científica britânica Nature, revelam que o vento solar é muito mais dinâmico e estruturado nas proximidades do Sol do que nas imediações da Terra, de onde foram feitas a maior parte das medidas até hoje.

Vento solar é a torrente de partículas ionizadas emanadas pelo Sol e movidas por seus poderosos campos magnéticos. São basicamente núcleos atômicos e elétrons livres que viajam pelo Sistema Solar e atingem todos os planetas. Em circunstâncias normais, têm pouco efeito sobre a Terra. Em episódios de explosões solares, em que grandes quantidades de matéria são ejetadas violentamente do Sol, produzem as bonitas auroras boreais. E, quando esses fenômenos acontecem com maior intensidade, podem até mesmo danificar satélites em órbita e afetar nossas redes elétricas em solo. Daí a necessidade de compreender bem o funcionamento do Sol.

Sabe-se, por exemplo, que a superfície do Sol, a chamada fotosfera, tem temperatura de cerca de 5.600 graus Celsius. Mas sua atmosfera estendida, a chamada coroa solar, em vez de ser mais fria, como seria de se esperar, é milhares de vezes mais quente, atingindo temperaturas de milhões de graus. Como? É um dos enigmas que a sonda pretende elucidar.

Lançada em 2018, ela está dando voltas ao redor do Sol, numa órbita bastante achatada, que o ora o leva para bem perto da estrela, ora para bem longe. Os resultados publicados agora pelos cientistas da Nasa abordam observações feitas a no mínimo 24 milhões de km da fotosfera solar. É menos da metade da distância entre o Sol e Mercúrio, o mais interno dos planetas.

Os resultados mostram que as partículas do vento solar fazem estranhos e inesperados zigue-zagues nessa região, antes de seguir seu caminho na direção dos planetas. O resultado não era previsto por modelos e ajuda a compreender como os campos magnéticos moldam a trajetória do vento solar. Por sinal, a essa altura dá para dizer que os campos magnéticos solares naquela região são mais complexos do que se esperava.

A sonda também detectou que há um grande componente de velocidade no plasma ejetado do Sol que parece ter relação com a rotação da estrela. Plasma é a matéria-prima de que é feito o Sol, uma enorme quantidade de núcleos atômicos (principalmente hidrogênio e hélio) e elétrons dissociados, em alta temperatura. Novamente, essa velocidade extra observada não tem ainda boa explicação.

Por fim, a sonda obteve evidências preliminares de que existe uma região próxima ao Sol em que há ausência completa de partículas de poeira. Mas os dados ainda não são conclusivos a esse respeito. Só o serão ao longo das próximas órbitas, conforme a espaçonave for se aproximando mais e mais do Sol. No limite, ela chegará a estar a apenas 6 milhões de quilômetros da superfície. “Nessa época, o Sol fará a transição para uma fase mais ativa de seu ciclo de 11 anos, então podemos esperar resultados ainda mais empolgantes em breve”, diz Daniel Verscharen, pesquisador do University College London, no Reino Unido. Ele não participou dos estudos, mas comentou-os em artigo na mesma edição da Nature.

Espera-se que, com o acúmulo de dados da Parker Solar Probe, somados aos resultados a serem obtidos pela sonda europeia Solar Orbiter, ainda por ser lançada, os cientistas consigam construir modelos melhores, capazes de elucidar de forma mais detalhada a dinâmica do Sol. E, claro, imagina-se que esse conhecimento possa também ser aplicado à compreensão de outras estrelas, às quais não teremos acesso direto tão cedo (se é que em algum momento), considerando-se as abissais distâncias interestelares.

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