Força Espacial dos EUA nasce com mais intenções do que capacidades
Na semana que passou, o presidente americano Donald Trump apresentou o selo da Força Espacial dos EUA, o novo braço militar daquele país. À parte as discussões que tomaram as redes sociais sobre o símbolo ser fortemente inspirado na fictícia Frota Estelar, da série “Jornada nas Estrelas” (“Star Trek”), o verdadeiro debate deve começar a partir de agora.
Afinal, embora a iniciativa tenha sido anunciada em meados de 2018, apenas em dezembro do ano passado o Legislativo e o Executivo americanos chegaram a um consenso e tornaram a Força Espacial uma realidade.
Assim como a Força Aérea dos EUA “nasceu” de dentro do Exército, em 1947, a nova Força Espacial é uma cria do Comando Espacial, divisão da Força Aérea americana. Mas a transição deve marcar uma mudança significativa de atitude com relação ao uso militar do espaço.
Com o Comando Espacial, ele era visto apenas como plataforma de apoio a operações militares, com satélites de observação terrestre, geolocalização e telecomunicações. Na mais belicosa das hipóteses, que se viu em alta em dois momentos distintos separados por duas décadas, nos governos Ronald Reagan (1981-1988) e George W. Bush (2001-2008), como base para a instalação de satélites de defesa antimísseis, armados com projéteis e lasers.
O que muda agora é que o espaço passa a ser visto como teatro de operações, ou seja, uma arena viável para o envio de tropas e veículos em missões rápidas e cirúrgicas. Do ponto de vista estratégico, com o crescente acesso ao espaço por múltiplas nações, faz sentido. Do ponto de vista logístico, ainda estamos muito longe disso.
Basta ver há quantos anos os EUA estão sem acesso tripulado independente ao espaço. Desde 2011, com a aposentadoria dos ônibus espaciais, astronautas americanos só vão à Estação Espacial Internacional embarcados em naves russas Soyuz.
Esse hiato está para acabar, com o iminente sucesso da empresa SpaceX e sua cápsula Dragon, seguido pela Boeing, com sua Starliner. Mas esses são veículos que exigem tremenda preparação para lançamento; servem mais à exploração civil e pacífica do espaço, com seus cronogramas flexíveis, do que a operações militares.
A reutilização e o rápido processamento de espaçonaves são objetivos centrais, que os americanos já tentaram atingir uma vez, com os ônibus espaciais (concebidos para atender a demandas da Nasa e da Força Aérea, em tese permitindo missões de apenas uma órbita e lançamentos semanais). Não deu certo. Os veículos reutilizáveis se mostraram nada agéis e pouco confiáveis.
Resta saber se a criada Força Espacial terá vontade e orçamento para estimular a indústria a encontrar soluções alternativas. Também há de se notar qual será a reação de outras potências espaciais, como China e Rússia. De todo modo, ao menos por agora, o novo braço militar americano viverá mais de logotipos e uniformes do que de operações inovadoras.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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