SpaceX deve levar astronautas à estação espacial pela primeira vez em maio
Em meio às restrições impostas pela pandemia do coronavírus, entramos na reta final da corrida entre duas empresas americanas pela primazia no transporte de astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS). A Boeing decidiu repetir um voo não tripulado antes de seguir adiante, e a SpaceX espera levar dois tripulantes ao complexo orbital na segunda metade de maio.
O anúncio da Boeing veio na última segunda-feira (6), em face do fiasco que foi o primeiro voo-teste de sua cápsula CST-100 Starliner. Lançada em 20 de dezembro do ano passado, ela deveria fazer encontro e acoplagem com a estação, mas uma bizarra falha de software fez com que o computador de bordo estivesse 11 horas à frente da missão real. A falha esgotou o suprimento de combustível e inviabilizou a ida à ISS. Por pouco a cápsula não foi perdida, sem entrar em órbita, o que teria sido ainda pior.
Análises posteriores revelaram diversas falhas de procedimento da empresa na preparação para o voo, que teve testes integrados apenas simulados, em vez de reais, e revelaram mais de uma centena de itens que precisavam de atenção. A Nasa, contratante da empresa, fez cara de paisagem, esperando da própria Boeing a ação de propor um novo voo de teste sem tripulação, o que foi finalmente anunciado na semana passada.
A SpaceX, por sua vez, está bem mais adiantada. Seu voo de teste não tripulado da cápsula Crew Dragon, iniciado em 2 de março de 2019, fez encontro e acoplagem com a estação e retornou à Terra em segurança no dia 8.
Desde então, a empresa teve problemas para resolver com o sistema de para-quedas e precisou se recuperar de um delicado teste do sistema de ejeção de emergência. Realizado em abril do ano passado, ele terminou com a destruição da cápsula (a mesma que voara em março). Modificações ao sistema foram implementadas, e a nova cápsula destinada a receber tripulantes já está em fase final de preparação para voo.
A decolagem está marcada para maio, a despeito da pandemia, levando os astronautas Doug Hurley e Bob Behnken à ISS. A agência espacial dos EUA trata a missão, que deve durar dois a três meses, como prioridade, a fim de impedir que o segmento americano da estação fique sem tripulação.
Será a primeira vez que uma empresa privada com um sistema próprio de transporte lança astronautas em um voo orbital. Nesses voos, a Nasa é meramente cliente, comprando os assentos para seus tripulantes.
A despeito de a imensa maioria dos funcionários da agência estar em isolamento, também já há preparações para o voo seguinte da SpaceX, o primeiro a levar quatro astronautas, em agosto. A tripulação está escalada: Shannon Walker, Michael Hopkins e Victor Glover Jr., dos EUA, e Soichi Noguchi, do Japão.
Vai se concretizando então, aos trancos e barrancos, mas com sucesso, o plano de terceirizar o transporte de astronautas à baixa órbita terrestre, iniciativa que nasceu no governo Obama e que originalmente deveria ter tido seu primeiro voo em 2015. Com cinco anos de atraso, o momento está chegando.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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