Não prenda a respiração esperando a supernova de Betelgeuse
Olhe para as Três Marias e procure, próximo a elas, uma estrelinha avermelhada. Lá, a 642 anos-luz de distância, está Betelgeuse, a estrela que, desde o fim do ano passado, todo mundo está torcendo para explodir numa supernova. OK, eu também estou, mas melhor não contar com isso.
Os astrônomos dizem que sua explosão é iminente. Mas entenda o que é “iminente” em astronomia: estamos falando de algum ponto dos próximos 100 mil anos. Sabemos que vai acontecer porque se trata de uma estrela supergigante vermelha. É o que viram as estrelas azuis (as maiores e mais brilhantes) quando inflam, no estágio final de suas vidas.
Inchada, Betelgeuse se tornou ainda mais gigantesca. Se a colocássemos hoje no centro do Sistema Solar, ela engoliria Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, além do cinturão de asteroides, possivelmente atingindo Júpiter. É uma monstrenga.
E o que gerou essa ideia de que a estrela pode estar às vésperas de uma explosão? Ocorre que, em tempos recentes, ela se tornou especialmente pouco brilhante. Nunca a vimos tão discreta, desde que começamos a medir com alguma precisão o brilho das estrelas. (O primeiro a notar que o brilho dela variava foi John Herschel, em 1836.)
Sabemos por que essas variações de brilho acontecem (tem a ver com processos convectivos na superfície da estrela inchada), mas o nível de variação desta vez pegou os cientistas de surpresa. Poderia ser o prenúncio da esperada explosão? Improvável, mas não impossível.
Para embaralhar ainda mais o jogo, o observatório de ondas gravitacionais Ligo detectou na última terça-feira um sinal na direção geral de Betelgeuse, deixando alguns se perguntando se seria um aviso prévio da explosão. Supernovas devem gerar ondas gravitacionais, mas o sinal viaja à velocidade da luz, de forma que entre as ondas gravitacionais e as eletromagnéticas (luminosas, para os íntimos), a diferença de tempo entre os dois seria de poucos instantes (a luz pode chegar “atrasada”, tendo de transitar pelas camadas exteriores da estrela). E claro, isso implica que, se virmos ela virar supernova amanhã, quer dizer que isso aconteceu na verdade há 642 anos, tempo que a luz da explosão levou para viajar até aqui.
Há sinais preliminares de que Betelgeuse voltou a aumentar seu brilho, embora seja preciso esperar mais alguns dias para confirmar isso. De todo modo, é muitíssimo provável que os rumores da morte dela tenham sido grandemente exagerados. O que é uma pena. Teria sido um espetáculo visual incrível (e inofensivo). A explosão a tornaria visível mesmo à luz do dia, por semanas, quiçá meses. A última supernova visível a olho nu na Via Láctea pintou nos céus em 1604 – e estava 30 vezes mais distante. Fica a torcida.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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