Brasileiro ganha bolsa da Planetary Society para caçar asteroides perigosos
Enquanto na astronomia profissional os pesquisadores seguem lutando contra a crise de financiamento da ciência brasileira, dos EUA vêm boas notícias para a astronomia amadora nacional. Dentre os seis selecionados neste ano para a bolsa Shoemaker NEO de 2019, gerenciada pela ONG Planetary Society, um é brasileiro.
O astrônomo amador Leonardo Amaral receberá US$ 8.443 (aproximadamente R$ 34,2 mil) para investir em uma nova montagem para seu telescópio X74, no Observatório Campo dos Amarais (OCA), em Bilac (SP).
As bolsas são voltadas para a pesquisa de objetos próximos à Terra (NEOs, na sigla inglesa), asteroides ou cometas que podem em algum momento futuro ser uma ameaça ao nosso planeta. No caso de Amaral, o novo investimento permitirá maior estabilidade do telescópio, o que viabilizará maior tempo de exposição de câmera (que permite detectar objetos menos brilhantes), além de melhoria na capacidade de acompanhamento.
“A localização do OCA torna-o particularmente importante por sua visão do céu do hemisfério Sul onde poucos telescópios estão posicionados para buscar regularmente observações de asteroides próximos à Terra”, disse em nota a Planetary Society, destacando o trabalho de Amaral. “O OCA até mesmo descobriu três NEOs – todos no extremo sul celeste – que não foram encontrados pelos maiores telescópios focados na busca por asteroides.
Amaral, que também é um dos membros da Bramon (rede brasileira que estuda e monitora chuvas de meteoros), tem se dedicado à busca e ao acompanhamento de objetos próximos à Terra, produzindo resultados de destaque. No Brasil, há também de se mencionar o trabalho realizado pelo Sonear, em Oliveira (MG), coordenado por Cristóvão Jacques, João Ribeiro de Barros e Eduardo Pimentel.
Por sinal, Jacques foi o segundo brasileiro a conquistar a bolsa NEO Shoemaker, em 2000. O primeiro havia sido Paulo Holvorcem, em 1998. Amaral é o terceiro, agora em 2019.
“O X74 é meu observatório de busca de NEOs, que está terminando o ano dentro dos top 10 do mundo”, disse Amaral ao Mensageiro Sideral. “Receber a bolsa é um ótimo reconhecimento de que estamos fazendo um bom trabalho.”
Não é moleza conduzir essas pesquisas com recursos próprios, o que dá à palavra “amador” um significado muito profundo; a qualidade do trabalho é profissional, mas tudo é feito por amor, sem compensação financeira.
“A pesquisa amadora é muito difícil. Além de consumir muito tempo e esforço, adquirir e manter com recursos próprios os equipamentos necessários é uma tarefa árdua”, diz Amaral. “Um prêmio como a bolsa Shoemaker NEO possibilita que astrônomos amadores tenham acesso a esses equipamentos e possam assim contribuir com a busca, o acompanhamento e caracterização de asteroides.”
Graças à dedicação de pesquisadores apaixonados e determinados como esses, o Brasil vai se tornando uma referência importante na descoberta e no acompanhamento de asteroides ameaçadores à Terra. O que é uma boa notícia para o mundo inteiro, já que o hemisfério Sul ainda carece muito de projetos de observação sistemática em busca desses perigosos objetos.
A bolsa Shoemaker NEO, da Planetary Society, existe desde 1997 e já selecionou 62 projetos, com investimento total de US$ 440 mil, destinados a todas as partes do mundo. A ONG, fundada em 1980 por Carl Sagan, Louis Friedman e Bruce Murray, é mantida com recursos dos associados, sem verbas governamentais.
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