Coronavírus faz primeira vítima marciana, e jipe europeu só sai em 2022
E a pandemia de covid-19 fez sua primeira baixa interplanetária: após uma reunião entre os líderes da ESA (Agência Espacial Europeia) e da Roscosmos (sua contraparte russa), ficou decidido que o jipe robótico Rosalind Franklin, da missão ExoMars, só partirá para Marte em 2022, e não neste ano, como estava originalmente sendo planejado.
A decisão foi anunciada na última quinta-feira (12) e tem a ver com as inconveniências dos voos interplanetários. Para ir a Marte, é preciso esperar o alinhamento adequado dos planetas, o que acontece uma vez a cada 26 meses, numa janela de lançamento que dura um par de meses.
O plano original era lançar em julho o jipe, batizado em homenagem à pesquisadora que teve um papel essencial na decifração da estrutura do DNA. Contudo, os europeus e russos emparceirados no projeto estavam enfrentando dificuldades para deixar tudo pronto em tempo, após fracassos nos testes dos paraquedas da missão em maio e agosto de 2019.
Eles foram remodelados, e novos testes iriam acontecer em dezembro e fevereiro, mas foram empurrados para o fim deste mês – e não há garantias de que tudo vá dar certo com eles. Também há equipamentos eletrônicos da espaçonave que ainda precisavam ser checados. E tudo isso teria de ser feito às pressas, para cumprir o lançamento em julho, sem margem para falhas.
Aí veio a gota d’água: a pandemia de coronavírus, dificultando o deslocamento de engenheiros e técnicos para a conclusão dos trabalhos, em uma Europa combalida pelas infecções. Resultado: ficou decidido esperar a próxima janela de lançamento, que virá só no fim de 2022.
A decisão, claro, vem com custos: serão mais dois anos mantendo equipes e trabalhando nas preparações para o lançamento, num projeto espacial que já é um dos mais caros a ser conduzido pelos europeus – até o momento, cerca de 1,3 bilhão de euros. Mas é a escolha mais razoável, ainda mais levando em conta que até hoje apenas espaçonaves americanas conseguiram realizar pousos bem-sucedidos em Marte. A última tentativa russo-europeia, em 2016, fracassou.
Por ora, as outras missões marcianas para a janela de 2020 seguem firmes para lançamento neste ano. Os americanos levarão ao planeta vermelho mais um jipe robótico, recém-batizado de Perseverance (ou Percy, para os íntimos). Já os chineses lançarão um conjunto de orbitador e jipe até o momento chamado de Houzing-1 (ou Marte-1, em português). Ambos devem partir em julho.
Se chegarem a Marte com sucesso, farão companhia ao jipe Curiosity, o único no momento em atividade no solo do planeta vermelho. O Curiosity, por sinal, enviou no começo deste mês uma visão estonteante de seus arredores: um mosaico de fotos que, combinadas, produziram o panorama de mais alta resolução já feito em Marte, com 1,8 bilhão de pixels de pura desolação enferrujada. (Clique aqui para ver versões maiores.)
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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