Em reunião, astrônomos apresentam avanços sobre matéria escura e dúvidas da energia escura

Nas últimas décadas, os astrofísicos tiveram de postular a existência de dois novos ingredientes no Universo para dar conta de explicar suas observações: sem saber o que eles podiam ser, eles os batizaram de matéria escura e energia escura.

A primeira seria uma substância misteriosa e invisível, diferente da matéria convencional que compõe estrelas, planetas e tudo mais que vemos por aí, mas que podia ser detectada por produzir gravidade. Ela ajudaria a explicar a distribuição e forma das galáxias, além de seu padrão inusual de rotação.

A segunda seria uma forma de energia que estaria agindo contra a gravidade, acelerando a expansão do cosmos, o que parece ser sugerido por uma série de evidências, a começar pela observação de supernovas distantes que servem como pontos de referência para identificar distância e velocidade de afastamento desses objetos com relação a nós.

Desde então, os pesquisadores vêm tentando fazer observações cada vez mais detalhadas para encontrar uma teoria capaz de explicar esses dois fenômenos. E a 235ª Reunião da Sociedade Astronômica Americana (AAS), em Honolulu, realizada na semana passada, trouxe resultados importantes nas duas frentes.

No caso da matéria escura, um grupo liderado por Anna Nierenberg, da Nasa, demonstrou, com novas observações feitas pelo Telescópio Espacial Hubble, que a matéria escura pode se aglomerar em pequenas quantidades – algo que não tinha sido visto antes e ajuda a corroborar o modelo mais aceito para ela, a chamada “matéria escura fria”. (Fria nesse caso, no sentido termodinâmico do termo, indicando que suas partículas constituintes se movem em baixa velocidade e, portanto, podem se manter reunidas com um nível de gravidade menor.)

Eles observaram quasares distantes que têm sua imagem multiplicada por uma lente gravitacional, quando uma galáxia ou aglomerado delas que está entre nós e os quasares age como uma lente, curvando os raios de luz dos objetos de fundo. Modelando essas distorções com uma nova técnica, o grupo encontrou evidências de concentrações de matéria escura que chegam a um centésimo de milésimo da quantidade de matéria escura presente no halo da Via Láctea, nossa galáxia. O resultado parece indicar que os cientistas estão no caminho certo para compreender a matéria escura, embora falte identificar que misteriosas partículas seriam essas.

Já para a energia escura, as notícias não foram tão alvissareiras. Um novo conjunto de observações e análises de supernovas e suas galáxias de origem feito por um grupo de pesquisadores da Universidade Yonsei, em Seul (Coreia do Sul) parece identificar um viés observacional que, quando levado em conta, faz desaparecer as evidências de que o Universo esteja se acelerando. Ou seja, o resultado sugere que a energia escura possa não existir.

É cedo demais para apostar que esse é o caso, já que as supernovas analisadas pelo trabalho são apenas as menos brilhantes, que não são as que baseiam a hipótese da energia escura. Além disso, há outras linhas de evidência circunstanciais que apontam para sua existência. Trata-se de questão em aberto – que acaba de ficar um pouco mais nebulosa.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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