Polo norte magnético sai do Canadá e se desloca na direção da Rússia
Até quem estuda em livro didático que não tem muita coisa escrita sabe que as bússolas, guiadas pelo campo magnético terrestre, apontam para o norte. Mas para onde no norte? Já foi no Canadá, mas agora, após um rápido e inesperado deslocamento nos últimos anos, agora está mais para a Rússia. E um novo modelo produzido em cooperação por americanos e britânicos ajuda o mundo todo a se adaptar ao movimento do polo norte magnético.
Ao contrário dos polos geográficos (pontos em torno dos quais a Terra gira), que se movem quase nada (o eixo de rotação em si faz um bamboleio, mas o local do planeta em que se localiza o eixo em si não muda, salvo ao longo de muitos milhões de anos), os polos magnéticos se deslocam com mais facilidade.
Já se sabe disso desde o século 19, mas houve uma surpresa nos anos 1990, quando a velocidade de deslocamento saiu de modestos 15 km por ano para 55 km anuais (e então deu uma maneirada, para cerca de 40 km por ano). Em 2018, o polo norte magnético cruzou a linha internacional de mudança de data e foi parar no Oriente. E agora se aproxima do norte da Rússia.
A mudança obriga a atualizações constantes do modelo do campo magnético terrestre, importantes para manutenção de satélites em órbita, preservação da precisão de GPS e estudos de mineração, entre outras aplicações relevantes.
Daí a divulgação, em dezembro, do Modelo Magnético Mundial 2020, produzido em parceria pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos EUA e pelo Centro Geográfico de Defesa do Reino Unido. A ideia é que esse modelo, de uso livre e gratuito, esteja disponível até o final de 2024, quando deverá ser novamente atualizado.
Ter um campo magnético é uma das coisas que faz da Terra um lugar especial. Originado na região mais externa do núcleo do nosso planeta, ele é resultado do fluxo de correntes elétricas em meio ao ferro semiderretido que existe lá embaixo. As correntes elétricas acabam agindo como um ímã gigante, gerando um campo em torno do planeta que o protege das partículas potencialmente perigosas do vento solar.
Compreendê-lo é essencial. Sabe-se, pelo registro geológico, que ele se inverte de tempos em tempos (norte vira sul, sul vira norte). Mas ninguém sabe prever quando isso acontece, e nos últimos 5 milhões de anos o período atual é o mais longo. Faz uns 780 mil anos que ele está lá pelos lados da casa do Papai Noel.
A aceleração recente do deslocamento polar fez com que alguns pensassem que estamos prestes a encarar uma nova inversão. A imensa maioria dos pesquisadores, contudo, considera isso extremamente improvável até o momento. Por ora, e pelo futuro previsível, as bússolas devem continuar apontando para o norte.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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