Astrônomos encontram ‘elo perdido’ na evolução dos buracos negros
Eles existem mesmo. Um grupo de astrônomos, apoiando-se em observações do telescópio Hubble e de dois satélites de raios X, encontrou as melhores evidências de que os buracos negros de massa intermediária são de fato uma realidade.
Bem conhecidos são os outros dois tipos: os de massa estelar e os supermaciços. Os primeiros existem às pencas e se formam quando uma estrela de grande porte (bem maior que o Sol) chega ao fim de sua vida. As camadas exteriores explodem como uma supernova, enquanto o núcleo é comprimido a tal ponto que, dali, nem mesmo a luz consegue escapar – a definição clássica de um buraco negro.
Já os supermaciços sabemos que moram no coração de cada galáxia e que podem chegar a ter massa equivalente à de bilhões de sóis, comprimida numa região menor que o Sistema Solar. O buraco negro supermaciço em nossa galáxia, Sagittarius A*, está a cerca de 26 mil anos-luz da Terra e tem massa de cerca de 4 milhões de sóis – até modesto, comparado aos equivalentes de outras galáxias.
Os de massa intermediária seriam um potencial “elo perdido” entre os dois, e os mais complicados de detectar. Os de massa estelar sabemos como se formam, e aí basta procurar estrelas que pareçam estar girando ao redor de um companheiro invisível (quando não sendo consumidas por ele) para encontrá-los. Já os supermaciços moram no coração de cada galáxia, onde por vezes se veem deglutindo gás em copiosas quantidades, o que gera indiscretos raios X. No ano passado, conseguimos até tirar uma foto de um deles.
Para achar um de massa intermediária, contudo, seria preciso contar com a sorte. E a fortuna pareceu sorrir aos astrônomos em 2006, quando os satélites XMM-Newton (europeu) e Chandra (americano) detectaram uma poderosa rajada de raios X, identificada pela insuspeita sigla 3XMM J215022.4-055108. O sinal, embora antigo, só foi encontrado pelos astrônomos recentemente, em meio aos dados de arquivo. E podia representar a emissão de uma estrela de nêutrons da nossa galáxia ou o sinal de despedaçamento de uma estrela pelas forças gravitacionais de um buraco negro de massa intermediária localizado fora da nossa galáxia.
Para distinguir entre as duas hipóteses, os pesquisadores encabeçados por Dacheng Lin, da Universidade de New Hampshire (EUA), voltaram a observar o objeto, desta vez com o XMM-Newton e com o Hubble.
As novas observações nos deixaram apenas com a hipótese de um buraco negro extragaláctico com massa dezenas de milhares de vezes maior que a do Sol. Ele parece habitar os subúrbios de uma galáxia lenticular a 800 milhões de anos-luz daqui.
A detecção, publicada no Astrophysical Journal Letters, salta direto para o topo da lista de candidatos a buracos negros de massa intermediária, que já contava com alguns (poucos) membros. Resta agora entender qual é o processo de formação desses objetos e a relação deles com seus primo. Será que tudo começa com os de massa estelar, que se agregam para formar os de massa intermediária, que podem ao longo de muito tempo virar os supermaciços? A questão segue em aberto.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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