SpaceX testa método para satélites não arruinarem a astronomia

Observadores ao redor do mundo têm se encantado com as fileirinhas de satélites artificiais da constelação Starlink, da SpaceX, cruzando os céus no começo da noite ou no fim da madrugada. Quem não está gostando nada deles são os astrônomos.

Estão sendo prejudicados desde amadores que buscam registrar chuvas de meteoros (casos em que o obturador da câmera fica aberto por longos períodos para registrar as trilhas das estrelas cadentes) até projetos de astronomia profissional, como a DES (Dark Energy Survey), que usa uma câmera de resolução ultra-alta para vasculhar todo o céu e estudar as profundezas do espaço.

Quando eles vão ver os resultados obtidos, descobrem imagens irremediavelmente arruinadas pelas trilhas deixadas pelos satélites da empresa americana. No momento, não é nada trágico: são apenas 120 satélites em órbita. Mas a companhia pretende, ao longo do próximo ano, rapidamente ampliar este número, atingindo milhares de unidades.

A constelação tem por objetivo fornecer serviços globais de conexão de banda larga para internet e espera estar operacional no próximo ano – por ora, dada a baixa cobertura da rede, ela só serve a testes de comunicação experimentais da própria empresa.

Os astrônomos temem que uma constelação permanente de satélites de baixa órbita, altamente reflexivos, como os da Starlink, vá inviabilizar boa parte das observações de varredura do céu.

Diante dos protestos, pela primeira vez, na última sexta-feira (6), a gerente da SpaceX, Gwynne Shotwell, afirmou que a companhia está trabalhando numa solução. Na próxima leva de 60 satélites, a serem lançados ainda neste ano, um deles terá uma cobertura antirreflexo.

A empresa admite que não havia sequer considerado o problema antes de iniciar o projeto (bem como a comunidade astronômica também não havia se manifestado após os anúncios originais). Os engenheiros também não sabem se essa estratégia vai dar certo ou qual o impacto das mudanças para o desempenho do próprio satélite. “Estamos fazendo tentativa e erro para descobrir o melhor jeito de solucionar isso”, disse Shotwell, ecoando a estratégia da empresa de inovar e testar em voo da forma mais frequente possível.

A preocupação é louvável, claro. Mas não é garantia de solução. Tomara que se resolva. Mas é igualmente possível que, no futuro, projetos que hoje podem ser realizados com telescópios em solo tenham de se mudar para o espaço, para fugir das constelações satelitais. Com a nova era espacial que se avizinha, é inevitável que surjam novos problemas e desafios.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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